Qual e a importância das pesquisas científicas realizadas na Antártica

MM Max Miliano Melo

Isolada, distante, desabitada e sem vida s�o algumas express�es comumente associadas � Ant�rtida, continente gelado no Polo Sul da Terra. Contudo, o que pouca gente imagina � que a regi�o, na verdade, funciona como um grande laborat�rio a c�u aberto. Quase 50 bases cient�ficas permanentes estudam a terra gelada, cuja temperatura m�dia varia entre -30°C e -60°C. Vilas, aeroportos e laborat�rios aut�nomos espalham-se pela �rea, considerada de enorme import�ncia ambiental para o mundo. O frio que volta e meia toma conta do Brasil vem de l�. As baleias que passeiam pela costa nacional durante o ver�o passam boa parte do ano naquelas �guas geladas. E o buraco de oz�nio — uma das principais preocupa��es dos ambientalistas — cobre o c�u ant�rtico, fazendo da regi�o uma das mais cruciais para o equil�brio do planeta.

Para evitar que o interesse das na��es acabasse por prejudicar a regi�o, em 1959, pa�ses de todo o mundo assinaram o Tratado da Ant�rtida (veja Saiba mais). Pelo documento, a zona seria desmilitarizada e todos os pa�ses que pretendem reivindicar parte do territ�rio do continente deveriam suspender qualquer atividade nesse sentido at� 1991. “� em virtude do Tratado da Ant�rtida que a regi�o se tornou um lugar dedicado � paz e � ci�ncia. H� fortes exig�ncias para abertura de informa��es e coopera��o na Ant�rtida, incluindo na ci�ncia”, diz ao Estado de Minas Cath Wallace, pesquisadora da Universidade de Wellington, na Nova Zel�ndia. Quando o tratado chegou ao fim, a comunidade internacional decidiu prorrog�-lo por 50 anos. Assim, pelo menos at� 2041 o local ser� um patrim�nio ambiental mundial.

O continente � uma esp�cie de open data cient�fico. Tudo que for produzido ali deve estar dispon�vel gratuitamente para outros pesquisadores ao redor do mundo. Da mesma forma, qualquer projeto de pesquisa — ou problema — que ocorra na regi�o deve ser comunicado aos demais pa�ses signat�rios do tratado. Al�m disso, mais do que uma possibilidade, a pesquisa cient�fica � uma obriga��o dos signat�rios do acordo. “O regime jur�dico internacional para toda a �rea do planeta ao sul de 60° � o Tratado da Ant�rtida, que tem a peculiaridade de exigir das partes signat�rias um substancial programa cient�fico”, explica Jefferson Sim�es, diretor do Centro Polar e Clim�tico (CPC).

Mudan�as clim�ticas

A preocupa��o internacional para proteger a regi�o est� ligada � sua singularidade ambiental. Ao mesmo tempo que preserva algumas das caracter�sticas tradicionais da Terra — h� camadas de solo intocadas h� milhares de anos sob o gelo —, o local � um dos primeiros a sofrer com as mazelas das mudan�as clim�ticas e do aquecimento global. Um prato cheio para pesquisadores de diversas �reas. “A pesquisa cient�fica � a principal forma de engajamento na Ant�rtida. H� uma s�rie de benef�cios a partir de pesquisas ant�rticas, incluindo o aumento do nosso conhecimento sobre todo o mundo”, dizem Claire Christian e Ricardo Roura, da Coaliz�o para a Ant�rtica e o Oceano do Sul, organiza��o internacional que trabalha na promo��o da pesquisa e preserva��o no continente ant�rtico. “Uma melhor compreens�o das quest�es sobre mudan�as clim�ticas que afetam todo o planeta, depende da Ant�rtida”, completa a especialista.

Assim, como um sistema integrado, as geleiras da Ant�rtida derretem gra�as � fuma�a emitida pelos carros de metr�poles como S�o Paulo ou Pequim. Os peixes que preenchem as redes dos pescadores de Santa Catarina se reproduzem nas ba�as da regi�o gelada. “A Ant�rtida � parte integrante do sistema ambiental terrestre, um dos principais controladores do clima do Brasil”, afirma Sim�es, do CPC. O grupo do especialista mant�m o m�dulo Criosfera-1, um laborat�rio aut�nomo que envia informa��es clim�ticas e ambientais de bem perto do Polo Sul para an�lise de pesquisadores no Brasil. “Modifica��es que l� ocorrem afetam diretamente o nosso cotidiano”, completa ele, tamb�m professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Pa�ses reivindicam parte do territ�rio
Os pa�ses signat�rios do Tratado da Ant�rtida se dividem em tr�s grupos. No primeiro, composto pelos que mant�m reivindica��o territorial no continente, est�o Reino Unido, Argentina, Fran�a, Chile, Noruega, Austr�lia e Nova Zel�ndia. R�ssia e Estados Unidos est�o no grupo com “reserva de direito de reivindica��o territorial”. Isso significa que, embora n�o tenham declarado formalmente o interesse em um territ�rio, podem faz�-lo. Outros pa�ses s�o apenas signat�rios: �frica do Sul, Alemanha, B�lgica, Bulg�ria, China, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Equador, Espanha, Finl�ndia, �ndia, It�lia, Jap�o, Holanda, Pol�nia, Portugal, Su�cia, Turquia, Ucr�nia e Uruguai s�o, por enquanto, apenas signat�rios.

Brasil e Peru tamb�m j� demonstraram interesse em reivindicar partes do continente gelado. O Brasil reservou uma parcela dentro da por��o ocidental — disputada tamb�m por Chile, Argentina e Reino Unido — como “�rea de interesse”, uma classifica��o que demonstra que o pa�s pode, no futuro, reivindicar a regi�o. O Peru j� iniciou o processo de requisi��o de outra fatia do continente, n�o concluindo o pedido formal. Al�m dos dois, os Estados Unidos iniciaram estudos para solicitar parte da Terra de Mary Byrd, regi�o mais isolada do continente ainda n�o reivindicada por nenhum pa�s, como parte integrante de seu territ�rio.