Como é a teoria de Vygotsky e o desenvolvimento na Educação Infantil?
Na área da educação podemos encontrar várias abordagens sobre o desenvolvimento humano, uma delas conta com as pesquisas e conhecimentos do teórico Lev Vygotsky, que desenvolveu seus estudos por meio de análises sócio-históricas e histórica-culturais.
Apesar de já ter falecido há mais de 70 anos, sua contribuição para com a evolução humana ainda é muito utilizada como referência na base estrutural da educação, pois ele discute como nós, seres humanos, adquirimos conhecimento desde o início de nossas vidas.
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ABORDAGEM HISTÓRICO CULTURAL DE VYGOTSKY E O DESENVOLVIMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Lev Semenovich Vygotsky, nasceu na Bielo Rússia em 1896 e morreu em 1934. Em seus poucos anos de vida desenvolveu significativas pesquisas com trabalhos relevantes em várias áreas educacionais, como a aprendizagem escolar, características da infância e educação especial, graças a isso sua abordagem teve/tem uma grande difusão em tudo que diz respeito a educação.
O ponto de partida para o início da pesquisa de Vygotsky, dentro da psicologia, aconteceu no ano de 1917 em meio a Revolução Russa, suas análises consistiam no desenvolvimento humano tendo como base o Materialismo Dialético de Karl Marx, no qual buscava compreender a relação que cada sujeito estabelecia com o mundo em que vivia. Desta forma, a compreensão do desenvolvimento humano psicológico acontece dentro da dimensão histórica e cultural, na qual a essência humana está inserida nas interações sociais estabelecidas.
Esta abordagem supera a questão de que o indivíduo nasce com as aptidões e capacidades já preestabelecidas, o teórico nos mostra a construção de sua essência a partir das relações sociais. Com isso, pode-se afirmar que na abordagem sócio-histórica de Vygotsky, o desenvolvimento do sujeito acontece de fora para dentro, o que difere significativamente da proposta de Piaget, no qual este compreende o desenvolvimento humano de dentro para fora.
Neste entendimento, se o indivíduo não nasce predeterminado, logo a educação que cada sujeito receber contribuirá para a sua formação humana, o que nos permite afirmar que, para Vygotsky, a educação é um processo de humanização do sujeito. Conforme Mello (2004), quando as condições de educação e de vida dos sujeitos são adequadas:
[…] as crianças desenvolvem intensamente, e desde os primeiros anos de vida, diferentes atividades práticas, intelectuais e artísticas e iniciam a formação de ideias, sentimentos e hábitos morais e traços de personalidade que até pouco tempo atrás jamais julgávamos possível (p.135).
A partir desta concepção de Vygotsky e o desenvolvimento na Educação Infantil, o educador tem um papel de extrema relevância, pois ele fará a mediação desta criança com o mundo, a fim de garantir que esta criança se aproprie dos artefatos e aptidões humanas.
Com isso, chegamos numa questão que gera discussões que é a relação entre desenvolvimento e aprendizado. Como citado, o desenvolvimento acontece de forma para dentro, assim compreende-se que é preciso que o sujeito aprenda isso em suas relações externas, para então internalizar e desenvolver-se. Isto significa que nesta linha, “não é o desenvolvimento que antecede e possibilita a aprendizagem, mas, ao contrário, é a aprendizagem que antecede, possibilita e impulsiona o desenvolvimento (MELLO, 2004, p.142)”.
Sobre o processo de aprendizado e desenvolvimento na abordagem de Vygotsky, temos o conceito de zona de desenvolvimento, em que há a ZONA DE DESENVOLVIMENTO REAL e a ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL.
A zona de desenvolvimento real, diz
respeito às etapas já alcançadas, já conquistadas pela criança. São processos de desenvolvimento já consolidados. Já a zona de desenvolvimento proximal, nos refere a capacidade de realizar tarefas com a ajuda de outros mais capazes, ou seja aquilo que a criança não consegue fazer sozinha, mas já faz com colaboração de parceiros mais experientes.
Isso nos indica que existe a possibilidade de alterar o desempenho de uma pessoa a partir da interferência de outra, mostrando a importância da
interação para o desenvolvimento humano. Desta maneira, podemos afirmar que na escola o ensino precisa ter por base a zona de desenvolvimento proximal do aluno, para os estágios ainda não alcançados.
[…] o trabalho educativo deve impulsionar novos conhecimentos e novas conquistas, a partir do nível de desenvolvimento da criança, de seu desenvolvimento consolidado, daquilo que a criança já sabe. Por isso é que Vygostky conclui que o bom ensino não é aquele que incide sobre o que a criança já sabe ou já é capaz de fazer, mas é aquele que faz avançar o que a criança já sabe, ou seja, que a desafia para o que ela ainda não sabe ou só é capaz de fazer com a ajuda de outros (MELLO, 2004, p.144).
Tendo em vista estas características do desenvolvimento humano, cabe ao professor a missão de organizar um planejamento tendo por base as interações que os alunos realizarão para levá-los ao conhecimento.
Periodicidade do desenvolvimento
Na organização dos períodos de desenvolvimento na abordagem histórico cultural de Vygotsky, encontramos três épocas de desenvolvimento: primeira infância, infância e adolescência. Cada uma destas épocas é caracterizada por atividades denominadas de dominantes, que permeiam a forma como este indivíduo apropria-se do mundo social. Faremos um destaque a época da primeira infância e infância.
1. PRIMEIRA INFÂNCIA
Este período que inicia-se no nascimento até aproximadamente os 3 anos, a criança tem como atividade dominante a comunicação emocional direta e a atividade objetal manipulatória.
Comunicação emocional direta
Segundo Vygotsky, no primeiro ano de vida da criança, o adulto é a peça central, pois ele permitirá esta relação social bebê – adulto. Ele não somente irá satisfazer as necessidades desta criança, como terá que apresentar o mundo a ela. Neste período o adulto é quem utilizará de ferramentas culturais para proporcionar e intensificar o desenvolvimento desta criança. O educador deve desenvolver um vínculo emocional positivo com o bebê.
Ações educativas
• Estabelecer relações de comunicação: responder ao choro, gestos, expressões faciais;
• Estabelecer um contato visual e tátil;
• Explorar o desenvolvimento da linguagem;
• conversar com a criança dando espaço para que ela possa responder;
• Repetir os sons que o bebê produz;
• Cantar para o bebê;
• Contar
histórias;
• Ler livros;
• Apresentar objetos para o bebê: estimula a coordenação viso-motora, a concentração visual;
• Nomear os objetos que estão ao redor da criança, mostrando seus usos sociais e suas características físicas (formação dos sistemas sensoriais);
• Auxiliar a criança a explorar o objeto: manipular, apalpar, movimentar;
• Introduzir objetos cada vez mais complexos;
• Organizar o berçário para favorecer a iniciativa da criança e permitir avanços em sua
autonomia de explorar os objetos;
Atividade objetal manipulatória
A partir dos dois anos, a atividade dominante passa a ser a atividade objetal manipulatória. A teoria de Vygotsky indica que a criança passa a assimilar o mundo das coisas, quais os significados e usos sociais dos objetos. No primeiro momento ela realiza ações que já conhece com o objeto: chacoalha, bate, coloca na boca. Depois passa a se apropriar da função do objeto, a partir da orientação e instrução do adulto, imitando apenas o uso aprendido (pentear o próprio cabelo). Num terceiro momento ela passa a fazer o uso livre deste objeto utilizando a ação social em situações sociais (faz de conta…). O professor deve mediar a apropriação da criança apresentado os objetos e instruindo seus usos sociais.
Ações educativas
Atividades com objetos
• empilhar,
• enrolar,
• experimentar,
• colocar objetos
próximos,
• relacionar dois objetos diferentes,
• cor,
• forma,
• textura,
• todos os movimentos possíveis,
Atividades com ações psico-motoras
Rasgar papéis, fazer bolinhas de papel, manipular massa de modelar, tampar e destampar potes. Os adultos que, em atividade conjunta com a criança ensinarão seu uso correto, conscientes de que não basta disponibilizar à criança objetos para livre exploração. Faz-se necessário mediar o processo de apropriação. Neste período também temos início a ampliação do vocabulário da criança: ela passa a buscar no adulto as informações necessárias para descobrir a função dos objetos.
2. INFÂNCIA
Para Vygotsky, a transição da 1ª infância para a infância é marcada por mudanças significativas no modo de ser e agir da criança, o que corresponde a um de período de crise. A criança está em busca de motivações, a crise representa mudanças. A criança mostra-se resistente aos adultos, quer tudo na hora, não sabe esperar, não aceita os limites impostos. Estas características são indícios de um momento de passagem.
Atividade dominante: jogo de papéis/ faz de conta.
A brincadeira vem para satisfazer as necessidades da criança de agir no mundo. E ela passa a reproduzir as ações do adulto por meio do lúdico, em suas brincadeiras. As relações humanas são a essência da brincadeira, por isso elas brincam de pai, mãe, filho, professor, motorista… tudo que há em seu entorno.
Ações educativas
• Organizar e proporcionar espaços para as brincadeiras infantis;
• Cabe ao professor organizar este momento do jogo de papéis;
• Disponibilizar brinquedos temáticos, que
incentivem a representação de papéis sociais: panelinhas, utensílios de cozinha, móveis de casa, carrinhos, ferramentas, bolsas, giz, quadros, fantasias; pentes;
• Ensine a criança a brincar, nomeando suas ações e o papel que a ação representa (você está cozinhando, está brincando de cozinheira?);
• Explorar atividades que exijam a produção da criança como: colagem, modelagem, pinturas. Com intuito de desenvolver a capacidade de planejamento da ação. Ao planejar o seu agir passa a
superar sua impulsividade.
Referências
MELLO, Suely Amaral de. A escola de Vygotsky. In CARRARA, K. Introdução à Psicologia da Educação. São Paulo: Avercamp, 2004.
Redação Ênfase Educacional