Onde se localiza o maior sítio arqueológico com figuras rupestres do mundo?

Segundo Niéde Guidon, falta de recursos financeiros para dar continuidade ao projeto que vem sendo desenvolvido nos últimos 40 anos no Piauí tem tornado impossível manter funcionários, veículos e máquinas necessários para os trabalhos

Claudia Regina / Flickr CC

Boqueirão da Pedra Furada, um dos pontos mais conhecidos da Serra da Capivara

Depois de 40 anos desenvolvendo pesquisas e buscando fundos para manter o Parque da Serra da Capivara, no Piauí, que tem “a maior concentração de sítios com pinturas rupestres do mundo, um meio ambiente muito rico, ainda não completamente estudado e monumentos geológicos fantásticos”, a arqueóloga Niéde Guidon é categórica ao afirmar que não vislumbra “nenhum” futuro para os projetos que vêm sendo desenvolvidos até então.

A falta de recursos financeiros para dar continuidade ao projeto que vem sendo desenvolvido nas últimas quatro décadas tem tornado impossível “manter um corpo permanente de funcionários, os veículos e máquinas necessários para os trabalhos”, informa. Na avaliação de Niéde, a atual situação do Parque da Serra da Capivara é o claro exemplo de que “o problema é que no Brasil há muitas leis, mas não são fornecidos recursos para que as mesmas sejam aplicadas. E geralmente os parques nacionais nunca recebem o necessário para sua manutenção. Por exemplo, aqui na Serra da Capivara, há somente dois funcionários e cerca de 23 guardas, mas estes são terceirizados”.

Na entrevista a seguir, a arqueóloga conta sua trajetória desde que iniciou suas pesquisas no Museu do Ipiranga (quando à época organizou uma exposição sobre pinturas rupestres do Brasil), sua dedicação e sua luta para preservar os 50 sítios com pinturas rupestres que encontrou no Piauí e seu desapontamento com os rumos que esse projeto vem tomando nos últimos anos. “Construímos um parque de primeiro mundo, único nas Américas, e tudo vai ser destruído!”, lamenta.

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Niéde Guidon é graduada em História Natural pela USP e especializou-se em arqueologia pré-histórica pela Sorbonne, França. Desde 1973 integra a Missão Arqueológica Franco-Brasileira, concentrando no Piauí seus trabalhos, que culminaram na criação do Parque Nacional Serra da Capivara. Atualmente é Diretora Presidente da Fundação Museu do Homem Americano.

Confira a seguir trechos da entrevista.

Em que consistiu seu projeto para a proteção da Serra da Capivara, quando a senhora veio da França para o Brasil? Pode nos falar do início dessa experiência e sobre qual era sua expectativa com esse projeto quando se mudou para o Brasil?

Niéde Guidon: Em 1963 eu trabalhava no Museu do Ipiranga e organizei uma exposição sobre as pinturas rupestres do Brasil. Naquela época somente as de Minas Gerais eram conhecidas. Um visitante pediu para falar com o responsável e me chamaram. Ele me mostrou fotos dizendo que na região onde morava havia o mesmo tipo de pinturas de índios. Vi que eram diferentes das de Minas e ele me explicou que existiam no sudeste do Piauí, no município de São Raimundo Nonato e me explicou como vir até aqui.

Nas minhas férias, em dezembro, vim de carro, mas as chuvas haviam sido violentas e uma ponte do rio São Francisco havia rodado e foi impossível passar.

Em 1964 deixei de trabalhar no Museu e em 1965 me mudei para a França, onde comecei a trabalhar na pesquisa arqueológica e fiz concurso passando a ser professora da École des Hautes Études en Sciences Sociales em Paris.

Em 1973 consegui recursos para uma primeira missão de pesquisa no Piauí. Dessa missão participaram duas colegas da USP. Descobrimos mais de 50 sítios com pinturas rupestres. Graças a esses resultados consegui recursos para uma nova missão em 1975 e, em 1978, para uma missão interdisciplinar, da qual participaram cientistas brasileiros e franceses, arqueólogos, geólogos, botânicos, zoólogos, antropólogos.

Otavio Nogueira / Flickr CC

Uma das pinturas rupestres presentes nos sítios arqueológicos da serra da Capivara

Com os resultados dessas missões a França decidiu criar a Missão Permanente do Piauí, financiada pelo Ministère des Affaires Etrangères, e fui chefe dessa Missão até minha aposentadoria. Atualmente ela é dirigida por um colega professor em Paris, Eric Boeda, que continua a vir durante os meses de férias na França, com seus alunos.

Diante dos resultados da missão de 1978, os pesquisadores participantes fizeram um relatório dirigido ao governo brasileiro, solicitando que fosse criado um parque nacional para proteger a região, rica em vestígios arqueológicos, mas também com riquezas naturais que deviam ser protegidas.

O Parque Nacional Serra da Capivara foi criado em 1979, mas durante mais de 10 anos foi um parque no papel, sem nenhum funcionário nem proteção.

Diante dessa situação os pesquisadores que vinham anualmente fazer pesquisa aqui decidiram criar a Fundação Museu do Homem Americano, com a finalidade de proteger o parque e construir um museu na cidade para abrigar as coleções de vestígios arqueológicos e paleontológicos resultantes das escavações. A Fundação foi criada em 1986.

As pesquisas continuaram, eu anualmente vinha com meus alunos e, finalmente, em 1990 sugerimos ao Itamaraty que fosse pedido o título de Patrimônio Cultural da Humanidade face aos resultados das pesquisas, escavações, datações. Em 1991 a Unesco incluiu a Serra da Capivara na lista dos sítios tombados.

O governo brasileiro solicitou, então, ao governo francês que eu fosse emprestada para preparar o projeto para a proteção desse patrimônio. A França concordou e, em 1992, eu vim, comissionada para cá, onde estou até hoje.

Que iniciativas foram tomadas no sentido de proteger o Parque da Serra da Capivara ao longo desses anos em que o projeto está em funcionamento?

A Fundação, em 1989, conseguiu o apoio da Fundação Banco do Brasil e fizemos a primeira passarela no Boqueirão da Pedra Furada. Somente em 1995 conseguimos recursos, a fundo perdido, do Banco Interamericano de Desenvolvimento para a infraestrutura. A partir daí começou nossa luta constante para conseguir recursos para completar e manter a infraestrutura turística e de proteção. Pela Lei Rouanet conseguimos apoios importantes (Vale, CHESF), sendo o maior o da Petrobras.

Em que consistia a parceria entre Brasil e França em relação ao Parque da Serra da Capivara? Essa parceria ainda existe?

A parceria com a França é para a pesquisa e continua até hoje.

Otavio Nogueira / Flickr CC

Ponto conhecido como Caldeirão do Gado, na serra da Capivara 

Como o seu projeto foi visto pelo governo federal e estadual ao longo desses anos?

O governo federal às vezes ajudou, mas nunca de maneira a nos outorgar um orçamento fixo que permitisse a manutenção do corpo de funcionários necessário para manter a proteção do parque. O governo estadual colaborou algumas vezes, inclusive nos enviou recursos em 2014 e 2015 para tentar impedir que um maior número de funcionários perdesse o emprego.

Quais têm sido as principais dificuldades em manter o projeto desenvolvido no Parque até então?

A impossibilidade de manter um corpo permanente de funcionários, os veículos e máquinas necessários para os trabalhos.

Que avaliação faz das políticas públicas ambientais brasileiras para áreas como a do Parque da Serra da Capivara? Em relação à fiscalização e manutenção de parques, quais são os principais desafios?

O problema é que no Brasil há muitas leis, mas não são fornecidos recursos para que as mesmas sejam aplicadas. E geralmente os parques nacionais nunca recebem o necessário para sua manutenção. Por exemplo, aqui na Serra da Capivara, há somente dois funcionários e cerca de 23 guardas, mas estes são terceirizados.

Qual a importância científica do Parque, considerando seus sítios arqueológicos e paleontológicos? Nesse sentido, pode nos dar um panorama de quais foram as principais pesquisas realizadas no Parque da Serra da Capivara, tanto em relação às pinturas rupestres quanto à paleontologia e arqueologia?

Neste parque temos a maior concentração de sítios com pinturas rupestres do mundo, um meio ambiente muito rico, ainda não completamente estudado, monumentos geológicos fantásticos. A fauna, até cerca de 4.000 anos atrás, tinha animais gigantescos, como a preguiça gigante, o Toxodonte e outros.

Otavio Nogueira / flickr CC

Pinturas rupestres no Boqueirão da Pedra Furada

Como instituições de pesquisa brasileiras, seja institutos ambientais, universidades, ou outras, veem e se relacionam com o Parque da Serra da Capivara?

Muitas! A Universidade de São Paulo, a Fiocruz, a Universidade Federal de Pernambuco, a Universidade Federal do Piauí, a Universidade Federal do Vale do Rio São Francisco, o Instituto Butantã e muitas outras.

Qual é o legado e o patrimônio cultural e ambiental do Parque da Serra da Capivara?

Único e imenso! As pesquisas mostraram que os povos que aqui viviam tinham tecnologia e cultura idêntica às dos povos da Europa e da África. O meio ambiente é único, caatinga, mas nos vales profundos e úmidos do planalto ainda há espécies animais e vegetais típicas da floresta amazônica, enquanto na planície ainda sobrevivem espécies da mata atlântica.

Qual é a situação do Parque da Serra da Capivara neste momento?

Com menos de 50 funcionários e, das 28 guaritas, somente 12 funcionando, estamos vendo o fim se aproximando.

Que relação a população que vive no entorno tem com o Parque?

Ótima, eles sabem que do parque depende o futuro de todos!

Recentemente a senhora declarou que o projeto para proteção da Serra da Capivara foi “um fracasso total”. Por que faz essa avaliação?

Porque lutamos muito, construímos um parque de primeiro mundo, único nas Américas, e tudo vai ser destruído!

Que futuro vislumbra para o Parque da Serra da Capivara?

Nenhum.

Entrevista original publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos.

Ultradireita pode ser decisiva em eleições em Israel

Pleito pode derrubar premiê Yair Lapid e proporcionar o retorno de Benjamin Netanyahu ao governo – com apoio extremista

O ex-primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu faz sua campanha eleitoral no assim chamado "Bibi-Bus", um caminhão dotado de para-brisas blindados, a partir do qual ele pode falar em segurança às multidões. "Bibi" é seu apelido para os adeptos.

Na manhã desta segunda-feira, numa livraria de um centro comercial na cidade litorânea de Netanya, ele assinava seu recém-lançado Bibi: My story. O político de 73 anos, possivelmente o mais polêmico de Israel, concorre a mais um mandato como chefe de governo no pleito legislativo desta terça-feira (01/11).

Netanyahu atualmente responde a três processos por corrupção. Assim como em ocasiões anteriores, a eleição é uma espécie de referendo sobre se o premiê israelense de mais longa data e líder do partido conservador Likud é capaz de retornar ao poder. Seu adversário é o atual chefe de governo interino, Yair Lapid, fundador da sigla centrista Yesh Atid.

"Esta eleição gira em torno da instabilidade política de Israel. É o mesmo problema que vimos tendo há alguns anos", observa Tal Schneider, correspondente político do jornal Times of Israel.

Entre o liberalismo de Lapid e o nacionalismo de Netanyahu

Pesquisas de intenção de voto têm também indicado a ascensão da extrema direita, com a qual Netanyahu poderá ter que contar para formar um governo. "Estas eleições são do liberalismo contra o nacionalismo. As grandes ideias são personificadas por duas figuras: liberalismo com Lapid e sua ala, nacionalismo com Netanyahu", comenta Maoz Rosenthal, professor da Escola Lauder de Governo, Diplomacia e Estratégia do Centro Interdisciplinar (IDC).

Este pleito, o quinto em menos de quatro anos, foi convocado em junho depois que o governo desmoronou, tendo perdido sua maioria apertadíssima após o primeiro ano no poder. Tratava-se de uma coalizão composta por oito legendas ideologicamente diversas, de direita, centro e esquerda, além de um partido árabe. Reunidas acima de tudo pelo desejo de derrubar Netanyahu, elas pouco tinham em comum do ponto de vista político.

Lapid foi um dos principais arquitetos da coalizão recém-dissolvida. Seus adeptos torcem para que ele se eleja como novo premiê. "Queremos paz, e esse partido [Yesh Atid], esse governo passado nos deu paz, tivemos calma", comentou Dalia Grau, de 78 anos, num evento de campanha em Kibbutz Afek, no norte do país.

Tania Kraemer/DW
Preparando o 'comeback': Benjamin Netanyahu assina seu 'Bibi: My story'

Apesar das sondagens constantes, é extremamente difícil prever o resultado do pleito. Segundo as mais recentes, o bloco liderado por Netanyahu, de partidos extremistas de direita e ultraortodoxos, estaria prestes a conquistar 61 dos 120 assentos do Knesset. O Likud segue sendo a sigla mais forte, com 31 postos, mas perdeu votos para a aliança ultradireitista Sionismo Religioso.

O bloco de Lapid tem aparecido consistentemente um pouco atrás, apesar de o próprio Yesh Atid ter chances de obter 24 assentos. Algumas legendas estão perigosamente perto de não alcançar o mínimo de 3,25% dos votos.

Tem também atraído a atenção a questão do comparecimento às urnas, sobretudo dos árabes israelenses ou cidadãos palestinos de Israel, que compõem cerca de 20% da população. Uma participação mais alta desse grupo beneficiaria o bloco direita-centro-esquerda de Lapid, enquanto uma mais baixa seria vantajosa para o ex-premiê.

Ultradireita em ascensão

A ascensão da extrema direita pode ser decisiva nesse escrutínio, impelindo Netanyahu a se aliar com a aliança Sionismo Religioso. Itamar Ben-Gvir, líder do partido Otzma Yehudit, costumava contar como figura marginal da extrema direita, mas sua popularidade cresceu, e hoje o advogado de 46 anos é o garoto-propaganda de uma futura coalizão conservadora, ultranacionalista.

As sondagens atuais indicam que o Sionismo Religioso pode conquistar até 14 vagas no Knesset, tornando-se a terceira maior bancada. "Pela primeira vez, a ultradireita poderá estar em posições realmente influentes", analisa Rosenthal, do IDC, frisando que Israel vem escorregando continuamente para a direita nos últimos anos. "Então o que é novo nesse partido? Estamos falando de nacionalistas, antiliberais, de gente que jurou diminuir o poder dos tribunais e que está totalmente comprometida com os valores religiosos judaicos."

Ben-Gvir, que integra o Knesset desde 2021, tem um longo histórico de posicionamentos extremos e incitação racista, pelos quais foi indiciado no passado. Embora tendo abrandado um pouco sua retórica na atual campanha, ele costumava reivindicar a expulsão dos terroristas árabes e suas famílias, assim como de cidadãos "desleais". Seu partido exige a anexação de toda a Cisjordânia.

Certos analistas especulam que Benny Gantz, líder do recém-fundado Partido da Unidade Nacional, centrista, poderá se associar a um governo encabeçado por Netanyahu, dependendo do resultado das urnas. Apesar de ter assegurado na campanha que não faria, tal coisa, a meta de Gantz seria "contrabalançar" o Sionismo Religioso.

Outra especulação é que Lapid possa tentar formar um governo de minoria. Com tantas incógnitas e a poucas horas da abertura das urnas, os primeiros resultados das apurações, previstos para as 22h00 (17h00 em Brasília) desta terça-feira, serão uma indicação preliminar de qual direção Israel poderá tomar.

Onde fica o maior parque rupestre do mundo?

Situado na sede da Fumdham, o Museu foi criado para divulgar a importância do patrimônio cultural deixado pelos povos pré-históricos na região.

Onde fica o maior sítio arqueológico do mundo?

Angkor Wat, Camboja Atualmente, o local é um enorme parque de 400 quilômetros quadrados que abriga ruínas de templos, fortificações, obras e estradas hidráulicas.

Onde estão localizados os principais sítios de arte rupestre?

Os principais sítios de arte rupestre estão localizados na França, norte da Espanha, Itália, Portugal e Alemanha.

Que sítio arqueológico concentra a maior quantidade de pinturas rupestres do mundo e os vestígios encontrados datam de aproximadamente 50 mil anos atrás?

Parque Nacional da Serra da Capivara Muitos artefatos localizados lá datam de 50.000 anos e as pinturas rupestre possuem datações entre 17.000 e 25.000 anos.

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