Qual o resultado da urbanização acelerada nos grandes centros urbanos?

A urbanização acelerada, o processo de globalização e a relação com a saúde da população

Release de Margareth Artur para o Portal de Revistas da USP

Atualmente, quando falamos em saúde urbana, necessariamente falamos em qualidade ambiental. Quais os fatores, hoje, responsáveis pelas preocupações diversificadas com a saúde, sempre levando em conta a relação “entre o indivíduo e o meio físico, social e político onde ele vive e se insere”? Essa é questão discutida em artigo publicado na Revista USP, por  Ribeiro e Vargas, que também analisam as relações entre globalização e urbanização mundial; o caso peculiar da urbanização brasileira e seus efeitos na saúde e conflitos de toda ordem, devido aos problemas relacionados a aglomerações de pessoas e veículos; e os efeitos, na sociedade urbanizada, do mundo virtual globalizado.

A combinação do aumento das populações com o desenvolvimento tecnológico provocou, no século XX, uma transformação na constituição das doenças urbanas e provocou um novo conceito de saúde, pois “os determinantes sociais e ambientais das doenças agora estão relacionados a novas formas de adaptação do ambiente, como resultado da ação humana“, explicam as autoras. A partir disso, novas preocupações em relação à saúde apareceram, ligadas à qualidade da vida urbana, ao bem-estar no ambiente, à saúde física e mental, à segurança, à realização pessoal e profissional e também a questões ligadas ao trabalho e custo de vida.

A problemática da ocupação do solo urbano e o aumento de consumo, da urbanização acelerada e incontrolável, pela ausência de gestão e controle, também é colocada em pauta  pelas autoras: “o crescimento   populacional e acesso a serviços e oportunidades, por limitação de recursos naturais e econômicos, leva à degradação do ambiente natural e do construído e à deterioração das relações sociais“. A urbanização é positiva quando proporciona amplitude de recursos, desenvolvimento da economia local, por exemplo, mas, ao mesmo tempo, “também se associa a maiores taxas de criminalidade, suicídio, emissões de dióxido de carbono e problemas mentais“. Assim, na valorização do bem-estar, é necessário melhorar as condições dos locais onde as pessoas vivem e priorizar um compartilhamento consciente dessa necessidade entre os governos, os meios de comunicação, comunidades e setores de saúde.

“Globalização e urbanização caminham juntas“, explicam as autoras, quando se referem ao fato de a população urbana mundial crescer mais do que a população total mundial. E, como “o crescimento urbano tem sido mais expressivo nas megalópoles“, observa-se que as doenças urbanas são maiores quanto maior for o desenvolvimento econômico de um país. Ribeiro e Vargas apontam também a ocupação do solo em áreas inadequadas indevidas, “sob pontes e viadutos, de cortiços e de moradores de rua, com sérios problemas de saúde mental, doenças sexualmente transmissíveis e outras doenças infecciosas“.

São Paulo é acometido dos efeitos da chamada “imobilidade urbana”, com as aglomerações e congestionamentos de trânsito, responsáveis pelo tempo perdido que, além de ocasionarem estresse, afetam a qualidade do ar, provocando doenças e gastos públicos em saúde. E, concluindo, Ribeiro e Vargas também destacam a questão do uso abusivo das mídias virtuais nos centros urbanos, alertando para o hipnotismo, outra espécie de imobilidade, a que as pessoas se submetem, conectados ininterruptamente ao mundo inteiro, no trabalho, em casa, nas ruas, “implicando em alterações metabólicas nos seres humanos, ainda não devidamente estudadas“. Desse modo, toda essa situação exige o “repensar as formas de gestão e controle dos aglomerados urbanos“.

__________________________________________________

Artigo

RIBEIRO, Helena; VARGAS, Heliana Comin. Urbanização, globalização e saúde. “Dossiê Saúde Urbana”. Revista USP, São Paulo, n. 107, p. 13-26, 2018. ISSN: 2316-9036. DOI: //dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i107. Disponível em: //www.revistas.usp.br/revusp/article/view/115110. Acesso em: 02 set. 2018 

Contatos

Helena Ribeiro. Professora do Departamento de Saúde Ambiental, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo. e-mail: 

Heliana Comin Vargas. Professora do Departamento de Projetos, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo. e-mail: 

Margareth Artur – Portal de Revistas da USP

Urbanização é o aumento proporcional da população urbana em relação à população rural. Segundo esse conceito, só ocorre urbanização quando o crescimento da população urbana é superior ao crescimento da população rural.

Somente na segunda metade do século 20, o Brasil tornou-se um país urbano, ou seja, mais de 50% de sua população passou a residir nas cidades. A partir da década de 1950, o processo de urbanização no Brasil tornou-se cada vez mais acelerado. Isso se deve, sobretudo, a intensificação do processo de industrialização brasileiro ocorrido a partir de 1956, sendo esta a principal conseqüência entre uma série de outras, da "política desenvolvimentista" do governo Juscelino Kubitschek.

É importante salientar que os processos de industrialização e de urbanização brasileiros estão intimamente ligados, pois as unidades fabris eram instaladas em locais onde houvesse infra-estrutura, oferta de mão-de-obra e mercado consumidor. No momento que os investimentos no setor agrícola, especialmente no setor cafeeiro, deixavam de ser rentáveis, além das dificuldades de importação ocasionadas pela Primeira Guerra Mundial e pela Segunda, passou-se a empregar mais investimentos no setor industrial.

Êxodo rural

As indústrias, sobretudo a têxtil e a alimentícia, difundiam-se, principalmente nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Esse desenvolvimento industrial acelerado necessitava de grande quantidade de mão-de-obra para trabalhar nas unidades fabris, na construção civil, no comércio ou nos serviços, o que atraiu milhares de migrantes do campo para as cidades (êxodo rural).

O processo de urbanização brasileiro apoiou-se essencialmente no êxodo rural. A migração rural-urbana tem múltiplas causas, sendo as principais a perda de trabalho no setor agropecuário - em conseqüência da modernização técnica do trabalho rural, com a substituição do homem pela máquina e a estrutura fundiária concentradora, resultando numa carência de terras para a maioria dos trabalhadores rurais.

Assim, destituídos dos meios de sobrevivência na zona rural, os migrantes dirigem-se às cidades em busca de empregos, salários e, acima de tudo, melhores condições de vida.

População urbana

Atualmente, a participação da população urbana no total da população brasileira atinge níveis próximos aos dos países de antiga urbanização da Europa e da América do Norte. Em 1940, os moradores das cidades somavam 12,9 milhões de habitantes, cerca de 30% do total da população do país, esse percentual cresceu aceleradamente: em 1970, mais da metade dos brasileiros já viviam nas cidades (55,9%). De acordo com o Censo de 2000, a população brasileira é agora majoritariamente urbana (81,2%), sendo que de cada dez habitantes do Brasil, oito moram em cidades.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 2005 o Brasil tinha uma taxa de urbanização de 84,2% e, de acordo com algumas projeções, até 2050, a porcentagem da população brasileira que vive em centros urbanos deve pular para 93,6%. Em termos absolutos, serão 237,751 milhões de pessoas morando nas cidades do país na metade deste século. Por outro lado, a população rural terá caído de 29,462 milhões para 16,335 milhões entre 2005 e 2050.

O processo de urbanização no Brasil difere do europeu pela rapidez de seu crescimento. Na Europa esse processo é mais antigo. Com exceção da Inglaterra, único país que se tornou urbanizado na primeira metade do século 19, a maioria dos países europeus se tornou urbanizada entre a segunda metade do século 19 e a primeira metade do século 20. Além disso, nesses países a urbanização foi menos intensa, menos volumosa e acompanhada pela oferta de empregos urbanos, moradias, escolas, saneamento básico, etc.

Em nosso país, 70 anos foram suficientes para alterar os índices de população rural e os de população urbana. Esse tempo é muito curto e um rápido crescimento urbano não ocorre sem o surgimento de graves problemas.

Favelização e outros problemas da urbanização

A urbanização desordenada, que pega os municípios despreparados para atender às necessidades básicas dos migrantes, causa uma série de problemas sociais e ambientais. Dentre eles destacam-se o desemprego, a criminalidade, a favelização e a poluição do ar e da água. Relatório do Programa Habitat, órgão ligado à ONU, revela que 52,3 milhões de brasileiros - cerca de 28% da população - vivem nas 16.433 favelas cadastradas no país, contingente que chegará a 55 milhões de pessoas em 2020.

O Brasil sempre foi uma terra de contrastes e, nesse aspecto, também não ocorrerá uma exceção: a urbanização do país não se distribui igualitariamente por todo o território nacional, conforme podemos observar na tabela abaixo. Muito pelo contrário, ela se concentra na região Sudeste, formada pelos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo.

Brasil: Ìndice de urbanização por região (%)

Região 1950 1970 2000
Sudestes 44,5 72,7 90,5
Centro-Oeste 24,4 48 86,7
Sul 29,5 44,3 80,9
Norte 31,5 45,1 69,9
Nordeste 26,4 41,8 69,1
Brasil 36,2 55,9 81,2
  • Estatísticas Históricas do Brasil: séries econômicas, demográficas e sociais de 1950 a 1988 2.ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1990, p 36-7; Anuário estatístico do Brasil 2001, Rio de Janeiro: IBGE, 200, p. 2-14 e 2-15

Norte e Nordeste

O grau de urbanização da região é o mais baixo do país: 69,9% em 2003. No entanto, é a região que mais se urbanizou nos últimos anos. Entre 1991 e 2000, segundo o IBGE, o crescimento urbano foi de 28,54%. Além de ter-se inserido tardiamente na dinâmica econômica nacional, a região tem sua peculiaridade geográfica - a floresta Amazônica - que representa um obstáculo ao êxodo rural. Ainda assim, Manaus (AM) e Belém (PA) são as principais regiões metropolitanas com mais de 1 milhão de habitantes cada.

Com mais de 51 milhões de habitantes o é a região brasileira com o maior número de municípios (1.793), mas somente 69,1% de sua população é urbana. A estrutura agrária baseada na pequena propriedade familiar, na faixa do Agreste, colaborou para segurar a força de trabalho no campo e controlar o ritmo do êxodo rural. O baixo rendimento e a baixa produtividade do setor agrícola restringiu a repulsão dos habitantes rurais, ao passo que o insuficiente desenvolvimento do mercado regional limitou a atração exercida pelas cidades.

Veja também


  • Cidades: História e problemas da urbanização
  • Metrópoles, megalópoles: Classifcações das cidades

    Qual foi o resultado do processo de crescimento urbano acelerado nos grandes centros urbanos?

    Consequências. A expansão acelerada das cidades e o grande deslocamento das pessoas da área rural para a zona urbana são ações que provocam graves problemas ao meio ambiente. Isso porque a aglomeração de milhares de pessoas em grandes centros urbanos fazem mal a fauna e flora da região.

    Qual o resultado da urbanização acelerada?

    A urbanização provocou um crescimento exacerbado das cidades. Esse crescimento esteve associado ao aumento da produção das indústrias de automóveis e da compra de carros pela população, sendo o transporte rodoviário privilegiado pelas políticas públicas.

    Quais são as consequências de uma urbanização acelerada?

    A urbanização desordenada, que pega os municípios despreparados para atender às necessidades básicas dos migrantes, causa uma série de problemas sociais e ambientais. Dentre eles destacam-se o desemprego, a criminalidade, a favelização e a poluição do ar e da água.

    Quais são os principais problemas gerados pela urbanização acelerada nos grandes centros urbanos?

    5 consequências ambientais da urbanização acelerada.
    Destruição de rios e afluentes. O ritmo do crescimento do território urbano interfere diretamente no fluxo normal de rios e seus afluentes. ... .
    Aumento das inundações. ... .
    Desmatamento e redução da fauna e flora local. ... .
    Maior ocorrência de desabamentos. ... .
    Poluição atmosférica..

    Toplist

    Última postagem

    Tag