Qual a diferenca entre arte e artesanato

Um monte de gente confunde arte e artesanato. Seria a mesma coisa? Qual a diferença? Arte tem que ser feita por artistas? Tudo que é feito manualmente entra na categoria artesanato?

Nesse vídeo superbreve – menos de três minutos! – falo um pouco sobre o tema, mostrando historicamente em qual momento a arte e o artesanato se separam, assim como o que caracteriza cada um. Também explico os temos “belas artes”, “artes menores” e “artes maiores”, ligados ao assunto.

No próximo vídeo do canal, discutiremos – digo discutiremos, pois realmente espero a opinião dos espectadores – a polêmica do momento: a exposição Queermuseu, no espaço expositivo do Banco Santander em Porto Alegre, que foi fechada antes do prazo esperado devido a críticas e protestos.

Por enquanto, o que é arte e o que é artesanato:

//www.youtube.com/watch?v=ewWDl-YnjHs

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Esta coluna nasce da minha vontade de apresentar um assunto que faz parte da minha vida desde sempre e que abraça uma grande parcela da população brasileira: a cultura feita à mão – nome que batiza esse espaço de comunicação que acaba de nascer, aqui na Casa Vogue. Quinzenalmente, abordarei pontos que considero importantes e que venho trabalhando nestes 15 anos de atuação profissional e de pesquisa acadêmica.

Essa sou eu, bem moleca e feliz, na oficina de casa (Foto: Sergio Cabral)

Minha intenção é clarear os caminhos para que descubramos juntos o universo de texturas, cheiros e identidades deste nosso Brasil. Um jeito de cuidar do que é nosso, valorizar nossa cultura e principalmente dar protagonismo aos inúmeros personagens, produtos e técnicas oriundas das mãos da nossa terra.

Começo trazendo um tema bastante discutido por pesquisadores e especialistas. Se você fizer uma busca rápida, encontrará muitos artigos e reportagens que listam, ponto a ponto, as diferenças entre o artesanato, a arte e o design – e o meu objetivo aqui é falar disso da maneira mais simples possível.

Desde o início das civilizações os seres que nelas habitavam eram, antes de mais nada, fazedores. Nossos ancestrais sobreviveram ao longo de toda a história da humanidade por terem a habilidade de construir, executar, fabricar – desde utensílios até suas próprias casas. Minha família, por exemplo, é composta por artesãos e artesãs, os homens na madeira, as mulheres nos fios e tecidos. Construíam e constroem coisas pra uso próprio, mas também para seu sustento. Tenho o privilégio de poder ter sido artesã ainda criança, muito antes de me tornar designer.

Hoje, habitamos um mundo onde se constrói muito pouco com as mãos, porém é possível ter acesso a tudo o que precisamos – e, inclusive, a tudo o que acumulamos sem precisar. Ter consciência das semelhanças e diferenças entre áreas nos auxilia a sermos mais vigilantes, mais críticos e também mais atuantes. Não adianta nos movimentarmos em uma estrada sem sabermos para onde estamos indo. Isso serve para quem produz, para quem atua e para quem compra.

Produção da coleção Imigrante, que lancei em 2017, em vime e metal. (Foto: Acervo pessoal/Nicole Tomazi)

Eu, por exemplo, por muitas vezes me senti perdida ao olhar um produto e não conseguir entender onde ele se encaixava. Por causa disso resolvi pesquisar e estudar e hoje consigo ter uma visão ampla e, inclusive, abraçar o desconhecido que muitas vezes se apresenta em frente dos meus olhos.

Estas três áreas se relacionam entre si, criando espaços estranhos entre elas, espaços onde tudo se mistura. É como quando estamos na beira da praia: se estamos na areia, sentimos seus grãos em nossos pés, se estamos flutuando no mar, sentimos a água envolvendo nosso corpo. Mas e quando estamos ali, na primeira onda? Pés na areia, água batendo nos joelhos, estamos em um terceiro lugar, onde dois universos se interceptam. Assim é quando arte, artesanato e design se encontram.  Mas em que momento sabemos que estamos em um ou em outro?

Minha carteirinha de artesã, emitida com muito orgulho em 2007, quando comecei a trabalhar e pesquisar o Design e Artesanato (Foto: Acervo pessoal/Nicole Tomazi)

O artesanato faz parte da manifestação cultural de um povo. Dentro dele estão todos os produtos resultantes da ação das pessoas em um território, seja por conta de uma matéria-prima, do clima ou ainda do folclore de um lugar. Este resultado aparece em utensílios, objetos decorativos e em tudo aquilo que este povo, ao habitar um lugar, produz a partir dele. Como uma manifestação cultural, o artesanato carrega características identitárias passadas de geração em geração como algo vivo, em constante mutação. Mesmo sendo totalmente ligado à ancestralidade, o artesanato está suscetível às transformações que invariavelmente acontecem no decorrer do tempo, como um reflexo das mudanças do povo que o produz e do território que habita.

O artesanato é feito por artesãos espalhados por todo o Brasil, que criam e produzem com suas próprias mãos os produtos particulares de sua cultura. Trabalham muito em grupos e se relacionam intimamente com as características do lugar onde vivem. Sua produção é de baixa escala, apresentando pequenas diferenças entre peças semelhantes, justamente por terem sido feitas à mão, uma a uma.

O artesão se sustenta com a comercialização de sua produção, que muitas vezes se concentra apenas na sua região, passando por todas as questões de desvalorização do trabalho manual e da própria cultura (isso é um assunto importante que merece um outro artigo).

Obra do artista sergipano Véio, que cria esculturas de figuras antropomórficas com galhos de madeira (Foto: João Liberato)

Mas aí surge o Véio e pronto: pés na areia, água nos joelhos. Ernesto Neto, a mesma coisa.

Embora usem técnicas artesanais, criam peças de arte, vendidas a preço de arte. Colocam sua expressão acima da própria produção e usam a técnica como suporte para gerar em nós sensações e emoções.

A arte se comporta desta maneira. Não existe uma demanda de uso para que ela ocorra, mas sim a necessidade de expressão do próprio artista. Ela pode estar ligada diretamente ao território e à cultura, porém reflete muito mais o sentimento de quem a faz a respeito de sua observação de mundo. Os artistas têm maior liberdade em relação as matérias-primas, são desprendidos da necessidade de utilizar somente os recursos a que têm acesso, podendo ir ao limite para materializar suas intenções.

Ernesto Neto na exposição Sopro, exibida em 2019 na Pinacoteca (Foto: Deco Cury)

Em relação aos artesãos, os artistas são muito mais solitários na criação e produção de suas peças, porém seu alcance é bem maior do que sua própria comunidade. A arte é mais global que o artesanato, mesmo quando representa características específicas de um lugar. Isso não quer dizer que os artistas não têm papel social territorial, pelo contrário, sua postura em muitas vezes é muito mais política, conseguindo apresentar questões sociais importantes através de sua produção.

A instalação Sunflower Seeds (sementes de girassol, em português), de Ai Weiwei, foi inaugurada em 2010 no Tate Modern de Londres. A obra também integrou a exposição Raiz, mostra solo da trajetória do artista que esteve no Brasil em 2018, na Oca, em São Paulo, com curadoria de Marcello Dantas (Foto: Getty Images)

Um exemplo disso é Ai Weiwei. Em muitas de suas obras ele aborda questões que fazem parte de sua história e que estão presentes nos dias atuais transformando suas ideias em peças de madeira, porcelana e plástico, entre outros materiais. Artesãos produzem algumas de suas obras, como a instalação Sunflower Seeds feita com sementes de girassol de porcelana, por exemplo.

Diferente de uma produção de design, estas peças não são seriadas e na maioria das vezes não têm um uso específico, além de serem obras de arte – o que já é bastante coisa. Este é um ponto que por muitas vezes foi difícil entender, até que, em uma conversa com o curador Marcello Dantas, escutei uma frase que reverbera em mim até hoje: “A arte é o design sem função, o design é a arte com função”.

A maneira como o design foi instituído no Brasil – chamado inicialmente de Desenho Industrial – foi com o objetivo de enaltecer essa premissa funcional. O ensino do design surgiu com a herança da escola alemã, extremamente tecnicista e com um propósito claro: servir a indústria para a produção em massa. Foi então que demos as costas a tudo que era manual, considerando apenas os produtos industriais como modelo de qualidade e de design.

Mas aí vêm os Irmãos Campana e de novo: pés na areia, água nos joelhos. Sua produção mistura arte, design e artesanato.

Aqui cabe uma história curiosa: no início da minha carreira, eu era eliminada de todos os concursos de design que me inscrevia. A justificativa? Por terem partes artesanais, meus produtos não eram considerados produtos de design. Porém – e ainda bem –, a roda girou, o mundo evoluiu, o design se abriu e hoje temos atuações mais empáticas e sociais que possibilitam, por exemplo, o surgimento do Design e Artesanato e também do chamado Design Arte. Esta liberdade permite que existam diferentes manifestações dentro de uma mesma área, coexistindo e servindo a propósitos distintos.

Em todos estes séculos, sempre existiram aqueles que criavam movidos pela demanda de uso e aqueles que criavam unicamente pela necessidade de se expressar. Hoje podemos inclusive misturar estas duas coisas. Cabe a nós escolhermos onde almejamos estar, o que desejamos consumir, o que queremos valorizar.

Pés na areia, água nos joelhos.
Coloca o coração e a mente.
Observa.
Dá pra saber, dá pra sentir.

*Nicole Tomazi aprendeu bordado, crochê e tricô com sua avó, quando era criança. O forte vínculo com o território, a cultura local, a ancestralidade e o feminino são a base do seu trabalho e da sua pesquisa pessoal. No ano de 2007 decidiu atuar junto a grupos de artesãos unindo design e artesanato em suas produções, tornando-se uma voz atuante na área. Seus produtos autorais já foram expostos na Semana de Design de Milão em 2009, 2010, 2012, 2013 e 2015, sendo finalista do Salone Satellite por duas vezes, apresentando ao mundo o artesanato brasileiro em suas criações. Ganhadora de prêmios como Casa Vogue Design e Planeta Casa, destaca-se por unir teoria e prática, pesquisando incansavelmente maneiras de valorizar a cultura do trabalho manual do país. Formada em Arquitetura e Urbanismo é Mestra em Design com ênfase em Artesanato, Território e Patrimônio e atualmente forma a dupla Nicole Tomazi + Sergio Cabral.

Qual é a diferença entre arte e artesanato?

Bom, basicamente, a arte plástica é ligada a algum tipo de expressão ou sentimento, e ela representa uma emoção do artista. Já o artesanato, normalmente é feito com o intuito de ser vendido, e é acompanhado de algum tipo de técnica ou habilidade adquiridas ao longo de muita prática.

Qual a relação entre artesanato e arte?

O artesanato é uma parte da técnica da arte, a mais desprezada infelizmente, mas a técnica da arte não se resume no artesanato. O artesanato é a parte da técnica que se pode ensinar mas há uma parte da técnica de arte que é por assim dizer, a objetivação, a concretização de uma verdade interior do artista.

O que é arte o que é artesanato?

O artesanato é uma técnica manual utilizada para produzir objetos feitos a partir de matéria-prima natural. Normalmente, os artesanatos são fabricados por famílias, dentro de sua própria casa ou em uma pequena oficina.

Qual é a diferença entre arte e artesanato e design?

Resposta: o Design é uma atividade que define as características físicas e funcionais necessárias para que um produto possa ser fabricado industrialmente, com a máxima eficácia e qualidade. Artesanato, diferente do design, é um trabalho totalmente manual.

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