A importância das famílias nos cuidados de enfermagem: a visão do enfermeiro de família

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A IMPORTÂNCIA DAS FAMÍLIAS NOS CUIDADOS DE

ENFERMAGEM: A VISÃO DO ENFERMEIRO DE FAMÍLIA

Eliana da Igreja Fernandes Pires

Orientação científica:

Professora Doutora Adília Maria Pires da Silva Fernandes Professor Doutor Carlos Pires Magalhães

Dissertação apresentada à Escola Superior de Saúde de Bragança para obtenção do grau de Mestre em Enfermagem de Saúde Familiar

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A IMPORTÂNCIA DAS FAMÍLIAS NOS CUIDADOS DE

ENFERMAGEM: A VISÃO DO ENFERMEIRO DE FAMÍLIA

Eliana da Igreja Fernandes Pires

Dissertação apresentada à Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Enfermagem de Saúde Familiar, realizada sob a orientação científica da Professora Doutora Adília Maria Pires da Silva Fernandes e do Professor Doutor Carlos Pires Magalhães.

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Resumo

A relevância da família nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) tem vindo a evidenciar-se na implementação de políticas de saúde. É premente a preocupação e o compromisso de integrar as famílias nos cuidados de saúde, tendo em vista a promoção e manutenção da saúde familiar. A enfermagem familiar nos CSP tem vindo a ser valorizada e reconhecida, sendo o pilar dos cuidados de saúde ao longo do ciclo vital do ser humano, razão pela qual entendemos pertinente conhecer as atitudes dos enfermeiros em CSP. Delineados os objetivos: Identificar a importância atribuída pelos enfermeiros de família à participação da família nos cuidados de enfermagem e relacionar as atitudes dos enfermeiros com as variáveis sociodemográficas e profissionais. Trata-se de um estudo observacional, descritivo, analítico e transversal de cariz quantitativo, aplicado a 90 enfermeiros de família a exercer funções em Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados do distrito de Bragança integradas na Unidade Local de Saúde do Nordeste. O instrumento utilizado foi o questionário constituído por questões sociodemográficas e profissionais e a escala “Importância das Famílias nos Cuidados de Enfermagem - Atitudes dos Enfermeiros”, validada para a população portuguesa por (Oliveira et al., 2009). Os resultados do estudo evidenciam a não existência de associação estatística nos cruzamentos das dimensões da escala com as variáveis idade, experiência profissional, formação profissional e formação em enfermagem de família. Verificou-se existência estatisticamente significativa com as variáveis do título profissional na dimensão Família como um fardo (p=0,029), da experiência pessoal com familiares doentes na dimensão Família como um recurso nos cuidados de enfermagem (p=0,009), e da experiência profissional com utentes doentes nas dimensões Família como um parceiro dialogante e recurso de coping (p= 0,015) e Família como um recurso nos cuidados de enfermagem (p=0,003). A presente investigação evidencia atitudes positivas na integração e inclusão da família na prestação de cuidados de enfermagem nos CSP do distrito de Bragança, sendo imprescindível a promoção na parceria de cuidados da família com os enfermeiros.

Palavras - chave: Família, Enfermagem Familiar, Atitude do Pessoal de Saúde, Cuidados de Enfermagem.

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Abstract

The relevance of family in the Primary Healthcare (PHC) has been becoming clear in the health policies implementation. The concern and commitment to integrate families in the healthcare is pressing, owing to the promotion and maintenance of family healthcare. Family nursing in the PHC has been valued and recognized, being the cornerstone of the healthcare, throughout the human’s life cycle, this being the reason why we find relevant knowing the attitudes of nurses in PHC. Defined Goals: Identifying the importance given by the family nurses to the participation of family in the nursing care and relating the nurses’ attitudes with the sociodemographic and professional variables. It is an observational, descriptive, analytical and of cross-quantitative nature study, applied to 90 family nurses exercising functions in Personalized Healthcare Units in the district of Bragança, integrated in the Local Health Unit of the Northeast. The used instrument was a questionnaire, constituted by sociodemographic and professional questions and the “Importance of Family in the Nursing Care – Nurses’ Attitudes” scale, validated for the Portuguese population by (Oliveira et al., 2009). The study’s results show the non-existence of any statistical association between the crossing of the scale’s dimensions and the variables age, professional experience, professional formation and formation in family nursing. The statistically significant existence has been verified, with the variables of professional title in the Family as a burden dimension (p=0,029), personal experience with sick relatives in the Family as a resource dimension nursing care (p=0,009), and professional experience with sick users in the Family as a dialoguing partner and a coping resource dimensions (p=0,015) and Family as a resource in the nursing care (p=0,003). The present investigation shows positive attitudes towards the integration and inclusion of family in the nursing care in the PHC in the district of Bragança, being the promotion indispensable in the family care partnership with the nurses.

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Agradecimentos

Reservo estas palavras de agradecimento àqueles que me apoiaram na realização deste trabalho, que constitui mais uma etapa do meu percurso académico.

Deste modo, gostaria de deixar público o meu especial agradecimento a todos os que me ajudaram a concretizar este estudo.

Agradeço a todos os professores do curso e em particular aos Orientadores, Professora Doutora Adília Fernandes e ao Professor Doutor Carlos Magalhães, pela disponibilidade e prontidão em assumir a orientação deste estudo, simpatia, compreensão e pelo modo como o acompanharam.

Este agradecimento é extensível ao Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde do Nordeste, Enfermeira Diretora e à Comissão de Ética da Unidade Local de Saúde do Nordeste (ULSNE), pelo parecer favorável na operacionalização deste estudo mediante a aplicação do instrumento da colheita de dados.

Aos Enfermeiros Chefes das Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados do distrito de Bragança, que colaboraram no sentido de envolver os inquiridos no preenchimento dos questionários.

Aos enfermeiros que participaram nesta investigação, respondendo generosamente ao instrumento de colheita de dados.

Por fim, mas não menos importante, agradeço à minha família, particularmente aos meus filhos e marido pelo incentivo e apoio para que este trabalho se tornasse uma realidade.

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Abreviaturas, acrónimos e siglas

CS - Centro de Saúde

CSP - Cuidados de Saúde Primários

ESSa - Escola Superior de Saúde de Bragança

IFCE-AE - Importância das Famílias nos Cuidados de Enfermagem – Atitudes dos Enfermeiros

IFPSF - Inventário das Forças de Pressão do Sistema Familiar FINC-NA - Families Importance in Nursing Care-Nurse Attitudes MDAIF - Modelo Dinâmico de Avaliação e Intervenção Familiar OE - Ordem dos Enfermeiros

OMS - Organização Mundial de Saúde p. - página

SNS - Serviço Nacional de Saúde

SPSS - Statistical Package for Social Science

UCSP - Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados ULSNE - Unidade Local de Saúde do Nordeste

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ÍNDICE

Introdução --- 1

CAPITULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO ... 4

1. A Família --- 5

1.1. Tipos e Estrutura da Família --- 7

1.2. Funções da Família --- 10

1.3. Família e Saúde --- 13

2. Enfermagem de Saúde Familiar --- 16

2.1. Abordagem Sistémica do Cuidado à Família --- 19

2.1.1. Abordagem de Enfermagem da Família --- 20

2.1.2. Teorias em Enfermagem da Família --- 21

2.2. Avaliação Familiar --- 23

2.2.1. Modelo de Avaliação e Intervenção da Família e o IFPSF --- 23

2.2.2. Modelo e Formulário de Avaliação da Família de Friedman --- 24

2.2.3. Modelo de Avaliação Familiar de Calgary --- 24

2.2.4. Modelo Dinâmico de Avaliação e Intervenção Familiar --- 29

3. Atitudes dos Enfermeiros --- 30

3.1. Componentes das Atitudes --- 30

3.2. Caraterísticas das Atitudes --- 31

3.3. Funções Psicológicas das Atitudes --- 31

3.4. Atitudes Face à Família --- 32

CAPITULO II – ESTUDO EMPÍRICO ... 36

1. Enquadramento Metodológico --- 37

1.1. Contextualização e objetivos do estudo --- 37

1.2. Tipo de estudo --- 39

1.3. População--- 39

1.4. Instrumento de recolha de dados e operacionalização das variáveis em estudo 40 1.5. Procedimentos de recolha de dados e considerações éticas --- 44

1.6. Procedimentos de análise dos dados --- 45

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2.1. Objetivo 1 – Identificar a importância atribuída pelos enfermeiros de família à

participação da familía nos cuidados de enfermagem. --- 53

2.2. Objetivo 2 – Relacionar as atitudes dos enfermeiros com as variáveis sóciodemográficas e profissionais. --- 57

3. Discussão dos Resultados --- 66

Conclusões, limitações e sugestões --- 72

Referências Bibliográficas --- 75

Anexos --- 80

Anexo I – Número total de enfermeiros de família do distrito de Bragança integrados na ULSNE --- 81

Anexo II – Questionário --- 83

Anexo III – Autorização com parecer positivo dos autores da escala IFCE-AE --- 88

Anexo IV – Pedido de autorização à Comissão de Ética da ULSNE para aplicação do questionário--- 90

Anexo V – Autorização da Comissão de Ética da ULSNE para aplicação do questionário nas Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados --- 92

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Estrutura Concetual de Enfermagem de Família ... 16 Figura 2 - Abordagem de Enfermagem da Família ... 20 Figura 3 - Diagrama Ramificado do Modelo de Avaliação da Família de Calgary ... 25

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ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Caraterização da amostra segundo o Sexo ... 46

Gráfico 2 - Caraterização da amostra segundo a Idade ... 47

Gráfico 3 - Caraterização da amostra segundo Habilitações Académicas ... 47

Gráfico 4 - Caraterização da amostra segundo Título Profissional ... 48

Gráfico 5 - Caraterização da amostra segundo Experiência Profissional ... 49

Gráfico 6 - Caraterização da amostra segundo o Tempo de Funções em Cuidados de Saúde Primários ... 49

Gráfico 7 - Caraterização da amostra segundo a Unidade de Cuidados de Saúde Personalizada do distrito de Bragança ... 50

Gráfico 8 - Caraterização da amostra segundo Curso de Graduação ou Pós-Licenciatura de Especialização ... 51

Gráfico 9 - Caraterização da amostra segundo Formação em Enfermagem de Família 51 Gráfico 10 - Caraterização da amostra segundo Experiência Pessoal, com familiares doentes ... 52

Gráfico 11 - Caraterização da amostra segundo ajuda e colaboração da família na Experiência Pessoal, com familiares doentes ... 52

Gráfico 12 - Caraterização da amostra segundo ajuda e colaboração da família na Experiência Profissional, com familiares doentes. ... 53

Gráfico 13 - Análise do cruzamento Título Profissional com a dimensão Família como um parceiro dialogante e recurso de coping ... 60

Gráfico 14 - Análise do cruzamento Título Profissional com a dimensão Família como um recurso nos cuidados de enfermagem ... 61

Gráfico 15 - Análise do cruzamento Título Profissional com a dimensão Família como um fardo ... 61

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Tipos de Família ... 8

Tabela 2 - Classificação das Famílias ... 9

Tabela 3 - Conceitos inerentes à Estrutura Familiar... 10

Tabela 4 - Funções da Família Tradicional ... 11

Tabela 5 - Funções da Família Contemporânea ... 12

Tabela 6 - Caraterísticas das Famílias Saudáveis ... 14

Tabela 7 - Ciclo de Vida da Família - Modelo de Duvall ... 27

Tabela 8 - Funções Psicológicas das Atitudes ... 32

Tabela 9 - Fidelidade dos resultados da Escala IFCE-AE da adaptação Portuguesa ... 43

Tabela 10 - Fidelidade dos resultados da Escala IFCE-AE da adaptação Portuguesa do estudo atual ... 44

Tabela 11 - Distribuição dos inquiridos segundo os dados da Escala IFCE-AE ... 55

Tabela 12 - Estatística descritiva das dimensões da Escala IFCE-AE ... 56

Tabela 13 - Correlação de Pearson das dimensões da Escala IFCE-AE ... 57

Tabela 14 - Relação entre as variáveis Sociodemográficas e Profissionais da Escala IFCE-AE ... 58

Tabela 15 - Resultados do teste One-Way ANOVA entre a variável Idade e as dimensões da Escala IFCE-AE ... 59

Tabela 16 - Resultados do teste T-student entre a variável Título Profissional e as dimensões da Escala IFCE-AE ... 60

Tabela 17 - Resultados do teste One-Way ANOVA entre a variável Experiência Profissional e as dimensões da Escala IFCE-AE... 62

Tabela 18 - Resultados do teste T-student entre a variável Curso de Pós-Graduação e/ou Pós-Licenciatura de Especialização e as dimensões da Escala IFCE-AE ... 63

Tabela 19 - Resultados do teste T-student entre a variável Formação em Enfermagem de Família e as dimensões da Escala IFCE-AE ... 63

Tabela 20 - Resultados do teste T-student entre a variável Experiência Pessoal, com familiares doentes e as dimensões da Escala IFCE-AE ... 64

Tabela 21 - Resultados do teste T-student entre a variável Experiência Profissional, com utentes doentes e as dimensões da Escala IFCE-AE ... 65

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Introdução

A família, enquanto sistema social, integra uma diversidade de valores, crenças, conhecimentos e práticas que a tornam singular e única, não obstante a sua rede de múltiplas relações transformam-na sistematicamente mediante processos de coconstrução relativos à sua complexidade e multidimensionalidade (Figueiredo, 2009).

Atualmente, em Portugal a relevância da família nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) tem vindo a evidenciar-se, quer ao nível do desenvolvimento da literatura, quer na implementação de políticas de saúde (Silva, Costa & Silva, 2013).

O interesse pela saúde familiar e a participação da família nos cuidados, inclusive a metodologia adotada pelo enfermeiro de família nos Cuidados de Saúde Primários levou à definição da temática em estudo “A Importância das Famílias nos Cuidados de Enfermagem: a visão do Enfermeiro de Família”.

A família é definida como uma unidade básica da sociedade, centrando-se no processo de desenvolvimento individual e social do ser humano, desempenhando um papel importante na saúde e contribuindo para o bem-estar dos diferentes elementos que compõem a estrutura familiar. É premente a preocupação e o compromisso de integrar as famílias nos cuidados de saúde, tendo em vista a promoção, manutenção e restabelecimento da saúde familiar (Bezerra et al., 2013).

Os mesmos autores, realçam ainda que

A Promoção da Saúde é discutida desde a I Conferência Internacional sobre Cuidados Primários em Saúde, em Alma-Ata (1978), no Cazaquistão e foi reforçada na I Conferência sobre Promoção da Saúde, em Ottawa, no Canadá (1986). Inicialmente, compreende-se a Promoção da Saúde como proposta de “empoderamento” das pessoas, famílias e comunidades, que permita sua plena e efetiva participação na discussão e elaboração das políticas públicas, as quais colaboram para a melhoria da qualidade de vida. O conceito amplia-se na ideia de produção de ambientes saudáveis (seja ele familiar, no trabalho, no lazer),

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2

buscando a redução das vulnerabilidades e mais recentemente, valorizando as redes sociais que fortalecem o suporte social (p. 271).

A definição de família segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) remete para a promoção da saúde e redução da doença, desde a fase inicial da existência humana quando são assimiladas crenças e comportamentos de saúde por parte do indivíduo, que vão evoluindo gradualmente no decurso do seu ciclo de vida. Decorrente do processo de socialização e das diversas alterações que ocorrem na sociedade, particularmente no acesso aos serviços de saúde, a família assume um papel preponderante de cuidador e de suporte social, afetivo e emocional do indivíduo, sendo simultaneamente o pilar face ao impacto que as transformações sociais provocam (OMS, 2002).

Nesta linha de pensamento, Figueiredo (2009) refere que a família, estrutura constituída como um todo organizado, sofre mudanças a nível emocional durante a fase de sofrimento de um dos seus membros, o que promove as inter-relações familiares nos diferentes contextos de vida diária no sentido de as conseguir ultrapassar.

A este respeito, a Ordem dos Enfermeiros (OE) (2010) realça que o enfermeiro de família contribui para a ligação entre a família, os outros profissionais e os recursos da comunidade já que na sua área de intervenção, cuida da família e presta cuidados gerais e específicos nas diferentes fases da vida do individuo e da família em articulação com outros profissionais de saúde.

O contexto social apresenta novas necessidades de saúde, a prática profissional centrada na família pressupõe a adoção de um modelo integral, no qual os problemas individuais são vistos no âmbito do quadro familiar e social, bem como na participação de todas as pessoas implicadas no processo de cuidados, sendo a sua qualidade influenciada pelos comportamentos e atitudes dos enfermeiros sobre a importância de incluir as famílias nos cuidados de enfermagem (Araújo, 2010).

A partir destes pressupostos definiu-se o tema da presente investigação, tendo como pergunta de partida: Qual a importância atribuída pelo enfermeiro de família à participação da família nos cuidados de enfermagem?

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3

Identificar a importância atribuída pelos enfermeiros de família à participação da família nos cuidados de enfermagem;

Relacionar as atitudes dos enfermeiros com as variáveis sociodemográficas e profissionais.

Para dar resposta à pergunta de partida e respetivos objetivos desenvolveu-se um estudo do tipo observacional, descritivo, analítico e transversal de cariz quantitativo Pais Ribeiro (2007), tendo sido implementado nos Centros de Saúde (CS) do distrito de Bragança integrados na Unidade Local de Saúde do Nordeste (ULSNE), aos enfermeiros de família que exercem funções nas Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP).

Para uma melhor organização, o trabalho foi estruturado em duas partes fundamentais, a primeira parte engloba os conceitos teóricos que justificaram a escolha da temática e a segunda parte identifica os procedimentos relacionados com o enquadramento metodológico, incluindo a apresentação, análise e discussão dos resultados, seguida da conclusão, onde se enquadrou a síntese dos principais resultados, bem como as limitações encontradas e as implicações para o futuro na enfermagem de saúde familiar.

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4

(16)

5

1.

A Família

Etimologicamente, a palavra família tem a sua origem no latim, derivando do termo romano “famulus” que significa servidor, não tendo o significado atual do termo, nem o enquadramento nas estruturas, papéis e funções da noção de família moderna (Leandro, 2006).

Johnson (1992), citado por Lancaster e Stanhope (1999, p. 493) defendia que

(…) a família é composta por dois ou mais indivíduos, pertencendo ao mesmo ou a diferentes grupos de parentesco, que estão implicados numa adaptação continua à vida, residindo habitualmente na mesma casa, experimentando laços emocionais comuns e partilhando entre si e com as outras certas obrigações. Cada família tem a sua identidade e unicidade, sendo impensável a sua descrição apenas com base nos indivíduos que a constituem, pois organiza-se numa estrutura relacional complexa onde se definem as funções e os papéis de cada um, bem como as expetativas sociais, o que significa que a forma específica e singular como cada família se posiciona é efetivamente única para aquela família, pelo que “(…) não há duas famílias iguais, embora todas sejam família e funcionem como tal”(Relvas, 2004, p. 14).

Segundo Hanson (2005, p.6), “(…) família refere-se a dois ou mais indivíduos que dependem um do outro para dar apoio emocional, físico e económico. Os membros da família são autodefinidos”.

No que concerne à concetualização da família, também Murdock (2003), citado por Alarcão e Relvas (2007, p. 55), refere que a família é “(…) estrutura social ou universal pruduzida pela evolução da sociedade humana, que é, presumivelmente, o único ajustamento possível a uma série de necessidades básicas”.

A família quando organizada como estrutura na sua globalidade, sofre mudanças e alterações de valorizar quando um dos seus membros tem um problema de saúde, pois as angústias, os medos, os sofrimentos e as dúvidas, estão presentes assim como as incertezas no decorrer do tratamento e prognóstico. A família como estrutura no seu todo carateriza-se fundamentalmente quando estabelece interrelações entre os seus

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6

membros, num contexto específico de estrutura, organização e funcionalidade (Figueiredo, 2009).

Minuchin e Fishman (2003) citado por Freitas (2009, p.30) consideram “(…) a família como subsistema de unidades mais amplas - a família extensa, a vizinhança, a sociedade como um todo”.

A família pode ser entendida como um grupo de seres humanos, vistos como uma unidade social ou um todo coletivo, composta por membros ligados através da consanguinidade, afinidade emocional ou parentesco legal, sendo vista para além dos indivíduos e da sua relação sanguínea de parentesco, relação emocional ou legal, incluindo pessoas importantes para o utente, que constituem as partes do grupo (OE, 2010).

Na perspetiva de Rebelo et al. (2011), a família é considerada na sociedade como unidade elementar e é reconhecida a sua importância nos elementos que a integram relativamente à saúde e a doença. O conceito de “(…) família remete geralmente para a existência de um conjunto de pessoas unidas por laços de parentesco ou afinidade, que coabitam e se apoiam reciprocamente” (p. 11).

Estudos de arqueologia e antropologia apresentaram provas de vida familiar pré-histórica, isto é, a existência de famílias anteriores às fontes históricas escritas, onde as funções da família se mantêm constantes ao longo dos tempos. A estrutura, o processo e a função familiar em resposta às necessidades diárias dos seres humanos, da própria família e da sociedade, ao longo da evolução, foram-se tornando mais institucionalizadas e homogéneas. Embora a díade homem/mulher seja a unidade mais antiga e tenaz da história, em que a família nuclear domina a vida moderna, na maior parte das sociedades, o reprodutor tornou-se em “casal” protetor com unidade económica. Há também necessidade de socialização e à medida que pequenos grupos de famílias conjugais começam a formar comunidades a complexidade de ordem social aumenta, alterando-se a definição de família. Inicialmente a entidade familiar é constituída pela figura do marido e mulher, com papéis sociais bem demarcados, em que os homens trabalhavam fora de casa e asseguravam o sustento da família, as mulheres realizavam trabalho doméstico, e competia-lhes a socialização dos novos membros. Nessa altura, os elementos da família dependiam economicamente do chefe de família, mas a partir da década de sessenta, as mulheres reivindicavam o

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reconhecimento dos seus direitos, iguais aos dos homens em todos os planos da vida social determinando a partilha das tarefas familiares, uma vez que ambos exerciam a profissão e contribuíam para o sustento da família. A partir da época de 1750, quando surgiu inicialmente a revolução industrial, as famílias alargadas começaram a escassear e começam a surgir as famílias nucleares, e tanto no Continente Europeu como no Continente Americano a sociedade das famílias altera-se, mais por uma lógica económica do que por uma lógica consanguínea, pois ambos os elementos nucleares tinham que trabalhar, alterando a estrutura básica das famílias (Hanson, 2005).

Atualmente as famílias não podem ser separadas do vasto sistema de que fazem parte, nem ser desligadas do seu passado histórico, já que tal como algumas famílias antigas e atuais assumiram comportamentos diferentes para com instituições sociais, também o contrário acontece proporcionando um ambiente saudável, assim a família como instituição é essencial ao indivíduo e à sociedade (Rodrigues, 2013).

Neste contexto, é pertinente uma abordagem à alteração da tipologia e funções familiares.

1.1. Tipos e Estrutura da Família

A partir da segunda metade do século XX, assiste-se ao aumento do número de famílias comparativamente com o aumento da população, tornando-se cada vez mais pequenas, aumentando o número de famílias do tipo nuclear ou unipessoal, em detrimento da família extensa e múltipla, o que se justifica pelo aumento da esperança de vida e pela diminuição acentuada da natalidade, o que em termos práticos se traduz num maior número de casais idosos e indivíduos a viverem sós (viúvos e viúvas). As famílias podem ter estruturas e funções diferentes, de acordo com os países e culturas onde se inserem, como consequência de opções individuais e de valores sociais e pela influência das tendências sociais e do ambiente exterior. No entanto, a unidade familiar sobrevive como uma unidade social importante em quase todas as sociedades, independentemente do tipo de família (Nogueira, 2003).

O tipo de família é uma classificação importante, efetivada com intuito de diferenciar a sua composição e os vínculos entre os seus membros. “A identificação do tipo de família permite a incorporação das múltiplas formas de organização familiar e a diversidade inerente à sua configuração” (Figueiredo, 2012, p.74).

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Já Potter e Perry, em 2003, defendiam a classificação da família por tipos, como se descreve na tabela 1.

Tabela 1

Tipos de Família

Família Nuclear Esta família é composta por marido e mulher (e talvez um ou mais filhos).

Família Alargada Esta família inclui parentes (tias, tios, avós e primos), para além da família nuclear.

Família Monoparental

Esta família é formada quando um dos pais deixa a família nuclear devido à morte, divórcio ou abandono, ou quando uma pessoa solteira decide ter ou adotar

uma criança.

Família Reconstituída

Esta família é formada quando os pais trazem filhos de relações parentais ou de acolhimento anterior, para uma nova situação de coabitação.

Padrões Alternativos de Relações

Estas relações incluem agregados familiares com vários adultos, famílias com gerações de pais ausentes (avós a criarem netos), comunidades com filhos,

“não-famílias” (adultos a viverem sozinhos), parceiros em coabitação e casais homossexuais.

Fonte: Potter & Perry (2003, p. 535)

A este respeito, e pela evolução que a tipologia familiar foi atravessando Minunchin (1974) citado por Muñuz et al. (2012) definiram a classificação das famílias segundo a estrutura familiar, que se descrevem na tabela 2.

(20)

9

Tabela 2

Classificação das Famílias Família nuclear

simples

São as famílias em que vivem os cônjuges e menos de três filhos.

Família nuclear numerosa

Formada por três ou mais filhos com os seus pais.

Família extensa e de origem alargada

Vivem avós, irmãos, tios, primos, todos unidos por laços de consanguinidade. É importante valorizar a hierarquia.

Famílias extensa

composta É aquela em que vivem outras pessoas sem vínculo sanguíneo.

Família

monoparental É constituída por um só cônjuge e seus filhos.

Família

homoparental Constituída por cônjuges do mesmo sexo e seus filhos.

Família binuclear e reconstituída

Aquelas famílias em que um dos cônjuges, ou ambos, são divorciados e coabitam filhos de pelo menos um dos progenitores.

Sem família Neste tipo comtempla-se não só o adulto solteiro, mas também o divorciado ou o

viúvo sem filhos.

Equivalentes familiares

Trata-se de indivíduos que vivem no mesmo lugar sem constituir um núcleo familiar tradicional, como por exemplo, grupos de amigos que vivem juntos, religiosas que vivem fora da sau comunidade e/ou pessoas que vivem em

residências ou asilos.

Fonte: Minunchin (1974) citado por Muñuz et al. (2012, p.2444)

Jiménez Godoy (2005) citado por Muñoz et al,. (2012) refere que a família estrutura a sua própria realidade de acordo com as suas expetativas, cultura e crenças, influenciando a forma como os membros da família se relacionam e a dinâmica que adota cada um dos membros.

A estrutura familiar organiza-se segundo as suas funções para que os membros da família se relacionem e obedeçam aos conceitos (Minuchin,1974, citado por Muñoz et al., (2012), descritos na tabela 3.

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Tabela 3

Conceitos inerentes à Estrutura Familiar

Hierarquia Define a função do poder e a diferença dos papéis dos pais e dos filhos. Considera-se

uma hierarquia clara e inequívoca, requisito necessário para a funcionalidade da família.

Limites Inclui as regras que determinam quais os membros dos diferentes subsistemas a sua

participação e de que forma.

Alianças Faz referência às uniões relacionais positivas entre certos membros do sistema

familiar.

Adaptabilidade É a capacidade do sistema familiar para sobreviver, num processo dinâmico e da

capacidade da família em modificar as suas rotinas, caso seja necessário.

Coesão Representa os laços emocionais que os membros da família apresentam entre si.

Subsistema conjugal

É formado pelo casal e em torno deste se formam todas as relações. Possuem funções específicas vitais para o posterior funcionamento da família.

Subsistema parental

É formado por pais e filhos. Representa o poder executivo e exerce as suas funções organizativas básicas. Neste subsistema são primordiais os princípios de autoridade, hierarquia e diferenciação dos membros, com a necessidade de partilhar sentimentos

de união e apoio.

Subsistema fraternal

É formado pelos irmãos. As relações entre irmãos são muito significativas e constituem um campo de aprendizagem, onde se desenvolve a cooperação, a

negociação e a competição.

Fonte: Muñoz et al. (2012, p. 2444)

A estrutura familiar refere-se às caraterísticas demográficas de cada membro da família, em particular, a estrutura familiar determina os papéis, as funções e posições hierárquicas dos membros da unidade familiar (Stanhope & Lancaster, 2008).

A este respeito, de seguida abordam-se as funções da família, numa perspetiva historicamente evolutiva, passando das famílias tradicionais às famílias contemporâneas.

1.2. Funções da Família

As famílias, no decorrer da sua evolução desempenharam funções tradicionais, que segundo Hanson (2005) são as que figuram na tabela 4.

(22)

11

Tabela 4

Funções da Família Tradicional Assegurar a

sobrevivência económica

O pai sustentava o lar trabalhando para fora. Enquanto a mãe era esposa, dona de casa e educadora dos filhos. Famílias numerosas por razões

económicas, da qual todos contribuíam e todos beneficiavam.

Reproduzir a espécie Em tempos anteriores os casais só tinham relações sexuais e filhos após o casamento.

Proporcionar proteção Os membros da família precisam uns dos outros como forma de união e

proteção, dos mais vulneráveis (crianças, idosos e incapacitados).

Transmissão da fé religiosa

A fé fazia parte integrante da vida diária e familiar. Respeito pela tradição e valores religiosos.

Proporcionadora de educação e socialização

Transmissão da cultura de uma geração para a seguinte, preparando os seus membros, os rapazes preparavam-se para trabalhar para o negócio e gestão,

enquanto as raparigas aprendiam a ser as donas de casa.

Conferir estatuto O nome da família predispunha o estatuto social onde a família era incluída.

Era muito importante ter nome de família conceituado numa sociedade com estratificação social rígida.

Fonte: Hanson (2005, p. 27-28)

Com o decorrer dos tempos a sociedade sofreu alterações visíveis manifestando-se pela mudança das funções e pela introdução de novas funções da família, às quais Hanson (2005) faz referência definindo-as como funções das famílias contemporâneas, como se pode observar na análise da tabela 5.

(23)

12

Tabela 5

Funções da Família Contemporânea

Função económica A dependência económica da família não depende só do chefe de família, existe

maior independência financeira. Os filhos são considerados como luxos dispendiosos e não como bens económicos.

Função

reprodutora A sexualidade e a procriação deixaram de ter fronteiras matrimoniais.

Função de proteção

Já não tem tanta importância devido à existência de instituições de assistência sociais e legais desvinculando o papel de proteção familiar.

Função religiosa A transmissão da religiosidade foi relegada para as instituições religiosas,

desvalorizando os valores religiosos e culturais.

Função educativa e de socialização

A função educativa da família tem-se perdido e transferido para as escolas, incumbindo à escola para além da função de instrução, a de educação.

Função de conferir estatuto social

O nome de família deixa de dar status. O estatuto é obtido pela instrução, profissão, rendimento e residência.

Função de relação É uma nova função das famílias contemporâneas. Os casais unem-se, casam-se e

têm filhos, não por necessidade de proteção e sustentabilidade mas pelo sentimento e intimidade.

Função de saúde A família é a gênese da saúde física e mental de toda uma vida. A alteração do

padrão de saúde de um dos membros afeta todo o agregado familiar, assim como, a promoção da saúde é feita pela transmissão de atitudes, crenças e hábitos.

Fonte: Hanson (2005, p. 28-29)

Figueiredo (2012) reforça que a família, enquanto grupo, vai evoluindo tendo em conta os seus objetivos e desenvolvendo determinadas funções que ao longo dos tempos se vão alterando. As alterações referenciadas são influenciadas pelos contextos em que a família se insere, respeitando as normas e adquirindo vivências diversificadas. Tradicionalmente eram atribuídas à família, funções de reprodução da espécie, de segurança e proteção, funções económicas de produção de bens, através da divisão sexual e do trabalho. Atualmente, todas as famílias têm determinadas funções que são desempenhadas para manter a integridade da unidade familiar e dar resposta às suas necessidades, às necessidades dos seus membros individualmente e às expetativas da sociedade.

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13

A família deve ser considerada como um todo, enquanto objeto de prestação de cuidados de saúde e tendo em conta a sua relevância na sociedade, fomentou a conceção da atual Enfermagem de Saúde Familiar (Regulamento n.º 367/2015)

1.3. Família e Saúde

A família assume uma estrutura dinâmica em constante mudança, mas a estrutura familiar depende das particularidades, especificidades e demografia dos membros que a constituem, influenciando o estado de saúde familiar. Para determinar estruturas familiares existem aspetos a ser considerados como: a identificação dos indivíduos que compõem a família, as relações entre eles, as suas interações e as interações destes com outros sistemas sociais segundo Denham (2005, citado por Stanhope & Lancaster, 2008).

O conceito de saúde da família é utilizado em paralelo com os conceitos de funcionalidade da família e famílias saudáveis. Refere-se frequentemente à saúde mental dos elementos que constituem cada estrutura familiar. Em relação à funcionalidade, podemos agrupar as famílias funcionais e disfuncionais. Estas famílias disfuncionais denominadas de não complacentes muitas das vezes são “rotuladas” por não serem um exemplo e por não funcionarem interna e externamente (Stanhope & Lancaster, 2008).

Hanson (2005, p.7) refere que o conceito de saúde familiar “(…) é um estado dinâmico de relativa mudança de bem-estar, que inclui os fatores biológicos, psicológicos, espiritual sociológico e cultural do sistema familiar”.

O conceito de saúde familiar depende em simultâneo da saúde e da doença de cada individuo, afetando o funcionamento da família, e por sua vez, o funcionamento da família afeta a saúde dos indivíduos. Existe uma abordagem bio-psico-sociocultural e espiritual que deve ser avaliada individualmente e em relação à unidade familiar, em consonância com o meio envolvente e da comunidade em que a família está inserida (Stanhope & Lancaster, 2008).

As famílias saudáveis consideradas funcionais assumem as necessidades relacionais e de autorrealização como prioritárias, visto que as necessidades básicas estão resolvidas e bem estabelecidas. Nestas circunstâncias, para Carter e McGoldrick (1998), citado por Stanhope e Lancaster (2008) as famílias saudáveis baseiam as suas

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caraterísticas na vinculação e nas necessidades de natureza afetiva. Na tabela 6, apresentam-se as caraterísticas das famílias que são saudáveis e que funcionam adequadamente na sociedade em que se inserem.

Tabela 6

Caraterísticas das Famílias Saudáveis

 A família tende a comunicar bem e a ouvir todos os seus membros

 A família afirma e apoia todos os seus membros

 A educação para o respeito dos outros é valorizada pela família

 Os membros da família têm um sentimento de confiança

 A família diverte-se em conjunto e o humor está presente

 Todos os membros interagem entre si e existe um equilíbrio das interações entre os membros

 A família partilha tempos de lazer em conjunto

 A família tem um sentido de responsabilidade partilhado

 A família tem tradições e rituais

 A família partilha um sentido religioso

 A privacidade dos membros é respeitada pela família

 A família abre as suas fronteiras para procurar e acolher ajuda para os problemas

Fonte:Hanson SMH, Gedaly-Duff e Kaakinen Jr (2005) citado por Stanhope & Lancaster (2008, p. 583)

As famílias podem não ser consideradas totalmente boas, possuem capacidades e responsabilidades que influenciam nas rotinas diárias no sentido de se adaptarem e ultrapassarem as dificuldades presentes. A resiliência da família, não é mais que, a capacidade de resistir e ultrapassar às várias adversidades, sendo uma vertente de investimento por parte dos profissionais de saúde de extrema importância para a estabilidade e união familiar, assim como uma ferramenta de avaliação contínua dos enfermeiros de família (Stanhope & Lancaster, 2008).

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Segundo Hanson (2005) as famílias funcionais também têm dificuldades em conviver sob stress e desenvolvem estratégias de coping que podem ser ou não adequadas. Lazarus e FolKman (1984), citado pelo mesmo autor (p. 101) referem que coping familiar consiste em “(…) mudar constantemente os esforços cognitivos e comportamentais para lidar com exigências externas e/ou internas específicas, avaliadas como estando a sobrecarregar ou exceder os recursos da pessoa”.

Na família, o ser humano desenvolve e promove o conceito de saúde adquirindo hábitos saudáveis, por sua vez a dimensão emocional pode ter um efeito mediador ou de impacto que facilita a recuperação da saúde, quando um membro da família necessita de cuidados. Tratando-se da saúde familiar, o grau de suporte é compartilhado para que as necessidades de todos os membros sejam satisfeitas e não apenas que uma só pessoa se sacrifique continuamente (Nogueira, 2003).

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2.

Enfermagem de Saúde Familiar

Wright e Leahey (2002) são das primeiras teóricas a argumentar que a enfermagem de família surge da interceção de três áreas do conhecimento, as ciências de enfermagem, as ciências sociais e a terapia familiar.

As ciências sociais, servem-se da explicação do funcionamento e dinâmica familiar, a nível da terapia familiar utiliza a abordagem terapêutica centrada nas forças da família e no domínio das ciências de enfermagem, que refletem os valores, teorias e conceções, cujo sentido de pessoa e ambiente de cuidados guiam a avaliação, bem como a intervenção do enfermeiro no processo de saúde/doença (Hanson, 2005).

Na linha de pensamento do mesmo autor, a “(…) perspetiva transversal do conceito de Enfermagem de Saúde Familiar, que simultaneamente integra o indivíduo, a família e a comunidade tem objetivo da promoção, manutenção e recuperação da saúde da família” (p. 216). Deste modo, o cruzamento dos conceitos de indivíduo, família, sociedade e enfermagem de família carece de uma abordagem social complexa, em que o enfermeiro recorre a abordagens sistemáticas da família (Figura 1). Na prática dos cuidados de enfermagem de família pretende-se promover a mudança, ajudando as famílias a identificar os problemas, as estratégias de coping e os recursos, facilitando os fluxos positivos entre os suprassistemas da comunidade e os sistemas familiares.

Figura 1 - Estrutura Concetual de Enfermagem de Família

Fonte: Hanson (2005, p.8) Sociedade Família Indivíduo Enfermagem de Família

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Para os profissionais de enfermagem é visível o interesse no foco familiar, o que é defendido por Wright e Leahey (2009) quando apresentam o seguinte:

- na saúde das famílias, a promoção, manutenção e a recuperação tem importância para a sobrevivência da sociedade;

- a saúde e a doença são conteúdos relevantes na família;

- a família é um todo, sendo assim é afetada quando um dos seus membros vivencia problemas de saúde, alterando o estado de bem-estar de todos os membros;

- a saúde e os comportamentos individuais afetam a família como um todo tendo impacto crucial na resolução dos problemas nos restantes elementos da família;

- a eficácia dos cuidados de saúde é melhorada quando a ênfase é colocada sobre a família e não apenas sobre o indivíduo.

A família é determinante para estabelecer a independência entre os seus membros facilitando o crescimento pessoal. Apesar de cada membro ter a sua autonomia e personalidade, a família deve manter a integridade de cada indivíduo e criar regras que dirigem a conduta dos seus membros. Estas normas de comportamento não explícitas vão-se estabelecendo com a convivência e afetam a privacidade, os modelos interativos, a autoridade e a tomada de decisões; a família muda para adaptar-se ao meio (Marinheiro, 2002).

O enfermeiro deve procurar, juntamente com a família, a melhor forma de integrar a prestação de cuidados decorrente da alteração de saúde, das rotinas familiares diárias e se necessário, mobilizar recursos existentes na comunidade. No entanto, a intervenção de enfermagem deverá ser no sentido de trabalhar com a família e não para a família, respeitando sempre a sua autonomia e capacidade de decisão em função dos seus valores (Potter & Perry, 2003).

A este respeito, as políticas são claras, quando referem a importância do papel do enfermeiro de família, como consta da publicação da OMS (2002), na temática Saúde Para Todos no Século XXI e cumprindo o pressuposto da Meta 15, “(…) onde é defendida a necessidade de um setor da saúde mais integrado, com ênfase mais forte nos CSP, designando-se o enfermeiro de saúde familiar, o profissional da saúde responsável (…)” pelo acompanhamento familiar (Silva, Costa & Silva, 2013, p. 20).

Com base no pressuposto anterior, a OMS (2002) sustenta que o papel da enfermagem de saúde familiar no contexto dos CSP deve ser assegurado pelo

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enfermeiro experiente. Este deve proporcionar a um número limitado de famílias os cuidados, apoio e aconselhamento sobre os estilos de vida saudáveis, de forma a incluir os cuidados secundários e terciários como suporte aos CSP.

A nível nacional, o Plano Nacional de Saúde 2012-2016 indica a necessidade de se implementar uma abordagem centrada na família e no ciclo de vida, por permitirem uma perceção mais integrada dos problemas de saúde, com a responsabilidade de promover, potenciar e preservar a saúde em cada momento e contexto.

Silva, Costa & Silva (2013) reforçam ainda que

as directrizes descritas em relação aos CSP, quer no que respeita à organização dos serviços, quer à orientação dos cuidados, demonstram a importância das práticas clínicas de enfermagem centradas na família e na relação que cada enfermeiro estabelece com a mesma no processo de cuidados (p. 21).

Neste contexto, a publicação do Decreto-Lei nº 118/2014 de 5 de agosto, vem regulamentar o papel do enfermeiro de família como profissional de enfermagem que integrado numa equipa multiprofissional assume a responsabilidade de prestar cuidados de enfermagem globais à família em todas as fases da vida e em todos os contextos da comunidade. O enfermeiro de família presta cuidados gerais e específicos nas diferentes fases da vida do indivíduo e da família, nos vários níveis de prevenção e em articulação ou complementaridade com outros profissionais de saúde. Outro âmbito de ação do enfermeiro de família é a promoção e a ligação da família com outros profissionais de saúde e os recursos da comunidade, garantindo maior equidade no acesso aos cuidados de saúde.

A legislação implica mudanças nos processos intrafamiliares, na interação da família e no ambiente envolvente. A este respeito a Portaria nº 8/2015 de 12 de janeiro, apresenta diretrizes e requisitos que integram experiências piloto onde a intervenção do enfermeiro de família é centrada na resposta humana aos problemas de saúde ao longo do ciclo vital, com colaboração de outros profissionais de saúde e o Serviço Nacional de Saúde (SNS) acompanhando os cidadãos e famílias na gestão efetiva dos processos de transição que os desafios de saúde vão exigindo.

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De acordo com o Regulamento n.º 367/2015 de 29 de junho dos Padrões de Qualidade dos Cuidados Especializados em Enfermagem de Saúde Familiar, tendo como base o Regulamento n.º 126/2011 com a mesma denominação é fundamental a implementação de uma prática especializada permitindo uma melhoria contínua da qualidade no exercício da função profissional dos enfermeiros especialistas. Neste seguimento, no artigo 4.º, as competências específicas do enfermeiro especialista em enfermagem de saúde familiar são o cuidado à “(…) família como unidade de cuidados;” e prestam “(…) cuidados específicos nas diferentes fases do ciclo de vida da família ao nível da prevenção primária, secundária e terciária.” (Regulamento n.º 126/2011, p. 8660).

O cuidado de enfermagem à família centra-se na interação entre enfermeiro e família, implicando a criação de um processo interpessoal, significativo e terapêutico. A família emerge como foco de cuidados de enfermagem, como tal deverá ser entendida como unidade básica da sociedade que tem vindo a sofrer alterações aos níveis da sua estrutura e dinâmica relacional, revelando fragilidades e capacidades que determinam a saúde dos seus membros e da comunidade onde se inserem. Neste sentido, para a compreensão da família como unidade é essencial a sua concetualização através de um paradigma que permita entender a sua complexidade, globalidade, mutualidade e multidimensionalidade que considera a autenticidade da família (Figueiredo, 2012).

2.1. Abordagem Sistémica do Cuidado à Família

Na perspetiva de Relvas (2004) a família é considerada um sistema aberto, que se adapta às diferentes exigências das diversas fases do seu ciclo de desenvolvimento, bem como às mudanças das solicitações sociais com a finalidade de assegurar continuidade e crescimento psicossocial aos membros que a compõem. É um sistema com a capacidade de se autorregular por regras desenvolvidas e modificáveis no tempo através de tentativa erro, que permite aos seus membros experimentar o que é consentido na relação até uma definição estável.

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2.1.1. Abordagem de Enfermagem da Família

Segundo Hanson a prestação de cuidados de enfermagem à família é entendido como “(...) o processo de prover as necessidades de saúde das famílias que estejam no âmbito da prática de enfermagem” (2005, p.8).

Na prática de enfermagem da família é importante concetualizar e abordar a família segundo quatro perspetivas: a família como contexto, a família como cliente, a família como sistema e a família como componente da sociedade (Stanhope & Lancaster, 2008), tal como se observa na figura 2.

Figura 2 - Abordagem de Enfermagem da Família

Fonte: Hanson SMH, Gedaly-Duff e Kaakinen Jr (2005) citado por Stanhope & Lancaster (2008, p. 586)

Na família como contexto, o centro de atenção é a saúde e o desenvolvimento de um membro integrado num ambiente específico. No processo de enfermagem a avaliação individual deve ter em consideração o papel da família, as necessidades básicas do indivíduo em particular, a nível das necessidades psicológicas e dos objetivos de vida, com intuito de atingir o mais alto nível de saúde. A família apesar de ser considerada uma força, pode também dificultar a saúde individual e o desenvolvimento da doença (Potter & Perry, 2003; Stanhope & Lancaster, 2008).

Contexto Cliente

Sistema Componente da Sociedade

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As mesmas autoras têm uma visão da família como cliente, onde é imprescindível a família ser considerada o foco dos cuidados de enfermagem, encarada como a soma dos seus membros. Esta visão é centrada na forma como a família reage, como um todo e quando um membro tem um problema de saúde.

Quando abordamos a família como um sistema, o núcleo é a família como cliente, vista como um sistema interativo, no qual o todo é mais que a soma das suas partes. Esta abordagem centra-se, simultaneamente, nos membros de forma individual e na família como um todo. A abordagem sistémica das famílias implica a existência e desenvolvimento de acontecimentos que influenciam o membro da família e os restantes elementos da estrutura familiar.

Muitas famílias são sistemas abertos, porque estão em constante interação com os sistemas da sociedade (unidades de saúde, escola, outras famílias). Por sua vez, outras famílias são sistemas fechados resistentes à interação e à influência externa. Cada família enquanto sistema é um todo, mas é também parte de sistemas, de contextos mais vastos nos quais se integra (Relvas, 2004; Stanhope & Lancaster, 2008).

A família como componente da sociedade é vista como uma instituição da sociedade, uma unidade básica ou primária, assim como uma instituição de saúde, educação, religião, onde todas fazem parte do sistema social alargado. A família interage com as instituições de maneira a receber, trocar e prestar serviços mutuamente (Stanhope & Lancaster, 2008).

2.1.2. Teorias em Enfermagem da Família

As teorias em enfermagem da família têm vindo a assumir uma evolução ao nível do conhecimento baseando-se em três perspetivas: ciência social familiar, terapia familiar e enfermagem. Ao abranger as três perspetivas é necessária uma abordagem integradora, pois a utilização de uma única perspetiva teórica é limitadora da ação dos enfermeiros no conhecimento, apreciação e intervenção junto das famílias. Neste sentido, é importante os enfermeiros de família recorrerem a múltiplas teorias para desenvolver eficazmente a sua prestação de cuidados. Das três teorias, a teoria da ciência social familiar é a que fornece informações mais desenvolvidas e clarificadas no que concerne ao funcionamento da família na sua globalidade e nas diversas interações com o mundo exterior. No âmbito da teoria da ciência social familiar existem quatro

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abordagens concetuais: teoria estrutural funcional, teoria do desenvolvimento, teoria interacionista e a teoria dos sistemas (Stanhope & Lancaster, 2008).

A teoria estrutural funcional centra-se numa abordagem global da família, observando-a na comunidade alargada onde se insere. A maior fragilidade desta abordagem é a imagem estática que a família poderá assumir, não permitindo uma mudança dinâmica ao longo do tempo.

A teoria do desenvolvimento centra-se na enfermagem dirigida ao sistema familiar ao longo do tempo e do ciclo de vida nas diferentes etapas, proporcionando uma previsão do que a família vai experienciar nos vários momentos do ciclo de vida familiar. Um dos seus pontos fracos está relacionado com o facto de o modelo ter sido desenvolvido num momento em que a família nuclear tradicional era evidente.

A teoria interacionaista estuda a família como unidade de personalidade em interação e explora as comunicações simbólicas entre os seus membros. O foco essencial são os processos em substituição dos produtos das interações sociais. No entanto, a sua vulnerabilidade reside na extensão e falta de consenso no respeitante a conceitos e pressupostos da teoria.

A teoria dos sistemas tem por base as ciências da biologia e da física. O sistema é denominado um conjunto de elementos interativos, dependendo do ambiente onde reside, pode ser considerado um sistema aberto fazendo troca de energia com o ambiente (negentropia), ou um sistema fechado, isolado do seu ambiente (entropia). O estado de equilíbrio de um sistema familiar depende de um feedback positivo ou negativo, onde a abordagem sistémica observa a família numa perspetiva subsistémica e suprassistémica, com intuito de observar as interações entre os subsistemas e suprasistemas da família. A fragilidade apontada a esta teoria é o facto de não dar ênfase a cada membro da família e aos indivíduos em particular, mas à interação da família com outros sistemas.

O aspeto fundamental das teorias em enfermagem da família é a utilização de múltiplas teorias que nos fornecem informações e referências para a compreensão das famílias, proporcionando ao enfermeiro intervenções e apoio à família (Stanhope & Lancaster, 2008).

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2.2.Avaliação Familiar

Para se proceder à avaliação familiar são utilizados modelos teóricos de avaliação, bem como instrumentos de apreciação que cada enfermeiro deverá desenvolver na sua prática diária.

O processo de enfermagem é o ponto de partida da prática diária dos enfermeiros nos cuidados de saúde e no desenvolvimento do trabalho com a família. Este inclui cinco etapas, que devem ser desenvolvidas de forma sequencial: Avaliação Inicial, Diagnóstico, Planeamento, Intervenção e Avaliação Final. São vários os instrumentos de avaliação familiar adaptados à medicina familiar para identificar as necessidades da família que cuidamos. A avaliação familiar requer a utilização de instrumentos de colheita de dados que permitam conhecer a família e a sua dinâmica, por forma a potenciar a intervenção do enfermeiro de família (Rebelo et al., 2011).

Existem modelos para o exercício da função do enfermeiro de família, este deverá desenvolver e aplicar o mais adequado ao estudo de cada família (Hanson, 2005; Figueiredo, 2012).

2.2.1. Modelo de Avaliação e Intervenção da Família e o IFPSF

O modelo de Avaliação e Intervenção da Família baseia-se na teoria dos cuidados de saúde de Berkey e Hanson dando mais importância à família do que ao indivíduo. Este modelo aborda três áreas: a promoção da saúde, atividades saudáveis, identificação do problema, fatores familiares nas linhas de defesa e resistência; a reação da família e instabilidade nas linhas de defesa e resistência; a restauração da estabilidade da família, e do funcionamento ao nível da prevenção e intervenção (Hanson, 2005).

O instrumento de avaliação utilizado na base deste modelo é designado por Inventário das Forças de Pressão do Sistema Familiar (IFPSF). Este instrumento extrai informação qualitativa e quantitativa sobre a saúde familiar, fornecendo orientações aos enfermeiros e restante equipa multidisciplinar.

O IFPSF é dividido em três seções: os fatores de stress dos sistemas da família: geral; os fatores de stress dos sistemas da família: específico; e os pontos fortes do sistema familiar. O preenchimento do formulário é solicitado a cada membro da família

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e os dados quantitativos e qualitativos auxiliam na determinação do nível de prevenção e intervenção necessários para a família em estudo (Hanson, 2005).

2.2.2. Modelo e Formulário de Avaliação da Família de Friedman

O modelo de avaliação familiar de Friedman foi criado em 1998, com base nas categorias estrutural, funcional e de desenvolvimento e na teoria de sistemas.

Este modelo tem uma visão antagónica relativamente ao modelo anteriormente referido (Modelo de Avaliação e Intervenção da Família - IFPSF) que tem uma visão mais minuciosa e microscópica. O Modelo de Avaliação da Família de Friedman aborda a família numa visão macroscópica, vendo a família como subsistema de uma sociedade mais vasta. O enfermeiro quando utiliza o modelo avalia a família como um todo, como uma subunidade da sociedade e como sistema interativo. Hanson (2005) refere que Friedman (1998) agrupa quatro dimensões estruturais básicas, sendo elas: os sistemas de papéis, os sistemas de valores, as redes de comunicação e a estrutura de poder. Este modelo oferece linhas de orientação aos enfermeiros de família para a planificação dos cuidados de saúde e é avaliado segundo um formulário constituído por seis categorias: “dados de identificação, estádio de desenvolvimento e história da família, dados ambientais, estrutura da família, (...) as funções da família (...) e stress e coping familiar (Hanson, 2005, p. 186).

2.2.3. Modelo de Avaliação Familiar de Calgary

O Modelo de Avaliação Familiar de Calgary realiza o estudo da família como um sistema, tem como princípio a existência de subsistemas onde cada membro individualmente ou a família em conjunto interagem, com a finalidade de promover um constante equilíbrio. É um modelo multidimensional abrangendo os conceitos de sistema, cibernética, comunicação e mudança, centrando-se na interação entre todos os membros da família. O modelo assenta em três categorias principais para a avaliação familiar: estrutural, desenvolvimento e funcional (Wright & Leahey, 2002). Na figura 8 está representado o Diagrama Ramificado do Modelo de Avaliação da Família de Calgary.

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Figura 3 - Diagrama Ramificado do Modelo de Avaliação da Família de Calgary

Fonte: Wright & Leahey, (2002, p.6)

Na aplicação do modelo de Calgary, o enfermeiro de família explora as categorias ou subcategorias que considera mais necessária.

Na avaliação estrutural são abordadas três subcategorias. A nível da estrutura interna da família avalia a composição da família e as caraterísticas dos seus membros. Para que seja possível uma perceção da estrutura, dos graus de parentesco, posição de cada membro, acontecimentos mais importantes, atividade profissional e principais problemas de saúde de cada membro da família, é utilizado o Genograma Familiar.

O Genograma Familiar, segundo McGoldrick (1987) citado por (Rodrigues et al., 2007, p.2) representa a “árvore familiar que regista infomação sobre os membros de uma família e as suas relações durante pelo menos três gerações”. A sua apresentação gráfica facilita a observação e intervenção dos profissionais de saúde na identificação da problemática. Segundo Rebelo et al. (2011) o método tem limitações, requer maior

Avaliação

da

Família

Estrutural Interna Composição Familiar Gêneros Ordem de nascimentos Orientação Sexual Subssistemas

Externa Sistemas mais amplos Família Extensa

Contexto Etnia Classe Social Religião e espiritualidade Ambiente Desenvolvimento Estágios Tarefas Vínculos Funcional

Instrumental Atividades da Vida Diária

Expressiva

Comunicação:Emocional, Verbal, Não Verbal,

Circular Papéis Solução de problemas

Influência e poder Crenças

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número de elementos para a sua construção e o profissional deve ter total conhecimento da simbologia e regras de construção para uma correta interpretação do genograma.

Ao nível da estrutura externa da família são avaliadas as interações da família nos sistemas mais amplos, a comunidade, a família alargada, bem como as comunicações internas entre os membros da família recorrendo-se ao Ecomapa Familiar. Este instrumento de recolha e registo de dados permite aos profisiionais de saúde obter uma visualização das relações entre a família e a comunidade, avaliando e promovendo os recursos adequados a cada família. É necessário conhecimento da simbologia para a sua construção e interpretação (Agostinho, 2007).

De acordo com o mesmo autor a nível do contexto são avaliadas caraterísticas relativamente à família como sendo: a etnia, a classe social, a religião e o ambiente envolvente do agregado familiar. Esta colheita de dados é efetuada de forma a enquadrar a família e os seus membros na planificação dos cuidados de saúde.

Na avaliação do desenvolvimento, ao falar do conceito de família é necessário verificar as suas variadas dimensões e compreender em que etapa se encontra a nível temporal, segundo os estádios preconizados. Com a evolução e alterações sofridas ao longo do tempo, a família adota sistemas de adaptação quer devido ao quotidiano da vida laboral de um ou dos dois progenitores, quer às diferentes etapas e idades dos filhos (Rebelo et al., 2011).

O ciclo da vida familiar descreve o modo como as famílias evoluem e se transformam ao longo da sua existência, funcionando como uma biografia e providenciando marcas para dividir o relógio familiar em segmentos. As várias abordagens do ciclo de vida olham a família como sistema movendo-se ao longo do tempo, que incorpora elementos (nascimento, adoção e casamento) e perde membros só por morte (Relvas, 2004, p.17).

Duvall citado por Rebelo et al. (2011), define ciclo de vida familiar como uma sequência previsível de fases ou estádios ordenados no percurso familiar, onde se

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verifica uma estabilidade na estrutura e nos papéis familiares, separados por períodos de maior instabilidade e transição.

Na tabela 7 estão representadas as fases do modelo de Duvall, bem como as respetivas tarefas de desenvolvimento para cada fase. Os estádios do ciclo de vida familiar foram delimitados segundo três critérios: a composição familiar, a idade dos seus membros e o estatuto ocupacional do chefe de família (Rebelo et al., 2011).

Tabela 7

Ciclo de Vida da Família - Modelo de Duvall Estádios do

Ciclo de Vida Familiar Tarefas de Desenvolvimento Específicas de Fase

Casal sem filhos

Estabelecimento de uma relação conjugal mutuamente satisfatória.

Preparação para a gravidez e futura paternidade. Adaptação à família alargada do outro cônjuge.

Famílias com filhos até aos 30 meses

Ter filhos, ajustar-se e encorajar o seu desenvolvimento. Criar um lar satisfatório para pais e filhos.

Famílias com filhos em idade pré-escolar

Adaptar-se às necessidades de uma criança em idade pré-escolar. Lidar com o desgaste energético e com a diminuição de intimidade provocada pelo desempenho do papel de pais.

Famílias com filhos em idade escolar

Assumir responsabilidades com crianças em idade escolar encorajando o desenvolvimento educacional das crianças.

Relacionar-se com famílias no mesmo estádio de desenvolvimento.

Famílias com filhos adolescentes Facilitar o equilíbrio entre liberdade e responsabilidade no

período de amadurecimento e emancipação dos adolescentes. Estabelecimento de interesses pós parentais.

Famílias com jovens adultos

Permitir o lançamento dos filhos no exterior – no trabalho, serviço militar, universidade, casamento – com rituais adequados

e assistência.

Manter uma base de suporte familiar.

Casais na meia-idade (ninho vazio)

Reconstruir a relação de casal.

Manter a relação com as gerações mais velhas e mais novas.

Envelhecimento e pós reforma Lidar com a viuvez e com o viver só.

Escolher um domicílio mais adequado a esta fase de vida. Lidar com a reforma.

Qual a importância da família no relacionamento com a equipe de enfermagem?

Todas as famílias compartilham uma influência comum sobre o paciente e devem ser consideradas parceiras que possam colaborar com os enfermeiros para melhor atender às necessidades dos pacientes e melhorar os seus resultados de saúde.

Qual o papel do enfermeiro na equipe de saúde da família?

Planejar, gerenciar e executar ações no âmbito da saúde individual e coletiva; Supervisionar a assistência direta à população; Realizar ações de promoção, prevenção, cura e reabilitação; Desenvolver educação em saúde e educação permanente.

Qual a importância da família no cuidado?

A família deve ser vista como parte responsável pela saúde de seus membros, necessitando ser ouvida, valorizada e estimulada a participar em todo o processo de cuidar/curar, pois Ela é a principal produtora de saúde.

Qual o papel do enfermeiro e sua relação com a família do paciente internado?

Para a família, o processo de hospitalização pode gerar aflições e dúvidas, o enfermeiro e a equipe de enfermagem devem estar aptos a assumir uma relação com o familiar, que facilite o tratamento do paciente, estabelecendo um vínculo, haja vista que para o conforto do paciente a presença do familiar é indispensável.