Aprenda por si mesmo a arte de viver

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A Arte de Viver, a Arte de Ser Feliz

A Arte de Viver, a Arte de Ser Feliz

Introdução

Quem és? De onde vens? Para onde vais?
São as perguntas de fundo que em todos os tempos o homem tem feito, pois o homem, que é um ser que se interroga, quer saber porque é que faz as coisas, porque é que luta, porque é que sofre, porque é que morre. Quer encontrar o sentido da sua vida e aprender a vivê-la para ser feliz.
A vida é um grande desafio. Ela exige-nos constantemente, é uma luta permanente, é um caminho que nos leva a algum lugar, onde em cada encruzilhada nos aguarda uma esfinge, serena e imperturbável que, como nos mitos dos antigos gregos, interroga-nos e obriga-nos a reflectir.

Quem pode dizer que não tem um problema a resolver, uma dúvida a elucidar, um temor a vencer. O certo é que estas interrogações tocam-nos no mais íntimo porque ninguém é indiferente à passagem do tempo, ao transcorrer dos dias que nos escapam como grãos de areia que deslizam entre as mãos.
A nossa existência é um caminho e o homem é um peregrino que transita umas vezes consciente, outras vezes cego frente a um destino que o aguarda e que inexoravelmente deve alcançar.

É um clamor da Alma, uma necessidade de completação, uma ânsia de plenitude, é um desejo de ser feliz. Por ele se luta, por ele se vive e por ele se morre. São os grandes sonhos, os grandes ideais que traçam o caminho como uma luminosa estela no meio da noite. Há uma necessidade de transcendência que nos impulsiona a avançar para além da dor e da adversidade; e assim o homem vai avançando e descobrindo o sentido da sua vida: a justificação da sua existência.

Mas nem sempre os tempos são favoráveis para a realização dos grandes sonhos. Os acontecimentos nos quais o homem se vê envolvido sujeitam-no a circunstâncias que lhe impedem de ver com claridade o seu próprio horizonte e o sentido da sua vida converte-se num eco do tempo e da história que lhe coube viver.
Assim, de acordo com as épocas, o sentido da vida orienta-se segundo as ideias da moda, passando desde a necessidade básica de sobrevivência física, até à realização dos maiores ideais. Com base na ideia que o homem tenha do sentido da vida, vai desenhar o que chamamos um “estilo de vida”, vai escrever um guião no cenário da sua existência.

A educação cumpriu sempre um papel essencial nesta definição. Condicionam-se pensamentos, sentimentos e acções para que o homem interprete bem o seu papel ou personagem no libreto da Grande Obra.
O que é a vida e como vivê-la para alcançar os grandes bens do homem foi sempre a preocupação dos sábios e filósofos de todos os tempos. Muitas escolas foram fundadas para transmitir os ensinamentos milenários que permitiam ao homem ver para onde ir e como chegar a bom porto.

A filosofia sempre foi a bússola do navegante, o mapa da rota. Ajuda-nos a encontrar os melhores caminhos, as vias mais curtas, fortalece-nos ante as tempestades e ensina-nos a lutar para sairmos vitoriosos ante os mais temidos inimigos. Ela descobre para nós a difícil arte de viver, ela guarda o segredo da arte de ser feliz.

A ARTE DE VIVER:
A ARTE DE SER FELIZ

«Contam que um peregrino ia caminhando de aldeia em aldeia. Em cada uma detinha-se para comer e descansar. Um dia, numa delas, encontra atrás de uma cerca um grande parque com um jardim formoso adornado com belas e coloridas flores, descobre a porta e decide entrar… era realmente formoso e logo descobre uma lousa onde lê um epigrama com o nome de uma pessoa e uma inscrição: 5 anos 4 meses. Continua a andar e encontra outra, com um nome diferente e outra cifra: 10 anos 4 meses. Continua a avançar e descobre mais e em cada uma delas ia lendo diferentes nomes com diferentes cifras, mas sempre muito curtas… Logo, apercebe-se que todo o jardim estava cheio de lousas, que na realidade eram lápides nas quais se achavam registados os nomes de pessoas e a quantidade de anos vividos. Profundamente comovido começou a chorar pela morte de tantas crianças.

Assim angustiado, é encontrado pelo guardião do grande parque que lhe pergunta porque é que chora e ele responde: ‘É que me entristece muito que tantas crianças tenham morrido nesta povoação, porquê tão jovens?’ O guardião diz-lhe: ‘Não, não é que tenham morrido jovens, esses anos que vê ali inscritos são o tempo de felicidade que cada pessoa viveu.
Temos um costume nesta povoação em que ao cumprirmos quinze anos os pais nos oferecem um pequeno caderno – como o que eu tenho aqui – e colocamo-los pendendo do nosso pescoço. A partir desse momento vamos anotando os instantes felizmente vividos e o tempo que duraram. Quanto tempo durou o primeiro amor? Quanto tempo de felicidade nos deu o primeiro beijo? Quanto tempo de felicidade nos proporcionou a graduação na escola ou na universidade?’
O peregrino não sentiu mais alívio com a resposta mas ainda mais tristeza ao comprovar que podemos viver muitos anos, mas que se apenas somamos os momentos de felicidade as nossas vidas reduzem-se muitíssimo pois na realidade estes são muito breves».
Porque é que não podemos prender a felicidade? Porque é que parece que se escapa das nossas mãos? Por onde devemos procurá-la?

Às vezes acreditamos vê-la num lugar tão distante, tão pouco claro, tão volátil, que torna-se difícil para nós alcançá-la, e quando procuramos os meios para a obter, fazemo-lo de um modo incerto que parece afastar-se cada vez mais de nós. Também há quem afirme que a felicidade é efémera, é passageira, é uma ilusão.
Na verdade, são tão breves os instantes de felicidade que sentimos que às vezes não lhe outorgamos o valor que tem, mas no entanto existe e, como diria o filósofo Kant, é nosso dever não só procurá-la mas também encontrá-la.

Lamentavelmente o homem procura a felicidade num mundo de fantasia, compara-se com outras pessoas, quer o que os outros têm e acredita que sendo dono desses bens será feliz. Parece que a nossa mente tinge de uma cor atractiva o que deseja, mas quando o obtém as coisas já não são iguais, perdem o seu encanto, o seu brilho e a sua cor.

Para encontrar algumas respostas necessitamos recordar o que os grandes sábios do mundo antigo ensinaram sobre a constituição do homem.
Todos temos um corpo físico, um corpo emocional, um corpo mental e um plano espiritual. Cada um deles com as suas necessidades, forças e debilidades. Cada um deles exigindo para si a nossa maior atenção e dedicação. Comer, dormir, sentir, saber. Onde está a felicidade? Na satisfação dos desejos do corpo físico, emocional, mental ou espiritual?

Dormir bem, comer bem, pede-nos o corpo físico e para ele trabalhamos. Quantos anos podemos inscrever no nosso caderno de momentos felizes? Quanto tempo nos pode durar um prazer sensorial? Estes são instantes que passam, são sensações fugazes.
Sentir, amar, rir, vibrar, pedem-nos as emoções. Por quanto tempo escrevemos no nosso caderno de felicidade sem que surja a incerteza de que amanhã, quiçá, a pessoa amada já não estará mais? E em que diário anotámos os intermináveis momentos de dor de um amor não correspondido?
Onde radica a felicidade do Corpo Mental se muitas vezes as dúvidas obscurecem a claridade das nossas certezas?

A vida passa e transcorre, escapa-nos e todos nós, num grande esforço, procuramos retê-la e sobretudo queremos fazer perdurar os grandes momentos nos quais nos sentimos felizes, plenos, realizados.
Mas o inexorável das leis determinam que as circunstâncias são passageiras, as formas mudam, os corpos envelhecem e quem não sabe olhar para além do evidente, quem não pode encontrar o perdurável, o essencial que está escondido na Alma de todas as coisas, está condenado à dor que traz o apego ao temporal.

Encontramos a verdadeira felicidade no perdurável, no que não muda, na harmonia e na plenitude que apenas nos podem dar as vivências da Alma. A Arte de Viver consiste em saber descobrir o tesouro que encerram os grandes e os pequenos momentos, porque vale tanto o final do caminho como cada um dos passos que damos para lá chegar. Não devemos tirar valor às pequenas coisas que vivemos todos os dias, mas encontrar em cada uma delas a essência que a faz valiosa. A nossa vida vai-se construindo com os pequenos detalhes, mas esses pequenos detalhes não podem ser tão superficiais ou efémeros que desapareçam em poucas horas, porque então voltaremos a ter outra vez essa sensação de ansiedade e vazio.

Como peregrinos na incerta senda da vida encontraremos muitas provas, muitos momentos difíceis e em cada um deles teremos que recorrer a todas nossas forças, a todas nossas convicções para não perder de vista o importante e não nos deixarmos cair em angustiosas emoções vencidos pelo desalento. Cada experiência da vida é um degrau, um impulso, uma oportunidade, o homem que não o vê vai tropeçando em cada circunstância transformada numa pedra colocada no meio do caminho.

Na vida sempre haverá situações dolorosas e desafortunadas, a Arte da Felicidade consiste em saber escolher as recordações e saber extrair o válido de cada experiência, excluindo as emoções negativas como tristezas, rancores, frustrações que acompanham sempre os maus momentos. Nada é totalmente negativo, tudo traz a sua quota de ensinamento e se a vida é aprender, então cada uma delas ensina-nos algo, tem um valor que a filosofia nos ensina a descobrir. Para quê carregar as recordações amargas? Temos que encontrar o tesouro escondido por trás do barro do mundo.

A Arte de ser Feliz é saber pôr harmonia nas nossas emoções


Sem dúvida todos temos emoções que dão calor e cor às nossas vidas, mas muitas vezes apresentam-se tão descontroladas, tão pouco harmónicas que nos é difícil guiá-las. Acostumámo-nos a que as emoções sejam uma espécie de fenómeno atmosférico porque vão mudando sem que tenhamos a mínima capacidade de as controlar.

Assim, reagimos de maneira violenta, como uma tempestade, logo estamos confusos, deprimidos e angustiados, como um dia nublado; temos tristezas e muitas vezes cólera, outro dia radia o sol e estamos contentes e entusiasmados. Estes fenómenos talvez se pudessem prever mas sucede-nos como aos que prevêem o tempo, poucas vezes se acerta.


“A Arte de ser Feliz é saber pôr harmonia nas nossas emoções”


Uma das emoções pouco previsíveis é a cólera que nos perturba, nos faz perder a estabilidade interior. Quantas vezes, por essa falta de domínio ferimos os nossos seres queridos, lhes dissemos palavras que não sentimos no coração e quantas outras vezes escurecemos o nosso dia com pessimismo e depressão, com tristeza e angústia.

Muitas vezes, por falta de controlo, perdemos o nosso centro e deixamos que as emoções dirijam a nossa vida. A harmonia interior é o equilíbrio da Alma que sabe permanecer serena para além dos ventos e furacões da vida. É não perder o entusiasmo que, como um Sol Interior, dá luz e energia às nossas vidas.
Há que educar as emoções com disciplina tratando não de as reprimir mas sim conduzi-las. Elas são fontes de poder muito úteis se as soubermos manusear. Há tanta energia em cada um de nós que, como a água de um rio, pode inundar destruindo tudo em seu redor ou fertilizar a terra por onde passa.
É a Arte da Felicidade que nos ensina a governar as nossas emoções porque nela radica a origem das nossas tristezas, assim como a causa de inumeráveis momentos de alegria.

Aprender a conviver é uma chave para sermos felizes


Um dos grandes problemas que enfrentamos na Arte de Viver é a dificuldade em conseguir a convivência.
Os problemas de convivência dão-se por excessiva susceptibilidade, porque prima o egocentrismo e o egoísmo que originam um amor desmedido por nós mesmos, colocando o nosso Eu em primeiro e no centro de tudo. Suceda o que suceder somos sempre afectados porque tudo o que os outros fazem é interpretado de maneira subjectiva, por isso dói-nos, magoa-nos e criamos barreiras que nos distanciam das pessoas que nos rodeiam em vez de esclarecer e procurar soluções para os problemas.

Uma das dificuldades para conseguir a convivência é a falta de Comunicação que leva a más interpretações. Supomos que sabemos, acreditamos que entendemos e reagimos com preconceitos. Há um pouco de subjectividade, muito de orgulho e pouca vontade de solucionar.

Outra causa importante é a evasão. Para evitar momentos tensos deixam-se as coisas em suspenso, prolonga-se o diálogo e não se fala directamente deixando que passe o tempo, esperando que as diferenças se clarifiquem por si só. Este erro é também uma forma de preguiça, é não querer esforçar-se, é manter-se à margem para não passar um momento difícil.


“Aprender a conviver é uma chave para sermos felizes”



Os problemas no plano afectivo são como uma espinha dentro de nós, não se desvanecem, vão doer e serão sempre um impedimento para sermos felizes se não fizermos nada para os resolver. Pouco a pouco e quase sem darmos conta estaremos submersos numa profunda solidão.

Temos que procurar soluções que atendam à raiz dos problemas e se esta causa é o egocentrismo que gera susceptibilidade, então, a solução está na generosidade, o homem tem que ser generoso.
A generosidade permite-nos sair do nosso mundo particular e aproximarmo-nos dos outros. Quando o homem é generoso torna-se compreensivo e entende e aceita o processo que outra pessoa está a viver. Se todos puséssemos uma quota de generosidade e boa vontade, que é um saber querer, as nossas relações afectivas, seríamos muito mais felizes.

A necessidade de vencer o medo


A vida é um grande treino. Se a primeira vez que aprendemos a caminhar não tivéssemos superado o temor em voltar a cair, jamais teríamos aprendido a caminhar. Devido ao facto de termos caído muitas vezes e de nos termos levantado outras tantas é que hoje podemos caminhar.O medo – como diria o grande filósofo Jorge Angel Livraga, fundador de Nova Acrópole – é uma pandemia, uma doença que abrange o mundo. O medo esconde-se agachado por trás de cada acontecimento das nossas vidas. Às vezes mostra-se como limites, outras como dúvidas, desconfiança, insegurança, a própria agressividade é uma forma de medo.

O medo paralisa ou faz-nos actuar de maneira irracional. É a raiz de muitos conflitos que se foram acumulando ante a falta de valor para os enfrentar. O homem com medo justifica sempre a razão da sua desgraça, do seu infortúnio, dos seus fracassos. O medo é uma das causas de muitos ódios e violência que hoje assolam no mundo.

O medo ao fracasso é um dos maiores temores. A todos nos preocupa o futuro, o que será, o que virá, estamos muito dependentes de que o resultado imediato das nossas acções seja sempre agradável, tal como sonhámos. Ensinaram-nos a evitar os erros pois são sinónimo de derrota, no entanto cada erro é um ensinamento da própria vida, que nos ajuda a guiar as nossas acções e nos permite entesourar a riqueza da experiência.

O medo ao fracasso supera-se aceitando que nos podemos equivocar. A filosofia ensina-nos que não existe o fracasso, todas as experiências, quer sejam agradáveis ou desagradáveis, positivas ou dolorosas, deixar-nos-ão um ensinamento. O conhecimento não surge do toque da uma varinha mágica, nem de um dia para o outro. Haverá que praticar muitas vezes até conseguir aprender, porque não há uma solução definitiva e para sempre.

Tememos o desconhecido, a incerteza das coisas novas e, se o queremos superar, devemos enfrentá-lo. Não há melhor solução contra o medo do que actuar. Não existe outra forma de o dominar, há que dar um passo em frente. Aqueles que esperam que o medo desapareça antes de actuar caiem numa ilusão porque o medo existe sempre e, se não o enfrentamos, cresce com o tempo. Como diria o filósofo Livraga: «O mau não é ter medo mas sim que o medo nos tenha a nós». É normal que, como seres humanos, tenhamos temor frente ao que não conhecemos e o anormal e perigoso é que o temor nos paralise.

O Medo à mudança

Tudo se move numa marcha constante. Tudo muda em permanente evolução, a própria vida é uma procura de perfeição onde tudo se transforma para se renovar. Pretender que as coisas não mudem é desconhecer as leis que regem o universo. Mudam as estações, mudam os tempos, mudam as formas, tudo vibra, tudo se transforma.

Todos somos caminhantes e vamos deixando atrás as folhas desgastadas da nossa árvore, para que em cada nova Primavera renasçam novos rebentos carregados dessa energia e vida. As coisas perecem, a essência é a mesma. O homem que desconhece esta lei natural aferra-se às formas, torna-se rígido e petrifica-se no tempo. O que vale não é o invólucro, mas sim o conteúdo. O que verdadeiramente importa é que o espírito, as ideias, os valores, os sentimentos perdurem para além do tempo.



Cronos, o deus do tempo na Grécia antiga, era o grande devorador das formas consumindo-as para as regenerar e devolvê-las novamente jovens e vitais. A nossa atitude filosófica consiste em saber encontrar as melhores e mais belas expressões que permitam manter vivas as ideias e os sentimentos.

Há outras formas de mudança que dependem das nossas decisões mas que não queremos realizar por insegurança. Sentimo-nos mais confiantes ante o conhecido, dá-nos segurança psicológica fazer o que os outros fazem. Temos medo de realizar grandes mudanças na nossa vida quando não vão ser aprovadas pelos outros. São as grandes decisões que devemos tomar sozinhos com nós próprios.

Temos que aceitar que as mudanças podem ser favoráveis e devemos ter o valor para lhes fazer frente, lutar por aquilo que é bom e consideramos válido para nós e para o que nos rodeia, mais além das modas ou costumes, mais além do que digam os outros.

“As frustrações são o que mais escurecem a vida.”

À medida que o tempo vai passando os equívocos e fracassos vão deixando frustrações. Elas são o fruto das acções das quais não soubemos extrair nenhum ensinamento e são como o alimento mal digerido: causam-nos danos por dentro. A pessoa frustrada é céptica, agressiva, crítica e desconfiada, tem mau humor e não é feliz.

O que fazer quando começamos a acumular frustrações?

Assim como periodicamente limpamos as nossas habitações para eliminar o pó que se vai acumulando nos cantos e nas gavetas dos nossos armários, de vez em quando, também há que limpar a fundo e ordenar no nosso mundo interior. E assim como varremos, lavamos, abrimos as janelas para que tudo no quarto possa ser arejado, também temos que varrer o nosso interior, lavar, arejar e purificar para que não fiquem frustrações dentro de nós.

É necessário rever as recordações das experiências que ainda nos geram mal-estar e encontrar o ensinamento que contêm para eliminar as emoções e pensamentos negativos que naquele momento se engendraram. A acção generosa é a água mais pura e cristalina que nos permitirá purificar e clarificar o nosso mundo interior.

O que significa abrir as janelas para que entre o ar no nosso mundo interior?
No plano mental vão-se acumulando ideias fixas, frutos da ignorância e da pouca reflexão, que nos vão tornando inflexíveis, preconceituosos e rígidos ante a vida. Isto sucede porque falta «ar» à nossa mente, «espaço» e é necessário ampliá-la. Todos os filósofos da antiguidade afirmam que a Sabedoria amplia os limites da nossa mente, abre-a a novas dimensões, a novos ensinamentos.

Para dissipar as nossas dores e penas não basta fazer uma viagem de fim de semana para ver coisas novas que relaxem as nossas tensões porque, quando regressemos, nos encontraremos com os mesmos pensamentos de sempre, as mesma ideias rotineiras, as mesmas pessoas, as mesmas situações. A solução não a vamos encontrar nas mudanças superficiais mas sim em contacto com os ensinamentos profundos, com a filosofia que nos permite abrir as asas para ampliar o nosso horizonte de vida.

O fogo é outro elemento que limpa e purifica. O que representa o fogo no nosso interior? O que fazemos quando queremos despejar os papéis velhos? Seleccionamo-los e queimamo-los numa grande fogueira porque o fogo tem a propriedade de transformar aquilo que consome. Nós necessitamos isso, um poder que nos transforme por dentro, que faça morrer o velho e desnecessário e nos permita renascer, mais fortes, maiores. Este grande poder interior é a nossa Vontade. Não poderemos mudar nada e nada nos poderá limpar se não recorrermos à grande força da nossa vontade.

O homem tem dois grandes poderes: a inteligência, que é a capacidade de discernimento, é saber o que fazer, quando e como fazê-lo, e a Vontade que nos permite realizá-lo. De que nos serve saber o que fazer se não temos a vontade para o pôr em prática? E de que é que nos serve ter essa força se não sei para onde a dirigir? Necessitamos de nos aproximar à sabedoria pois só ela desenvolverá as nossas potências interiores e nos permitirá ver com clareza o caminho a percorrer.

Todos temos poderes internos que devemos desenvolver. Muitas vezes afirmamos que temos força de vontade, mas quantas vezes começámos projectos e planos com grande entusiasmo e os deixámos de lado sem terminar? Porquê? Porque nos faltou constância, a mais notável expressão da vontade.

O vazio interior


Um velho conto diz-nos que na origem dos tempos, quando se construiu o Universo, os homens eram como anjos e vivíamos num mundo celeste cheios de felicidade. Um dia assomámo-nos a contemplar as infinitas águas do espaço e do alto vimos um belíssimo mundo material, pelo menos assim nos parecia e, enamorados dessas sugestivas formas, mergulhámos e submergimo-nos nele. Pouco a pouco, conforme fomos caindo, perdemos as nossas asas e simultaneamente esquecemos a nossa divindade.
Quanto mais descíamos mais esquecíamos. O ilusório brilho da matéria deslumbrou a nossa jovem Alma até fazê-la prisioneira dos seus encantos e enganos. Passou o tempo e já não foi como antes, um sentimento de perda começou a nascer.

É este sentimento de saudade o que nos faz voltar. É a nostalgia da pátria perdida, a necessidade de plenitude que nos converte em peregrinos de um caminho, procurando a razão pela qual nascemos, pela qual vivemos e pela qual temos que voltar.

A reminiscência, dizia o sábio Platão, é o chamamento da Alma que recorda o seu mundo celeste e que necessita das suas asas para voltar. Essa é a finalidade da filosofia, abre a porta da nossa jaula interior e deixa a Alma livre para que possa voar, ensina-a e ajuda-a a recuperar as suas asas.
A filosofia permite ao homem elevar-se por cima da vida material e horizontal para conquistar as maiores alturas, sem limites nem confins. Fá-lo penetrar desde o exterior, desde o seu redor, até ao profundo do seu ser. À medida que o homem aprende, à medida que o homem sabe, começa a actuar e a viver segundo esse conhecimento que vai conquistando. Vai desenvolvendo cada vez mais essas asas que lhe permitem voar até ao mundo espiritual.

O que nos falta é vida interior, é identificarmo-nos a nós próprios, conhecermo-nos por dentro, reconhecer que há algo mais do que somente estes planos materiais. Reconhecer que existe em cada um de nós um plano espiritual que não conseguimos ainda descobrir e que para o desenvolvermos necessitamos da Sabedoria e de um Ideal que nos aproxime a ela; é precisamente isso que possui a Filosofia.
A autêntica Filosofia é a que nos permite levar à prática aquilo que vamos aprendendo, ajuda-nos a integrar o conhecimento nas nossas vidas; mas não se trata de qualquer conhecimento, é saber beber das fontes dos sábios, mas não de uma maneira intelectual porque a Filosofia não é um tratado para nos encher de teorias das quais compreendemos pouco e de quase nada nos servem.

Filosofia é saber o que é o homem e como pode ser melhor. É saber como dominar as emoções, como vencer os temores, como dissipar as dúvidas, como conhecer as leis da natureza, como enfrentar a velhice e a doença, como superar as mudanças, isso é Filosofia. E todos os filósofos da Antiguidade deixaram valiosos ensinamentos que nós podemos fazer nossos para sermos felizes e viver melhor.
Devemos alcançar a ACROPOLIS, a cidade alta da qual nos falaram todos os povos da Antiguidade. Devemos ter um Ideal que ilumine a nossa vida e justifique a nossa existência, que nos inspire a trabalhar por nós e pelos que estão à nossa volta.

É importante ser idealista porque um Ideal, como o de D. Quixote, é como uma estrela que nos ilumina o caminho, da mesma forma que as estrelas na noite escura guiam a rota dos marinheiros.
Devemos ter um Ideal filosófico para encontrar as nossas raízes na História, no passado, na experiência da humanidade. Não somos novos, vimos desde o fundo do tempo, passámos por ciclos de ouro e de prata, mas hoje o nosso ciclo é escuro e difícil. Tocou-nos viver numa época de decadência, de perda de valores, mas é a que nos tocou viver e não podemos virar-lhe as costas, não podemos fazer marcha-atrás, não nos podemos encerrar nem fugir para orar na montanha.

Temos que fazer algo aqui, no nosso momento histórico e para isso é necessário ter um Ideal. Só um Ideal nos dá a certeza de que é possível construir um mundo melhor, mesmo quando as nossas forças fraquejem.
Não devemos deixar-nos apanhar pela inércia ou pela indiferença, esperando que as coisas mudem por si só ou acreditando que o meio em nosso redor não nos vai afectar, o certo é que estamos imersos no mundo e é nosso dever construir uma ponte que nos permita passar de um lado para o outro no meio da decadência ou, como diz o Dr. Livraga, construir um módulo de sobrevivência, um barco que possa navegar no meio da tempestade.

Podemos começar a construir no presente um mundo melhor. Não vamos poder mudar absolutamente tudo, mas sim podemos mudar a nós próprios e o que está ao nosso redor.
Queremos que a nossa vida seja diferente, queremos que a nossa vida seja como um oásis no deserto, que não só nos oferece água a nós mas também a todos os peregrinos que se aproximam dele. Isto sim é possível, não é uma ilusão, não é uma fantasia. Se trabalhamos, nos esforçamos e lutamos, então alcançamos e possuímos. É como a felicidade que todos estamos a procurar, se é desejada e por ela se trabalha, conquista-se.

O crescimento que cada um de nós anseia alcançar é infinito, mas vamos avançar passo a passo porque a felicidade não é um dom, não é uma prenda dos deuses, é o resultado do nosso esforço, da nossa dedicação. “É um estado da Alma que é própria dos que souberam semeá-la em si mesmos”.
E para concluir esta reflexão recordamos uma antiga história hindu que simbolicamente nos fala da divindade do homem, da sua origem celeste e da importância da filosofia para voltar a encontrá-la. 

«Contam que, há muito tempo, os homens eram como os deuses mas abusaram desse divindade que lhes permitia serem felizes pois concedia-lhes plenitude. Então Brahma, o rei dos deuses, disse: ‘Vamos tirar aos homens a divindade e vamos escondê-la onde nunca mais a possam encontrar, visto que abusaram e a não souberam aproveitar. Assim, reúne num conselho todos os deuses menores para decidir onde esconder a divindade do homem.’ Todos reflectem e propõem: ‘Vamos esconder a divindade no fundo da terra.’ Mas Brahma responde: ‘De nada serviria, porque o homem cavará a terra, encontrá-la-á e a extrairá.’ ‘Então escondamos a divindade do homem no fundo dos mares.’ ‘Não’ disse Brahma ‘porque algum dia os homens submergirão no fundo dos mares e a encontrarão.’ Então ficaram todos indecisos: ‘Não sabemos onde ocultar a divindade do homem, porque o homem encontrá-la-ia em qualquer lugar onde a escondêssemos.’ Dizem que Brahma lhes respondeu: ‘Vamos guardar a divindade do homem dentro dele mesmo, porque é o único lugar onde não lhe ocorrerá procurar’.»

E dizem que é assim desde há muito tempo. O homem cavou profundamente a Terra, deu inumeráveis voltas em redor dela, explorou cada canto do planeta, escalou cada montanha procurando conquistar os mais altos cumes, mergulhou em todos os mares, mas nunca penetrou no interior de si mesmo procurando aquilo que tanto necessita: essa parte divina que, algum dia, reconquistada, restituir-lhe-á a felicidade e a plenitude perdida. Esta plenitude é o que nos faz verdadeiramente felizes, porque o homem é feliz quando se sente pleno e realizado no seu interior.

Beatriz Díez-Canseco
Directora da Nova Acrópole do Perú

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