Epigenética considera que fatores ambientais também influenciam em nosso DNA (Foto: Darwin Laganzon/Pixabay) Show A descoberta do DNA é relativamente recente: ele foi identificado nos anos 1940 e representou uma revolução no conhecimento da genética. Graças a ele, a ciência compreendeu os princípios fundamentais da transmissão de características hereditárias e a possibilidade de mutações com modificação das “letras” do código genético. Em 2003, o sequenciamento completo do DNA do genoma humano permitiu decodificar e escrever os códigos da vida, desmistificando-os ainda mais. Durante muito tempo, a maior parte dos cientistas estava convencida de que os seres vivos eram um produto de seus genes. Tudo seria determinado por um programa genético herdado de ancestrais, e mutações ou variações levariam um longo período para aparecerem, seguindo o princípio de seleção darwiniana. Havia, porém, uma questão: 98% do espaço de armazenamento da informação genética que constitui o genoma é ocupado por DNA não codificante — ou seja, não contém os genes que carregam instruções para fazer as proteínas necessárias ao funcionamento do corpo. Isso significa que a maior parte do material genético, cuja principal função é codificar, não desempenha este trabalho. Sem saber o motivo, cientistas decidiram chamá-lo de “DNA lixo”. Mais recentemente, descobriu-se que parte desse material tem o papel de gerenciar a interação entre os genes. E essa interação depende, em grande parte, dos nossos comportamentos, emoções e estilo de vida. O “DNA lixo” está longe de ser inútil: ele forma o epigenoma, um conjunto de genes que determinam as modificações de uma célula causadas por outras moléculas que não só proteínas e enzimas. A descoberta representou o fim da crença de que “tudo é genética” e abriu campo para demonstrar que não existe fronteira entre gene e ambiente. Joël de Rosnay é um cientista francês com PhD em Biologia. Foi pesquisador e professor do MIT e diretor do Instituto Pasteur, na França (Foto: Divulgação) No recém-lançado A Sinfonia da Vida (Editora Planeta), o cientista francês Joël de Rosnay, autor de um estudo clássico sobre a origem da vida, escreve sobre os efeitos da descoberta da epigenética. Além de explicar sobre como podemos usá-la a nosso favor para mudar nossas próprias vidas, Rosnay estabelece uma relação entre a epigenética e a epimemética — a modificação dos genes do DNA social, os chamados “memes”, mostrando como a sociedade também pode influenciar nossos DNAs. Entenda na entrevista a seguir. Como o fim da ideia de que tudo é genética mudou a forma como a ciência entende quem nós somos e a maneira como lidamos com nossas vidas? O que é o “DNA lixo” e qual o seu papel na epigenética? É possível prever os efeitos da epigenética? Quanto tempo demora para aparecer os efeitos da epigenética e quanto eles duram? Você fala sobre “gerenciar nosso próprio corpo com epigenética” e como um “manual de epigenética” poderia ajudar as pessoas a alcançarem seus objetivos, como prevenir doenças. Quais seriam as regras fundamentais desse manual? Pode explicar a “teoria do meme social” e como ela pode ser relacionada à epigenética para se tornar a “epimemética”? Quais são os diferentes tipos de DNA social? O DNA social pode mudar nosso DNA individual e vice-versa? Se não podemos parar o uso de memes para espalhar e manipular ideias em uma grande escala, como podemos nos tornar menos suscetíveis a eles, de modo que tenham menor efeito na epimemética? O único meio de evitar o impacto das deep fakes é a coordenação cidadã com redes para detectá-las, discuti-las, avaliar a importância e reduzir sua influência. Certas plataformas como o Facebook começaram a detectá-las e a diminuir o impacto sobre seus associados. Pode dar exemplos de armas de “disrupção” em massa e como identificá-las? No livro, você fala sobre o poder das redes sociais, visto que graças a elas as pessoas agora podem se expressar e interagir diretamente com políticos e líderes econômicos. Entretanto, em muitos países uma grande parcela ainda não tem acesso às redes sociais, como é o caso do Brasil. Há risco de a
internet e as redes sociais criarem uma falsa impressão de democracia? Em alguns países, infelizmente, a população não tem acesso às redes digitais ou sociais, e muito frequentemente, nos países totalitários a internet é controlada por monopólios – sejam comerciais, como os das gigantes da internet (Google, Apple, Facebook, Amazon, Microsoft, Alibaba), sejam políticos, como na Turquia ou na China, onde a internet é regulamentada pelas autoridades. As mídias sociais controladas podem dar uma uma falsa impressão de liberdade e democracia. E mesmo quando elas não são controladas, podem apresentar o risco de representarem somente uma parte da população. Atualmente, em um país como a França, numerosos serviços governamentais são acessíveis somente por internet, negligenciando o fato de que as pessoas idosas ou com conexões ruins locais não são capazes de utilizá-la. O analfabetismo digital existe mais do que creem os governos. Como você acha que o mundo vai ser daqui a 50 anos, considerando as mudanças epimeméticas e epigenéticas acontecendo no momento? Daqui a 50 anos, penso que se a simbiose vencer, a humanidade também poderá vencer. O grande desafio é estabelecer uma simbiose respeitosa dos valores humanos com o meio ambiente. Essa é a questão à qual nós, cientistas, filósofos e prospectivistas [grupo no qual Rosnay se insere], nos apegamos para mudar o mundo. Capa do livro A Sinfonia da Vida (Editora Planeta), de Joël de Rosnay – 240 páginas, R$ 49,90 (Foto: Divulgação) Quantos genes nós temos?Os seres humanos têm aproximadamente 20.000 a 23.000 genes.
O que é gene humano?O gene é um segmento de uma molécula de DNA (ácido desoxirribonucleico), responsável pelas características herdadas geneticamente. Cada gene é composto por uma sequência específica de DNA que contém um código (instruções) para produzir uma proteína que desempenha uma função específica no corpo.
Quais genes nos fazem humanos?Organização molecular e conteúdo genético. É possível mudar a genética do corpo?Nova técnica de edição de DNA poderá curar até '89% das doenças genéticas' no futuro. Uma nova forma de editar o código genético humano pode corrigir até 89% de erros no DNA que causam doenças, dizem cientistas americanos.
Quais são os tipos de genes?Gene: saiba agora o que é, tipos e mais!. Genes dominantes x genes recessivos.. Genes ligados ao cromossomo X.. Homólogos.. |