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A arte de compreender-se a si mesmo

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� um livro de auto-ajuda pr�tico e aplicavel, com bons concelhos, linguagem assimilavel, e de leitura agradavel. Leitura indicada.... leia mais

APRESENTAÇÃO Eis um convite autêntico... . . . à perspicácia, ao crescimento, ao encon­ tro da identidade própria.. . e à própria vida! Este livro apresenta uma perspectiva com­ pletamente diferente com relação aos pro­ blemas fundamentais de homens e mulheres de todas as convicções religiosas. A Arte de Compreender-se a Si mesmo tem uma mensagem universal porque trata de elementos humanos universais: ansiedade culpa frustração amor necessidade de melhor relacionamento. O livro deixa bem claro que há ALGUÉM que nos ouve, compreende e perdoa. Quando o indivíduo crê, abre o caminho para a plena realização de sua personalidade através da fé, e para uma nova e mais rica compreensão do seu próprio ser e dos outros. Departamento de Publicações Gerais

SUMÁRIO Apresentação

................................................

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1.

Seu Ser Solitário .................................

9

2.

União Redentora ................................

31

3.

Ansiedade ............................................

51

4.

A Cura da Ansiedade

......................

75

5.

Alcançamos o Que Realmente Dese­ jamos ............................................

93

6.

Confissão

............................................

7.

A Culpa e o Castigo

......................

143

8.

Culpa e P e rd ã o ....................................

163

9.

A Guerra entre os S e x o s ...................

189

10.

Levando Avante LutasJá Vencidas

11.

A Sua Auto-lmagem .........................

237

12.

Que Acontece num Grupo? ...........

253

13.

A Cura nos Grupos ...........................

281

14.

Amor

.....................................................

309

Citações Documentadas ..............................

339

índice

345

.............................................................

111

221

]

SEU SER SOLITÁRIO Se você quiser ser infeliz, deve pensar em si mes­ mo, no que você deseja, no que você gosta, em qual o respeito que os outros lhe devem dar, e então para você nada será puro. Você estragará tudo que tocar; você fará pecado e miséria com tudo que Deus lhe enviar. Você pode ser tão desgraçado quanto esco­ lher. — Charles Kingsley

Talvez você nunca pensou qus é solitário. Você pode ter amigos, interesses vários e nume­ rosas atividades que ocupam seu tempo e pen­ samento. Mas a verdade é que ninguém co­ nhece você realmente. Um amigo pode saber algumas coisas acerca de você, e pode ter consciência de algum dos desejos secretos do seu coração, mas ninguém jamais sentiu preci­ samente o que você sente, e, portanto, ninguém pode conhecê-lo inteiramente. Você sente que ninguém o ouve realmente. Enquanto você está tentando compartilhar al­ guns dos seus sentimentos mais profundos, você tem a sensação de que a pessoa a quem você se dirige está esperando com impaciência mal contida para dizer: “Sim, e isto me faz lembrar de algo que me aconteceu outro dia.” Há outra razão por que não somos realmente conhecidos por ninguém mais. A razão disto,

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como aponta Pau! Tournier, é que cada um de nós está num estado de tensão entre a neces­ sidade de nos revelarmos e a necessidade de nos encobrirmos. Temos o impulso de compartilhar iossos sentimentos verdadeiros, mas tememos nos tornar vulneráveis e sermos rejeitados ou criticados. E, como resultado disto, nos limita­ mos às observações banais acerca da superfi­ cialidade da vida: "Que coisa! Como o tempo tem mudado ultimamente!” ou fazemos outro comentário qualquer, igualmente banal. "Cada um de nós faz o melhor que pode para se esconder atrás de um escudo”, diz Paul Tournier, no livro The Meaning of Persons. i (O Significado das Pes­ soas). "Para uns pode ser um silêncio miste­ rioso que se constitui seu retiro impenetrável. Para outros é a conversinha fácil, que nunca permite que nos aproximemos deles, ou às vezes ó a erudição, citações, abstrações, teo­ ria s ... trivialidades”. Quem é que nos ouve no universo inteiro? Nosso amigo ou professor, pai ou mãe, irmã ou vizinho, filho, rei ou servo? Escutam-nos, nosso advogado, ou nossos esposos e esposas, aqueles que são mais caros a nós? Ouvem-nos as estrelas, quando nos vol­ tamos, desesperadamente, para longe do homem, ou os grandes ventos, ou os mares ou as montanhas? A quem pode o homem dizer — Eis-me aqui! Con­ templa-me em minha nudez, com minhas feridas, meu mal secreto, meu desespero, minha traição, mi­ nha dor, minha língua, que é incapaz de expressar meu pesar, meu terror, meu abandono? Ouça por um dia, uma hora! Um momento! Silêncio solitário! ó Deus, não há alguém que escuta? Não há alguém que escuta? — você pergunta. Ah! sim. Há um que ouve, que sempre ouvirá! Apressa-te a ele, meu amigo! Ele espera na montanha por você. Sêneca

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Sim, há Um que ouve, e muitos têm apren­ dido a derramar suas almas diante de Deus em oração sincera e satisfatória. Mas milhões de outros — talvez a grande maioria — não têm certeza de que Ele ouve realmente, e assim não procuram o ouvido daquele que ouve. Ele responde verbalmente, não há resposta simpática e imediata, e eles, afinal de contas, duvidam que haja de fato alguém que ouça. Taylor Caldwell, em The Ustener (“O Ouvinte”), diz: O homem não precisa ir ã lua ou a outros sis­ temas solares. Ele não necessita de maiores e me­ lhores bombas e misseis. Ele não morrerá se não con­ seguir melhor habitação ou mais vitaminas... Suas necessidades básicss são poucas, e custa pouco sa­ tisfazê-las, a despeito dos propagandlstas. Ele pode sobreviver com uma pequena quantia de pão e no abrigo mais deplorável... Sua necessidade real, sua mais terrível necessi­ dade, é alguém que o ouça, não como um paciente, mas como alma humana... Nossos pastores ouviriam — se nós lhes désse­ mos o tempo para eles nos ouvirem, mas nós os so­ brecarregamos com as tarefas que deviam ser nossas. Nós exigimos que eles não somente sejam nossos pastores, mas que carreguem nossas trivialldades, nossas aspirações sociais, a “graça” de nosso filhos, em suas costas afadigadas. Exigimos que eles sejam peritos negociantes, políticos, contadores, colegas de jogo, diretores da comunidade, “bons amigos", jui­ zes, advogados e apaziguadores de brigas locais. Da­ mos a eles pouco tempo para ouvir, e nós tampouco os ouvimos.. . 2

Este livro é, em parte, a estória de gente, constituída a princípio de um pequeno grupo, mas que agora chega aos milhares, que apren­ deu a ouvir; a estória da cura da mente, do espírito, do corpo e a circunstância em que foi alcançada, porque estas pessoas aprenderam a partilhar mais profundamente as suas expe-

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riências e, no processo, descobriram que o amor de Deus é mediado através de pessoas; é a estória de pessoas que chegaram a conhe­ cer a Deus, a si mesmas e aos outros de um modo mais satisfatório do que jamais tinham pensado ser possível. Joe Dandini * era um homem muito soli­ tário. Ele apareceu em meu estúdio uma tarde. Eu nunca o havia visto antes. Era um homem de grande estatura, cordial, extrovertido, que exalava amizada pelos poros. — Olhe — disse ele — eu nem sei bem por que estou aqui. Eu sou católico romano, entende? Mas eu tenho problemas, tenho-os há muito tempo. Bem, há uma mulher que mora nesta rua. Ela era uma pessoa muito confusa, mas de repente se endi­ reitou, e a mudança é tão notável que eu resolvi descobrir como foi que isto aconteceu. Fiquei sabendo que ela assistiu com um grupo aqui na sua igreja. É tudo o que sei. Preciso de ajuda de alguma forma. Talvez eu precise do que ela tem. Já fui a psiquiatras, médicos, psi­ cólogos, e não melhorei em nada. Corro aos médicos com todos os tipos de sintomas, mas o que eles me dizem é que são meus nervos. Eu acho que eles querem dizer que são mi­ nhas emoções. Dizem que nada há de errado fisicamente comigo, mas eu me sinto terrivel­ mente mal a maior parte do tempo. Além disto, eu tenho dificuldade de per­ manecer num emprego. Minha muiher é quem realmente está sustentando a família. Eu não me sinto bem com isso, mas nem bem arranjo •

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Este nome, assim como outros usados através desta obra, em casos típicos, são fictícios, embo­ ra as estórias sejam verdadeiras ou reais.

um emprego e já o perco. Brigo com o patrão ou, se estou indo bem, por algum motivo, ar­ ranjo uma briga com um empregado, e pronto! Sou despedido de novo. Não consigo ficar num emprego por mais que alguns meses. Não sei qual é o meu problema. Será que esses gru­ pos, sejam lá o que forem, podem ajudar um cara como eu? — Um grupo desses com o tempo pode­ ría ajudá-lo — respondi — se você trabalhar com ele. O grupo oferece a oportunidade. O resto depende de você. Os resultados depen­ dem de sua honestidade para consigo mesmo e de quão profundamente você estiver motivado. — O que acontece nessas reuniões de grupo? — Joe perguntou. — É difícil de descrever. Você terá que experimentar por si mesmo. Mas uma coisa é importante — sua esposa deve assistir tam­ bém. Muitas vezes ajuda se ambos, marido e mulher, assistirem juntos, — Ela não viria — disse Joe enfaticamen­ te. — Eu gastei dinheiro demais com psiquia­ tras e médicos, no esforço de conseguir ajuda, e agora eia não quer saber de nada com esta espécie de coisa. Além disso, eu não sei como ela se sentiría vindo a uma reunião numa igreja protestante. Sugeri-lhe que a convidasse, de qualquer modo, e insistisse para que ela assistisse pelo menos por um mês. E na primeira reunião Joe trouxe mesmo sua esposa, uma pessoa agra­ dável e tranqüilamente eficaz. Joe nos declarou durante a reunião: “Fui para casa e disse a ela que eu ia me juntar a um grupo lá na Igreja Batista de Burlingame. E acrescentei: Falei pra eles que você não assistiría. Ela respondeu:

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r "Lá vem você, tomando decisões por mim ou­ tra vez. Claro que vou!” Não houve nenhuma solução milagrosa ou repentina para o problema de Joe. Ele com­ partilhou seus profundos sentimentos de rejei­ ção quando menino, o medo que sentia para com seu pai autoritário, que era policial. Quan­ do tomamos conhecimento de tudo sobre sua infância, entendemos por que ele reagia da­ quele modo. Seu progresso foi lento, mas fir­ me. Não há método conhecido pelo qual uma estrutura emocional imatura possa ser mudada da noite para o dia. Entretanto, dentro de um ano Joe estava trabalhando de novo para um homem que o havia despedido. Ele permaneceu no emprego desta vez e começou a sentir au­ to-afirmação pela primeira vez na vida. Depois de dois anos ele foi promovido a auxiliar de ge­ rente. Isto não significa que seu crescimento emocional e espiritual estava completo. Cres­ cimento espiritual é um processo contínuo. Mas a experiência de grupo que Joe teve re­ sultou em dividendos concretos, que incluíam a habilidade de ganhar a vida, um novo sentido de auto-respeito, melhor comunicação com sua família e uma profissão de fé que a família toda fez quando pediram para serem membros da igreja. Joe, esposa e filha devotam agora uma grande parte de seu tempo em atividades cris­ tãs. A solidão de Joe, sua auto-rejeição e o sentimento de fracasso; sua alienação de Deus, de si mesmo e do próximo eram, em parte, o resultado de forças ambientais. Pode-se tam­ bém dizer que foi o pecado que produziu as dificuldades dele. Pecado era a soma total das forças que faziam com que ele tivesse uma personalidade distorcida. O pecado estava por

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detrás dos fatores que fizeram seu pai austero e autoritário, o que o tornava incapaz de se comunicar com o filho. Pecado, no caso de Joe, era uma combinação de forças sociais, psicoló­ gicas e espirituais que o deixavam incompleto, incapaz de funcionar adequadamente como pessoa, pai e marido. A resposta para Joe foi o amor de Cristo mediado por um grupo de pes­ soas que genuinamente se intessaram por ele. No seu grupo, Joe e sua esposa vieram a sen­ tir-se amados e aceitos. O grupo era a igreja em ação, a família de Deus, através da qual o amor pode ser canalizado para abençoar, curar e orientar. É extremamente ingênuo pensar-se do pecado simplesmente como um ato isolado, uma mentira, um roubo, imoralidade, desones­ tidade — porque pecado é tudo aquilo que fica aquém da perfeição, é rejeição de Deus — “destituir-se” da perfeição que Deus nos pre­ parou. Pecado é ser distorcido, e não sim­ plesmente o praticar um ato mau. É ter relação e atitudes distorcidas. É ser menos que a in­ tegridade. é ter motivos confusos. Pecado é a racionalização inteligente pela qual procuramos escapar de nos encontrarmos conosco mesmos. Ele pode consistir de um punhado de “obriga­ ções” moralísticas e rígidas, em vez de obe­ diência ao Espírito de Deus, que habita em nós, em agir somente em resposta a códigos lega­ listas {e sentir-se virtuoso em assim fazer), em vez de aprender a agir espontaneamente em resposta ao impulso divino. Muitos membros de grupo se tornam ca­ pazes de deixar de lado seu conceito limitado e infantil de pecado como alguma coisa confi­ nada a “atos maus” ou “pensamentos maus” e descobrir que pecado é o que nós somos,

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r

cheios de faltas, distorcidos, não tendo sufi­ ciente maturidade espiritual. Eles descobrem uma nova qualidade de amor, porque, onde o repartir acontece num ambiente apropriado, as relações de amor geralmente se seguem. Eles aprendem a orar por uma outra pessoa diaria­ mente e com interesse sincero. Para muitos, as pessoas dos seus grupos tornam-se sua fa­ mília, como alguns já o expressaram, porque eles frequentemente sentem laços mais achegados a eles do que os de seus parentes car­ nais. A idéia de grupo pequeno é uma das for­ ças espirituais mais dinâmicas do século vinte. Desde a Segunda Guerra Mundial temos redescoberto seu tremendo poder. Sob vários no­ mes, pequenos grupos são formados com gran­ de rapidez em igrejas de muitas denominações. Homens e mulheres estão descobrindo que os serviços e atividades rotineiras da igreja local não trazem motivação suficiente para um cres­ cimento espiritual significativo. Uma hora por semana gasta na igreja nun­ ca teve o objetivo de providenciar respostas para as nossas necessidades espirituais mais profundas. A igreja do primeiro século indubi­ tavelmente consistia de grupos pequenos, além das reuniões semanais para adoração e ins­ trução . Muitos, erroneamente, assumem que o cristianismo se preocupa somente com a ver­ dade "bíblica” {que definem estreitamente), e que as verdades psicológicas de alguma forma não têm nada a ver com assuntos espi­ rituais. Eles esquecem, naturalmente, que toda verdade é divina em sua origem, quer seja uma lei científica, um principio filosófico ou uma verdade bíblica. A teologia em geral lida com 16

a natureza de Deus e Sua vontade para com o homem. A psicologia trata do homem e sua natureza interior. Precisamos conhecer a Deus. Precisamos conhecer tudo o que podemos acerca de Deus, a fonte de nosso ser, e tudo o que for possível acerca do homem, criado à imagem divina. Portanto, através de todo o livro não faço distinção entre verdade sagrada e secular, por­ que todo aspecto da vida é sagrado. O homem, criado à imagem de Deus, é sagrado; e seu corpo físico, nos diz a Bíblia, é o templo do Espírito Santo. O mesmo Deus que criou o homem projetou o universo com intenção san­ ta. Cada árvore e cada folha de grama, cada átomo e molécula, todo fragmento de verdade é sagrado. Cada lei cientificamente descoberta pelo homem originou-se em Deus, e é sagrada. Não há distinção entre “sagrado” e “profano” , “santo” e “comum” . A ordem de Deus a Moisés no Monte Sinai — “Tira as sandálias, porque o lugar onde pisas, é terra santa” 3 — não significava que só aquele determinado pedaço de terra sobre o qual Moisés estava era santo. A implicação é que Moisés tinha procurado encontrar Deus em algum lugar “sagrado” especial. Deus estava dizendo a ele que, onde quer que ele se encon­ trasse, ali era um lugar santo, e Deus o podia encontrar lá. Muitos têm a tendência de pensar que o trabalho de um ministro é um tanto sagrado porque ele deve estar interessado principal­ mente em assuntos espirituais, enquanto de um médico, que trata de corpos físicos, raramente se diz que está engajado num trabalho santo. Toda pessoa, qualquer que seja sua vocação, pode ter o sentimento de realizar uma missão 17

divina, se ela estiver cônscia do amoroso in­ teresse de Deus por todos os aspectos da vida. Jesus não fez distinções artificiais entre sagrado e profano. Ele tratou de cada aspecto das vidas dos homens e assim santificou a vida toda. Ele curou seus corpos e fez da cura uma função sagrada para sempre. Ele falou da natureza de Deus e das relações cotidianas entre os homens ao mesmo tempo. No Sermão do Monte, ele ensinou princípios espirituais, filosóficos, psicológicos e sociológicos; discu­ tiu processos, oração, divórcio, ansiedade, amor, perdão, reconciliação, raiva, e um pu­ nhado de outras coisas que pertenciam à vida de cada dia. Jesus estava interessado em todas as coisas concernentes aos homens, e seu inte­ resse amoroso nos diz que esta é a natureza de Deus — que ele está interessado em cada detalhe de nossas vidas. Com Deus não há categorias, tais como ciência e religião, o sa­ grado e o profano No livro de Marc Connely, The Green Pastures (Os Pastos Verdejantes), quando “o Senhor * se prepara para deixar o Céu e descer à terra para ver como seus filhos estão pas­ sando, ele dá algumas instruções finais a Ga­ briel: “Gabriel, não te esqueças daquela estre­ la que não tem funcionado direito. Toma conta disto.” Gabriel concorda. “E, Gabriel, lembras-te daquele pequeno pardal de asa quebrada? Toma conta disto também, sim?” Neste drama deleitoso o autor muito corretamente retrata Deus como estando igualmente interessado no cosmos e nos pardaís. Aquele que já compre­ endeu a bela harmonia que existe em toda a natureza, que já teve um vislumbre da unidade * No original, “o Sinhô”. 18

peculiar do universo todo, e sentiu que Deus está em nós e nós nele, e que todas as coisas om nosso universo são uma parte de Deus — esse nunca mais poderá fazer distinção entre sagrado e profano. Porque “toda a Terra está cheia da glória de Deus", e todas as coisas nele são santas, exceto quando tocadas pelo pe­ cado e despojadas de sua perfeição divina. Os místicos, que adentraram o véu da cons­ ciência humana e tiveram um vislumbre do in­ finito, confirmam que há uma unidade em todas a3 coisas muito além do poder de compreensão da mente humana no seu estado comum. Mui­ tos que têm explorado algumas drogas que ex­ pandem o consciente, tais como LSD-25, em­ bora suas experiências variem largamente em muitos aspectos, relatam uma percepção mís­ tica: a lucidez repentina, mais sentida que percebida pela mente, de que o universo 6 um de um modo impossível de ser descrito por palavras. Todos eles contam de eles mesmos experimentarem ser uma parte do todo, de ser um só com Deus e a natureza, e ainda assim estarem separados e serem autônomos. Muita gente tem descoberto, em graus va­ riados, que para o cristão não há linha divisó­ ria entre religião e vida, que toda vida é sa­ grada, e que o cristianismo deve ser aplicado a todos as aspectos da vida. Jesus nunca usou a palavra "religião” (que aparece somente duas vezes no Novo Testamento). Parece que ele nunca pensou na relação da pessoa com Deus como se ela envolvesse "um dever religioso” ou mesmo um ato religioso no sentido em que muita gente usa tais termos. Ele não separou a vida em sagrada e profana. Os cristãos eram chamados de "os seguidores do caminho,” e Cristo era Aquele que ensinou o Caminho, que

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era ele mesmo o caminho, o caminho para viver, e ter vida abundante e eterna. Se pudéssemos ver de uma vez por todas que o cristianismo é um modo de vida, não só para o domingo e emergências, e não só um conjunto de princípios morais; se pudésse­ mos nos despojar da crença de que Deus se in­ teressa principalmente em que sejamos bons, teremos dado um grande passo para frente. Deus não está interessado só na necessidade de seus filhos serem decentes, morais e hones­ tos, embora sejam desejáveis esses traços. Ele está interessado, Jesus ensinou, em que nossas vidas sejam ricas, cheias e criativas; em que descubramos nosso potencial mais alto; em que tenhamos amor, alegria, paz, felicidade, uma vida abundante, a vida eterna. Jesus falou dis­ to tudo várias vezes durante seu ministério. No Evangelho de João, por exemplo, estão re­ gistradas estas palavras “Um novo mandamento vos dou, que vos ameis uns aos outros como eu vos am ei.’’ "Pedi, e recebereis, para que a vossa ale­ gria seja completa." "Minha paz vos dou. . . ” "Se sabeis estas coisas, felizes sereis se as cumprirdes.” “Eu vim para que tenhais vida, e a tenhais em abundância.” "E esta é a vida eterna, que eles te conhe­ cem a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste." Ele ofereceu isto e muito mais. A maioria de nós se contentaria com uma ou duas destas seis grandes bênçãos que ele ofereceu aos seus seguidores. Ao fazer do cristianismo ou­ tra religião em vez de o Caminho da Vida, per­ demos o centro da mensagem dEie.

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Parece que falta alguma coisa na igreja orunnlzada de hoje, algo que estava muito em ovldôncia entre os cristãos do Novo Testamen­ to A Igreja Cristã é a maior força do bem que tninos na terra, e, embora fraca, não deve ser douucreditada. Mas nós, que amamos a Igreja, podemos avaliar suas fraquezas. Pois são, na realidade, as nossas próprias fraquezas. Na igreja média, dez por-cento dos mem­ bros faz noventa por-cento do trabalho. Trin­ ta por-cento sustenta noventa por-cento do orçamento. Quarenta por-cento assiste à igre­ ja aos domingos de manhã. Isto está muito aquém da Igreja Vitoriosa. O amor entre os membros de uma igreja média é pouco maior do que entre os rotarianos ou Kiwanos. De fato, há uma espécie de comunhão mais aberta entre membros de clu­ bes de serviço do que a que é encontrada em algumas igrejas, Na igreja média de cem ou mil membros, a maioria deles não conhece uns aos outros, a não ser de uma maneira muito casual. Não podemos amar as pessoas sem antes as conhecermos, e é impossível conhecer cem ou mil pessoas, a não ser em um nível muito superficial. Mesmo assim o amor é que devia ser o distintivo do cristão. “Nisto conhe­ cerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” Elizabeth O’ Connor reconta uma experi­ ência de Gordon e Mary Cosby. Gordon é pas­ tor duma igreja mais conhecida como Igreja do Salvador em Washington, D. C. Ele tinha pregado numa igreja onde a atmosfera não era nada vibrante. Conforme nos conta Miss O’ Conner: Gordon disse: “Enquanto eu olhava para aque­ las figuras de granito, tive que reprimir o impulso 21

de rasgar minhas vestes e sair da igreja para den­ tro da noite, onde o ar fosse límpido e eu pudesse me sentir purificado. Eles tinham-se juntado, como tudo indicava, para comemorar uma data significa­ tiva da igreja, mas a única evidência de vida era o tilintar de moedas caindo na bandeja de ofertas.” Quando o culto terminou, naquela noite, ele e Mary foram de carro bem longe. Finalmente para­ ram num pequeno hotel, onde o último quarto vago ficava acima de uma taverna. Vozes barulhentas e melodias alegres de vitrola entravam em seu quarto e não os deixavam dormir. Refletindo sobre os sons que vinham de baixo e a igreja de que haviam saído, Gordon ponderou: “ Compreendí que havia mais ca­ lor e comunhão naquela taverna do que na igreja. Se Jesus de Nazaré tivesse que fazer sua escolha, ele pessoalmente teria ido à taverna, e não à igreja que visitamos.” No dia seguinte eles tomaram o café da manhã num bar do outro lado da rua do hotel. As pessoas que entravam e saiam cumprimentavam umas às outras, liam seus jornais e comentavam sobre as no­ ticias do dia. ‘‘Pensamos outra vez” , disse Gordon, “ que Cristo se sentiria muito mais em casa no bar."»

Muitos membros de igreja, se pensas­ sem seriamente, teriam que admitir que eles estão solitários e que não se sentem parti­ cularmente amados por um número apreciável de pessoas na igreja. Ninguém tem culpa; acontece que a igreja simplesmente se tornou gradativamente uma instituição, em vez de uma comunhão amorosa. Mas não é impossível mudar isto. Nos últimos anos esta situação tem sido mudada para milhares de pessoas. Quando uma pessoa visita uma igreja pela primeira vez, ela participa dum culto de ado­ ração, e o que é dito no sermão pode ou não ser aplicado às suas necessidades particula­ res. Ela pode ser cumprimentada e convidada a voltar, mas nada além disso, nada de impor­ tância real ocorre para levá-la a acreditar que aquele é um grupo de pessoas que tem pro-

lundo interesse por ela. As manifestações de ■imor são geralmente limitadas a uma saudação imistosa, e a gente pode conseguir isto quase que em toda parte. Em certa época, se alguém tivesse per­ guntado a Margarida qual era seu problema, ela teria dito: “Todo o problema é o meu marido. Ele é alcoólatra." Não me lembro da primeira vez que ela apareceu na igreja ou o que a le­ vou a vir ver-me. Ela revelou parte de sua ne­ cessidade e disse-me que estivera consultando um psiquiatra. Como resultado do seu aconse­ lhamento ela veio a compreender que nem tudo era falta de seu marido. É verdade que ele bebia em excesso è as dificuldades resul­ tantes eram suficientes para causar depressão a qualquer pessoa. Mas Margarida tinha enca­ pado o fato de que no íntimo ela era o que o psiquiatra chamava de “coieoionadora de njustiças”. Mesmo quando as coisas iam ra.oavelmente bem em casa, ela sempre enconrava razão para reclamar e aborrecer seu maido, e por causa disso ele bebia até ficar em­ briagado. Ela era uma masoquista psíquica, com uma necessidade profunda, mas inconsci­ ente, de ser punida. Inteiramente inconsciente do que fazia, ou da razão de fazê-lo, ela conseguia sentir-se ferida em seus sentimen­ tos ou inventar maneiras pelas quais podia ser rejeitada. Acabou vendo, pelo menos intelectu­ almente, que era ela que estava trazendo a maioria de seu sofrimento sobre si mesma. Na sessão de aconselhamento com ela eu limitei-me a ouvir, e no final da nossa conversa sugeri que ela participasse de uma de nossas sessões de grupo. Ela fora membro de igreja por vários anos, e gradativamente revelou as recordações de sua infância. Seu pai tinha sido

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uma pessoa de moral elevada, rígido e autori­ tário. Ela nunca fora capaz de se relacionar com ele, ou de sentir a mínima afeição por ele. De fato, todo sentimento de que ela tinha cons­ ciência era de hostilidade e rejeição, emoções que havia parcialmente escondido. Ela sempre se sentiu vagamente culpada quando criança, em parte por causa dos padrões de conduta não alcançáveis que lhe foram impostos, em parte porque se sentia rejeitada. A criança rejeitada sempre se sente culpada. Embora uma criança não ordene seu pensamento desta forma, o sentimento resultante é: “Sou rejei­ tada, e não amada. Se eu fosse uma criança boa’, eles me amariam. Não sou amada por­ que devo ser m á." O resultado é um senti­ mento profundo de culpa e inutilidade. A cri­ ança simplesmente não se sente digna de ser amada. Por razões tais, Margaret “mergulhou nos sentimentos de autocompaixão e auto-rejeição”, como ela mesma o disse. Mas, saben­ do da rejeição por ela experimentada em sua infância, a gente só podia sentir compreensão e compaixão, particularmente porque ela esta­ va fazendo um esforço heróico para se tornar um adulto maduro. A transformação de Margaret foi tão no­ tável que seu irmão decidiu juntar-se ao grupo. Na primeira sessão, Jeff, uma pessoa agradá­ vel e amistosa, contou sua estória. Ele tinha gasto cerca de Cr$ 210.000,00 com psiquiatras, sabia tudo o que estava errado consigo mesmo e jorrava termos psiquiátricos à menor provo­ cação. Ele estava sofrendo de uma “paralisia de análise” . Contou que depois de ter passado por nove anos de tratamento psiquiátrico Freu­ diano, ainda era uma pessoa muito confusa. Sua esposa uma vez lhe dissera pessoalmente: 24

"Jeff, por que você não faz um seguro bem grande e dá cabo de si, a seguir, com um tiro?" i le contou isto sem nenhum rancor, e acres­ centou: "Na realidade, ela tinha dado uma boa sugestão. Eu não prestava nem pra mim mesmo nem para minha fam ília.” Seis meses mais tarde, Jeff havia feito progresso significativo, tanto assim que disse: "Tenho feito mais progresso espiritual e emo­ cional nestes seis meses do que em nove anos de tratamento psiquiátrico. Aprendi a orar e me relacionar com Deus como um Pai Celes­ tial amoroso, e me comunico com ele frequen­ temente durante o dia.” Seu progresso continua e ele está descobrindo que não há limite para o crescimento espiritual. Ao relatar a experiência de Jeff, não tenho nenhuma intenção de prejudicar os psiquia­ tras. Muitos que descobriram que a psiquia­ tria não os ajudaria também assistiram em igrejas por muitos anos sem serem capazes de resolver seus problemas pessoais. Nem todos os que participam dessas ses­ sões de grupo têm dificuldades pessoais sé­ rias. Muitos se reúnem a fim de aprender a orar, ou ser cristãos mais efetivos, e, conquan­ to estas sejam necessidades significativas, elas não constituem para a maioria das pessoas uma crise real. Ocasionalmente, alguém diz: "Eu não pre­ ciso desse tipo de grupo, pois não tenho pro­ blemas reais.” O que eles querem dizer, na­ turalmente, é que não experimentam nenhuma crise pessoal grande. Eles são capazes de cuidar dos problemas menores da vida sem muita dificuldade. Mas eles têm problemas re­ almente. Toda pessoa tem conflitos íntimos, porque a dificuldade de se alcançar estado

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mais elevado de nosso ser constitui-se em um grande problema. Dr. LerneJ. Jane, professor de psiquiatria da Escola de Medicina da Uni­ versidade de Pensilvânia, diz: "Ninguém é to­ talmente maduro emocionalmente, ou está em perfeita harmonia com seus desejos, sua cons­ ciência e o mundo exterior ao seu redor. Esta discrepância entre o desejo e a realização é expressa por infelicidade, tensão emocional e neurose, que todos carregam 6. Como Fritz Kunkel apontou, ninguém fa; uma mudança significativa de sua personali­ dade ou situação de vida até que seja motivado por uma dor de alguma espécie. Rollo May diz: "As pessoas, então, deviam regozijar-se no sofrimento, por mais estranho que isto pa­ reça, porque isto é um sinal da disponibilidade de energia para transformar seus caracteres. O sofrimento é o meio da natureza mostrar uma atitude enganosa ou um modo de comporta­ mento, e . . . para a pessoa não egocêntrica, todo momento de sofrimento é oportunidade para crescimento." i Aqueles para os quais a vida corre mais ou menos numa paz serena, que não se sentem ameaçados por doenças físicas, tensão conju­ gal ou sofrimento mental, geralmente estão contentes em manter o status quo. Eles não são motivados a uma entrega espiritual signifi­ cativa ou a um crescimento além do seu nível atual. Entretanto, além da facada aguda de uma crise como força motivadora para a procura do alívio, há também a sombria pulsação da frustração. Muitas pessoas aos seus trinta' ou quarenta anos começam a descobrir, pela pri­ meira vez, que a vida é consideravelmente mais frustradora do que jamais sonharam possível

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jOs seus vinte anos. Pelo menos três quartos de todos os casais experimentam tensão e lu­ tas ocasionais ou contínuas. Eles, na maioria das vezes, só procuram um conselheiro matri­ monial depois de haver tantas cicatrizes e re­ cordações dolorosas que é difícil, se não impossível, conseguir uma reconciliação, v Em nossos grupos no Oeste temos cente­ nas de casais que não têm dificuldade mais séria do que a de aprender a se comunicar melhor, de selecionar seus sentimentos e au­ mentar o nível de sua tolerância pela frustra­ ção, através de aplicação de leis espirituais. Ninguém podia imaginar que houvesse um casal mais feliz do que Chuck e Henrietta. Eles se juntaram a um grupo na esperança de al­ cançarem maior crescimento espiritual. Depois de alguns meses de discussão baseada num livro devocional, o grupo votou fazer um dos inventários de crescimento espiritual. Estes são basicamente inventários psicológicos, aos quais foi adicionado um sistema de folhas de avaliação, que os membros do grupo recebem semanalmente, ou de duas em duas semanas. Uma folha recebida por Chuck revelou que havia nele muita hostilidade enterrada, da qual ele estava, na maior parte, inconsciente. Ele havia partilhado com o grupo seus terríveis ataques de asma e febre, e começou a imagi­ nar se sua hostilidade reprimida e sentimentos de dependência não tinham alguma ligação com seus problemas respiratórios, que mais ou menos o incapacitavam por uma parte do ano. Eles deixaram o grupo depois de mais ou menos um ano, e algum tempo mais tarde perguntei-lhe de sua asma e febre. Ele disse, surpreso: "Oh! você não sabia?! Eu venci isto

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assim que descobri tudo sobre minha hostili­ dade enterrada. Quando aprendi a lidar com a hostilidade minha asma desapareceu.” Ele não tinha se juntado ao grupo por causa da asma, mas quando resolveu alguns de seus problemas emocionais, através de uma forma de oração mais madura, seus sintomas físicos desapareceram. Em tempo algum ele orou por sua asma. Em vez disso, tratou da causa subja­ cente, sua hostilidade enterrada e não reco­ nhecida. Duas mulheres, membros de grupos dife­ rentes, estavam procurando crescimento espi­ ritual e um grau maior de paz interior. Eu não tinha conhecimento, então, de que ambas sofriam de enxaquecas, uma delas por vinte e cinco anos, e a outra por um período de tempo mais curto. Embora elas não orassem pelo alívio de seus sintomas físicos, ambas foram curadas como resultado do novo crescimento espiritual que alcançaram. A medida que se relacionaram em amor e confiança com o Deus de paz, seus sintomas físicos simplesmente desapareceram. Ao invés de orar por seus sin­ tomas físicos, elas focalizavam-se em Deus na sua meditação diária. No grupo encontravam uma oportunidade de partilhar seus sentimentos. Enquanto pensavam mais em suas próprias pessoas não compartilharam nenhum detalhe íntimo de suas vidas. A cura se efetuou quan­ do obedeceram literalmente ao mandamento de Jesus: “Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” Uma das descobertas gratificantes feita durante os primeiros oito anos em que estes grupos de compartilhamento estiveram em ope­ ração no Oeste é a maneira pela qual 28

as barreiras entre as pessoas são quebradas (ôcil e naturalmente. Estas barreiras invisíveis fazem com que nós não conheçamos nem umemos uns aos outros e trazem a solidão ou o sentimento de isolamento experimentados pela relutância em nos revelarmos aos outros, por medo de rejeição. Dentro do grupo, bar­ reiras são desfeitas e nos descobrimos amando pessoas de que antes nem mesmo gostávamos. Descobrimos que quanto mais os outros------aprendem de nós, mais fácil se torna para eles nos aceitarem e amarem. Ninguém pode amar uma máscara. Quando tiramos nossas máscaras, descobrimos que somos aceitos num nível novo. Numa sessão de um grupo principiante, enquanto várias pessoas partilhavam seus sen­ timentos, um homem disse: “Acabei de experi­ mentar uma inversão completa de meus senti­ mentos para com alguém. Eu o conheço por muito tempo numa base muito superficial. Sempre pensei que ele agia como se fosse superior, sendo, talvez, um pouco esnobe. Agora mesmo, quando ele partilhou alguns dos seus sentimentos de inadequação eu gostei dele realmente porque tenho os mesmos senti­ mentos para comigo mesmo. Eu não mais sinto rejeição da parte dele. Somos iguais. Talvez eu também cubra alguns de meus sentimentos de inadequação com a pretensão de superiori­ dade, que realmente não sinto. De qualquer modo, Alan, eu o tenho, por assim dizer, su­ portado até este instante. Agora e u . . . bem, acho que posso dizer que o am o.” Você pode nunca ter pensado ser solitário, mas o sentimento está lá da mesma maneira, a menos que você tenha quebrado a barreira do seu medo de rejeição. E quando você con29

seguir revelar seu ser verdadeiro, mesmo em pequena parte, você se encontrará aceito e amado em novo nível. E, além disto, você virá a se conhecer, à proporção que se revelar aos outros, porque nosso medo de sermos conheci­ dos por outros não é maior do que o medo de conhecermos a nós mesmos. Não é “por força nem por poder”, nem por organização, cruzada ou campanha que o Rei­ no de Deus virá à terra ou a qualquer pessoa humana. Ele só vem pelo amor — amor a Deus e aos outros — que constrói uma ponte no nosso isolamento e desfaz nossa solidão.

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UNIÃO REDENTORA Jesus indica que não há absolutamente nenhum ailistltuto para a pequena sociedade redentora. Se i il.a falhar, ele dá a entender, tudo será fracasso; nlio existe outro meio.1 Elton Trueblood

Cristina, uma jovem senhora, casada, com seus trinta anos, tinha três anos de idade quando seu pai foi preso. Por toda a vida ela tem suportado um sentimento de vergonha por seu pai ter sido condenado. Enquanto ele esta­ va na cadeia, Cristina e sua mãe viveram com seus avós. Ela se recorda de que eles eram muito pobres e que seu avô era um homem durão, autoritário e sem amor, que irradiava hostilidade. Quando seu pai voltou para casa, solto por fiança, ela ficou com muito medo dele. Ele tinha explosões de raiva terríveis, e ela não se lembra de ele tê-la alguma vez elogiado ou expressado amor de alguma maneira. Ele re­ petidamente lhe dizia que ela era estúpida. Quando ela se tornou adolescente, ele a avisou duramente que ela nunca devia “arranjar com­ plicações com rapazes” . Isto foi toda a edu­ cação sexual que teve de seus pais; mas, quan­ do tinha cerca de 15 anos, seu pai tentou mo-

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lestá-la sexualmente. Ela ficou chocada e desgostosa. Cristina se casou com vinte anos de idade. Seu marido queria filhos, mas ela opos-se fortemente à idéia de criar uma família. Quan­ do veio o primeiro filho, ela experimentou um sentimento profundo de prazer no primeiro mês, depois começou a perder o interesse pela cri­ ança. Seu médico a ajudou neste ponto. Ele havia-lhe dito: “Os pensamentos são um há­ bito, e você pode mudar o seu padrão de pen­ samentos pensando de outra maneira.’’ Ela se esforçou muito neste sentido e eventualmente teve sucesso e aceitou seu primeiro filho. Pos­ teriormente ela conseguiu manter uma relação maravilhosa com ele. Quando o segundo filho nasceu, a mesma coisa começou a manifestar-se, mas ela descobriu desta vez que era muito mais fácil amar a criança. Cristina era uma pessoa muito pacata e tímida. Num retiro, onde a encontrei pela pri­ meira vez, percebi que ela estava lutando com algum confltto interior profundo. Depois de uma das sessões, aconteceu de eu ir com ela para o refeitório, e, de repente ela se desaba­ fou: “Estou cansada e doente de carregar a culpa de meu pai!” Encorajei-a a contar-me o seu problema, e vagarosa quão dolorosamente, ela me expôs, com detalhes consideráveis, os acontecimentos que já relatei. Antes de termi­ nar o retiro, ela começou, pela primeira vez, a sentir a extensão da sua violenta hostilidade para com o pai. Ela nunca havia se permitido sentir isto antes. A maior parte da coisa estava enterrada logo abaixo da superfície. Vergonha, culpa, ódio, inferioridade, tudo isto se mistura­ va num sentimento violento de raiva. Eu lhe assegurei que não havia problemas em sentir

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qualquer das emoções que ela experimentava então, e eventualmente ela pôde admitir no consciente toda a hostilidade reprimida, dores e frustrações que ela nunca havia partilhado com ninguém nem totalmente admitido a si mesma. Cristina sentiu um alívio considerável oo contar sua estória, que envolvia a aceitação de que ela possuía sentimentos que nunca ha­ via ousado confrontar antes. No processo ela pôde perdoar seu pai, e isto foi uma experiên­ cia curadora. Mas, inexplicavelmente, sua re­ lação com o esposo se tornou pior. Às vezes ela mal podia suportar ficar no mesmo aposen­ to com ele. Ela experimentava um antagonis­ mo violento e desarrazoável para com ele, o que o deixava intrigado e magoado. Na igreja a que Cristina pertencia, alguns grupos se reuniam semanalmente; cada um consistia de oito a uma dúzia de pessoas. Al­ guns grupos estudavam um livro e partilhavam seus sentimentos acerca do mesmo. Outros estavam fazendo um inventário de crescimento espiritual e recebiam folhas de avaliação se­ manais. O propósito dos grupos era o cresci­ mento espiritual, o que significava não somen­ te a aquisição de conhecimento bíblico, como requeria maturidade emocional. Alguns pro­ curavam resolver problemas pessoais: outros queriam simplesmente tornar-se mais maduros na sua entrega e experiência cristã. Cristina havia se juntado a um dos grupos antes que eu a encontrasse, e sua experiência foi o passo inicial, que resultou em seu interes­ se em revelar algumas de suas emoções pro­ fundamente enterradas. Depois de voltar para casa, após o retiro, profundamente perturbada por causa de sua hostilidade para com seu marido, ela partilhou alguma coisa a respeito 33

disto com seu grupo. Ela não sentia necessi­ dade de contar toda a dolorosa estória de sua vida anterior. Eles ajudaram-na a ver que ela simplesmente havia transferido a hostilidade que sentia em relação ao seu pai para seu es­ poso. Até onde podia ver, ela havia perdoado seu pai, mas a dor do passado não lhe permi­ tia abandonar seu ódio inteiramente. Ao des­ cobrir o que estava fazendo, deu um passo novo e significativo, entregando toda a sua hostili­ dade a Deus. Como mais tarde ela me descreveu; “Deus se tornou uma realidade para mim pela pri­ meira vez. O Deus que eu conhecia antes es­ tava ‘lá em cima', em algum lugar. Agora encontrei o Deus que estava aqui dentro de mim e que era uma parte de mim. Foi a maior descoberta da minha vida. Fiquei exuberante. Quase nem consigo me lembrar do meu ‘velho ser’ do passado. Descobri que sou muito mais tolerante com os outros, e procuro não me apropriar de sua confusão. Gosto de ajudar onde posso, ao passo que antes eu tinha medo das pessoas — medo demais para ajudá-laa. É maravilhoso ser capaz de amar, ser capaz de amar tanto os homens como as mulheres, e não me sentir culpada. Hostilidade, medo e culpa foram substituídos por amor. Cristina está ativa em sua igreja e tem diri­ gido grupos efetivamente. Ela quer que sua vida seja tão útil quanto possível. A vontade de Deus é seu mais alto ideal na v id a ./ ~ Comparativamente, poucas pessoas expe­ rimentam os problemas que marcaram a v'da de Cristina, mas a estória dela revela vividamente a maneira pela qual uma comunhão amorosa pode prover discernimento e o clima no qual a pessoa fica livre para crescer espi34

rltunlmente. Não é preciso se identificar com < rlstina para se sentir a dificuldade que aptendor a amar e perdoar envolve. A maioria de nós tem sua hostilidade, qualquer que seja nua origem, e sente-se culpada por ela. Durante os últimos anos, mais de doze mil pessoas participaram dos nossos grupos de companheirismo — * na costa oeste. Nosso propósito é o de ajudar as pessoas n tornarem o cristianismo relevante a todos os problemas da vida e ajudar os cristãos no sen­ tido de uma entrega maior. Usando várias centunas de grupos como experiência, começamos n descobrir alguns fatos importantes: Primeiro, que uma pessoa só pode entreunr a Deus a parte de si mesma que ela com­ preende e aceita; segundo, que uma pessoa nflo pode orar eficazmente enquanto não do­ minar suas barreiras emocionais; terceiro, que em grande parte não se tem consciência da maioria destas barreiras; quarto, que os cristãos, de modo geral, não estão mais bem integrados como personalidades do que os não-cristãos; quinto, que não faz diferença se uma pessoa é metodista, luterana, pentecostal, batista, epis­ copal, liberal ou conservadora em sua teologia — todos têm as mesmas necessidades espiri­ tuais e emocionais. Os membros dos grupos perdem de imediato todo o sentido do pertencer a denominações diferentes. Quase que logo de início eles sentiram que trabalham num nível mais profundo do que o oferecido pelas bonitas distinções teológicas. Sem negar ne­ nhuma de suas doutrinas, eles simplesmente passam a um outro terreno, onde a realidade de * No original, "yokefellow groups” .

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Deus e do amor transcende às insignificantes diferenças teológicas. Outro aspecto da experiência é o uso de inventários espirituais, que são feitos por, apro­ ximadamente, três mil pessoas por ano, só na costa Oeste. Esta idéia originou-se da experi­ ência do Dr. William R. Parker. Ele cha­ mou a isto de “terapia da oração” . Os inven­ tários são basicamente testes psicológicos fei­ tos para ajudar o crescimento espiritual e emo­ cional pelo uso de um sistema de “feedback” , ou realímentação, com folhas de avaliação se­ manais, entregues aos membros dos grupos. As foihas, distribuídas regularmente por um período de quinze a vinte e duas semanas, colocam em destaque algum aspecto da per­ sonalidade e freqüentemente apontam para uma emoção ou atitude não percebida que constitui uma séria barreira para o crescimento espiri­ tual. Num grupo de ministros, um dos membros recebeu uma folha indicando que ele experi­ mentava medo intenso de suas emoções, o que o impedia de poder dar e receber amor. Ele teve um pouco de dificuldade, a princípio, em aceitar o que afirmava a folha, pelo que disse: “Eu não tenho consciência de nenhum medo intenso, como diz a folha. É verdade que sou um pouco reservado, e mantenho minhas emo­ ções bem controladas, mas sempre considerei que isto fosse uma virtude, não um defeito.” Disseram-lhe que lesse sua folha de vez em quando, por que às vezes leva semanas ou meses, e mesmo mais tempo, para a pessoa aceitar uma emoção que enterrou bem abaixo do nível do consciente. O ministro disse a seu grupo, alguns meses mais tarde: “Vocês se lembram daquela folha 36