Quais as causas mais frequentes dos deslizamentos de terra e suas consequências?

Riscos de deslizamento de encostas e de enchentes urbanas: causas, consequências e algumas medidas preventivas, por Lauro Charlet Pereira e Marco Antônio Ferreira Gomes

RISCOS DE DESLIZAMENTO DE ENCOSTAS E DE ENCHENTES URBANAS: CAUSAS, CONSEQUÊNCIAS E ALGUMAS MEDIDAS PREVENTIVAS.

Lauro Charlet Pereira1

Marco Antônio Ferreira Gomes2

O solo é um recurso natural básico, importante no equilíbrio ambiental e também nos diferentes setores empresariais e da vida humana, como: produção de alimentos, moradia, recreação, construção civil, planejamento de uso e traçado de estradas, dentre outros. Este recurso, quando usado ou manejado indevidamente, tem na erosão um dos principais vetores de degradação, destruição e prejuízos, inclusive com riscos à vida, principalmente animal e humana.

A erosão é um processo de deslocamento de terra ou de rochas de uma superfície, tendo a chuva como principal agente, sobretudo nas regiões de clima tropical quente e úmido, predominantes no Brasil. De um modo geral, a erosão pode causar grandes prejuízos de ordem econômica, ambiental e social, tanto no meio rural quanto urbano. No primeiro caso, refere-se às perdas de solos agricultáveis, que ao serem arrastados levam junto a camada superficial, rica em matéria orgânica e nutrientes, resultando em queda da produção agrícola, diminuição de ganhos econômicos da propriedade, além de eventuais riscos de contaminação de rios e mananciais. Nas cidades, a erosão do solo também pode contribuir para inúmeros danos ambientais, econômicos e sociais, decorrentes de assoreamento de rios e consequentes enchentes; deslizamento de encostas ou vertentes e escarpas; soterramento de casas e mortes de pessoas; fechamento de rodovias, ferrovias e outras vias de transportes, dentre outras.

Este trabalho foi elaborado a partir de revisão de literatura, complementada por observações de campo e experiências dos autores, principalmente no que tange aos aspectos pedológicos, geológicos e climáticos. Tem como objetivo principal fazer uma reflexão técnica sobre eventos ou catástrofes recorrentes no meio urbano, envolvendo os chamados movimentos de massa, também conhecidos popularmente por deslizamentos, a partir de encostas/taludes naturais ou construídos, bem como fazer uma análise das causas e consequências desses eventos para os cursos d’água e também para as populações mais expostas, localizadas nos vales e áreas de várzea. Dentro desse contexto, o trabalho procura, ainda, reunir um conjunto de sugestões voltadas à prevenção e/ou mitigação dos impactos decorrentes.

Deslizamento de encostas e enchentes urbanas

As cidades são os espaços onde vive a maior parte da população e dependendo de sua fisiografia (aspectos físicos ambientais) e vulnerabilidades ambientais, podem ocorrer deslizamentos de encostas e enchentes, assim como processos erosivos, que devem merecer atenção de órgãos públicos, empresas privadas, instituições de pesquisa, enfim, todos os setores responsáveis pela ocupação urbana sustentável e qualidade de vida da população.

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1/ Engenheiro Agrônomo. Doutor em Planejamento e Desenvolvimento Rural Sustentável, Pesquisador da Embrapa Meio Ambiente. Rod. SP 340, Km 127,5. Caixa Postal 69. Tanquinho Velho, Jaguariúna/SP. 13.820-000. E-mail:

2/ Geólogo; Pedólogo. Pesquisador da Embrapa Meio Ambiente. Rod. SP 340, Km 127,5. Caixa Postal 69. Tanquinho Velho, Jaguariúna/SP. 13.820-000. E-mail:

Os deslizamentos encontram-se associados tanto aos processos erosivos quanto aos “movimentos de massa”, sendo este caracterizado por deslocamento de rochas ou sedimentos em superfícies inclinadas, podendo estar relacionados à ação da gravidade (natural), ou ação antrópica. Já os processos erosivos, estão associados a perdas de solos, principalmente, em áreas com inclinação variável.

Assim sendo, tecnicamente deve ser reforçado o alerta para estes problemas urbanos recorrentes (erosão, deslizamentos e enchentes), com seus respectivos impactos, não só para identificar as causas e consequências, mas sobretudo para encontrar medidas que visem a prevenção e/ou minimização de inúmeros prejuízos econômicos, ambientais e sociais, inclusive com perdas de vidas. Deste modo, tem-se:

a) Fatores causadores

– Inclinação/declividade acentuada do terreno, conjugada com comprimento de pendente, que impulsionam a água da chuva com forte potencial de arraste e destruição;

– Espessura do solo, até o maciço rochoso, pois os solos rasos são naturalmente mais instáveis, além da baixa capacidade de absorver e armazenar água. Estes, quando muito encharcados de água, pesados e lamacentos, se soltam das rochas e deslizam levando junto árvores, fragmentos de rochas e casas, além de vidas e outros bens materiais;

– Desmatamento e ocupação de encostas, que somados às chuvas intensas, constituem uma combinação perfeita para tragédias, principalmente em áreas de solos rasos e declividades elevadas, como são comuns em regiões serranas de vários estados brasileiros;

– “Movimentos de massa”, associados à deslizamentos e desmoronamentos, que são caracterizados por deslocamentos de rochas ou sedimentos em superfícies inclinadas;

– Ocupação intensa (elevada densidade populacional) e desordenada do solo, nas margens de rios e/ou encostas, consideradas áreas de preservação permanente (APP’s);

– Frágeis construções de moradias, localizadas em áreas de declive acentuado e solos rasos;

– Precariedade nos processos de prevenção, assim como na fiscalização de ocupações de encostas e outros ambientes de riscos;

– Além da espessura, a elevada suscetibilidade do solo à erosão (erodibilidade), também é um fator que deve ser relacionado aos riscos ambientais;

– As chuvas, tanto em termos de intensidade (quantidade de chuva por unidade de tempo), quanto de duração, podem ser importantes fatores desencadeantes nos deslizamentos de encostas, enchentes e solapamento (erosão) de áreas, tornando-as ainda mais vulneráveis às catástrofes urbanas;

– A impermeabilização da superfície dos solos e o desrespeito às condições topo-pedo-geológicas, combinados com a cobertura vegetal insuficiente, são fatores relevantes que além de romper o ciclo natural, contribuem para a ampliação de riscos de catástrofes e insustentabilidade de moradia no meio urbano (DA SILVA & MAGALHÃES, 1993)

b) Consequências

– Dentre as diversas consequências, tanto de ordem econômica, quanto social e ambiental, priorizou-se por abordá-las sob duas condições de ocorrências e impactos: a primeira refere-se aos deslizamentos de encostas, que tem grande poder de destruição, dado ao enorme volume de terras e/ou lamas, acompanhado de rochas e vegetação, que descem morro abaixo. Em geral destroem casas e outros bens materiais, culminando, muitas vezes, com perdas de vidas. A outra condição, refere-se aos processos erosivos e enchentes, que pode estar associada à primeira, ou não, provocando acúmulo de enxurradas nas vias públicas, entupimento de bueiros e canais de drenagem, aumento de escoamento superficial da água, que ao migrar para as áreas/terrenos mais baixos causam grande caos urbano, como: alagamentos generalizados, perdas de casas e bens materiais, perdas de vidas humanas, interdição de estradas, ruas e avenidas e túneis, dentre outros.

c) Algumas medidas de prevenção ou de mitigação

– Mapeamento das áreas frágeis, a partir de uma classificação de risco (muito alto, alto, médio, baixo, muito baixo), considerando-se, por exemplo: áreas habitadas e não habitadas; topos de morros, encostas, várzeas (APP’s); solos rasos; solos nus, sem cobertura vegetal;

– Revisão do plano diretor, com incrementos de monitoramento e estabelecimento de ações de curto, médio e longo prazo;

– Estabelecimento de um plano de prevenção (previsão climática), combinado com um sistema de alerta;

– Plano de contingência (preventivo, preditivo e reativo), com estratégias operacionais, a fim de se antecipar a problemas, avaliar ocorrências e controlar situações de emergências;

– Reassentamento de famílias em áreas estáveis, dotadas de boa condição topo-pedológica, além de adequada infraestrutura de drenagem e galerias de águas pluviais;

– Realizar o reflorestamento de áreas devastadas, sobretudo em áreas de encostas e solos rasos; e

– Estabelecimento de rigor máximo nos licenciamentos, a fim de evitar novos impactos e danos ambientais, sociais e econômicos, e, sobretudo, preservar a vida humana.

Considerações Finais

Quando se trata de deslizamento de encosta, enchente e erosão do solo, em meio urbano, significa dizer que não se pode atribuir apenas a um fator causador.

Na verdade, em geral os eventos de maior ou menor gravidade, decorrem da ação ou reação combinada de vários fatores: naturais, antrópicos, de legislação e gestão pública, principalmente. Assim sendo, a educação ambiental, com seu caráter de transversalidade, deve ser priorizada em todos os níveis, envolvendo os legisladores, gestores públicos e a população em geral.

De outro modo, é perceptível a crescente intensificação da ocupação urbana, o que tem dificultado a adoção de políticas públicas, combinando a organização social com o respeito ambiental. Em decorrência disso ocorre, muitas vezes, uma ocupação de forma desorganizada, sem a devida preocupação com a qualidade paisagística, segurança de moradia e bem estar de seus habitantes (DA COSTA & CINTRA, 1999).

Assim sendo, considerando-se a abrangência dos danos (ambientais, sociais e econômicos) e seus respectivos transtornos no meio urbano, deve-se priorizar sempre as ações de caráter preventivo, pois estas são bem menos onerosas e menos traumáticas do que a reconstrução e assistência às vítimas, sem mencionar os casos de perdas de vidas, pois estas não podem ser precificadas.

Referências Bibliográficas

SILVA, R. S. da; MAGALHÃES, H. Ecotécnicas urbanas. Ciência & Ambiente, Santa Maria, v. 4 n. 7, 1993.

COSTA, S. M. F.; CINTRA, J. P. Environmental analysis of metropolitan areas in Brazil. Photogrammetry & Remote Sensing, Stuttgart, v. 54, n.1, 1999.

in EcoDebate, 09/12/2016

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Quais as causas mais frequentes dos deslizamentos da terra e suas consequências?

As causas dos deslizamentos de terra estão especialmente ligadas à ação antrópica, por meio da ocupação irregular do solo, além da retirada da vegetação nativa. Os tipos de deslizamentos de terra variam conforme o material de origem e a movimentação do objeto natural.

Quais são as principais causas dos deslizamentos de terra?

Eles são causados por fatores naturais, condicionados pelas fortes chuvas e pelas características relativas ao solo e ao relevo, e também por fatores antrópicos, entre os quais estão o desmatamento de encostas e as construções em áreas irregulares.

Quais são as consequências dos deslizamentos de terra?

Um deslizamento de terra pode destruir casas, destruir uma estrada ou desencadear eventos mais catastróficos, como inundações, se ocorrerem no lugar errado e na hora errada.

O que causa os deslizamentos de terra no Brasil?

Resumo sobre deslizamentos de terra no Brasil Eles são causados por fatores de ordem natural e também antrópica. Os fatores antrópicos dizem respeito à urbanização desordenada, por meio da ocupação de encostas de morros e serras, e ao desmatamento, principalmente.

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