Como se relacionam a divisão social do trabalho e os tipos de solidariedade para Durkheim?

Sociologia

Para Durkheim, os laços que unem os indivíduos à sociedade são designados pelo termo solidariedade. Com base nessa noção, ele caracteriza duas formas de organização social: sociedades tradicionais (pré-capitalistas) e modernas (capitalistas).

Solidariedade mecânica

Solidariedade mecânica é aquela que caracteriza as sociedades pré-capitalistas, nas quais há um baixo (ou nenhum) grau de consciência individual, uma vez que predomina, em termos de coesão social, uma consciência coletiva que controla a sociedade.

Um elemento que é associado às sociedades de solidariedade mecânica é a baixa divisão do trabalho, no sentido de que haveria uma pequena divisão de tarefas e funções presentes nessas sociedades. Dessa maneira, as sociedades organizadas de acordo com a solidariedade mecânica compõem o primeiro grupo de sociedades estudadas por Durkheim.

De acordo com o sociólogo, essas sociedades manteriam sua coesão social por meio de laços tradicionais decorrentes do compartilhamento dos mesmos valores culturais responsáveis por determinar certo padrão moral a ser seguido.

Durkheim acreditava que os valores morais, reforçados pelos séculos de tradição que se fortaleciam por meio dos laços familiares e dos costumes, seriam responsáveis por determinar uma série de regras que exigiriam determinado comportamento dos indivíduos, de modo que estes se adequassem às suas respectivas funções.

Dentro do processo histórico, a solidariedade mecânica se reduz. Isso abre espaço para uma nova forma de organização e coesão social com base na solidariedade orgânica, na qual a especialização do trabalho se intensifica e provoca o enfraquecimento da consciência coletiva.

Esse enfraquecimento possibilita uma diferença social mais acentuada (ampliação da consciência individual), que desencadeia maior diversidade de pensamentos e crenças, diminuindo o grau de semelhança entre os membros e possibilitando, ainda que com limites, mais liberdade individual.

Dessa forma, a divisão do trabalho social, que separa os grupos sociais existentes, trabalhadores e proprietários, assegurada pela necessidade de produzir, estabelece, ao mesmo tempo, as funções de cada um, gerando uma interdependência distinta daquela existente nas sociedades de solidariedade mecânica.

Solidariedade orgânica

O contexto da solidariedade orgânica é o que caracteriza a sociedade capitalista, pois há uma ampla divisão de tarefas e funções, o que leva a uma grande interdependência entre os indivíduos, em termos econômicos e tecnológicos, mas, acima de tudo, moral.

Para Durkheim, o maior problema decorrente da divisão do trabalho está relacionado à questão moral, ou seja, à capacidade de manter os membros coesos e a sociedade funcionando harmonicamente. A ampla divisão do trabalho produz formas mais intensas de individualismo, o que faz, por sua vez, a consciência coletiva perder, em parte, sua capacidade agregadora.

Como se relacionam a divisão social do trabalho e os tipos de solidariedade para Durkheim?
Segundo Émile Durkheim, a solidariedade orgânica é característica das sociedades modernas e industriais. Um exemplo contemporâneo é a indústria de informática, que pressupõe a interdependência de diversos campos do conhecimento e do trabalho.

O enfraquecimento da consciência coletiva poderia produzir situações de anomia, quando há uma crise em relação às regras e normas que mantêm a sociedade coesa.

Para Durkheim, a sociedade capitalista moderna e contemporânea teria maiores possibilidades do desenvolvimento de estados anômicos, em função do individualismo crescente e da perda da força da consciência coletiva.

Referência:

LIMA, Rita de Cássia Pereira. Sociologia do desvio e interacionismo. In: Tempo social, v. 13, n. 1, São Paulo, maio 2001

Por: Wilson Teixeira Moutinho

Veja também:

  • Émile Durkheim
  • Fatos Sociais
  • Positivismo

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Durkheim, tal como Comte, pensava que o homem é fortemente moldado pela sociedade em que ele vive (expressando-se de maneira técnica, ele diz que a consciência individual é sempre moldada e condiciona pela consciência coletiva, isto é, pela mentalidade média da sociedade, seu conjunto de valores e ideias dominantes) e que, por isso, o interesse do sociólogo deve voltar-se apenas para os padrões sociais. Por essas e outras raízes, aliás, é que Durkheim é considerado um autor positivista e o mais famoso continuador da perspectiva comteana. De fato, não obstante criticar vários aspectos secundários do pensamento de Comte (em especial, a incerteza de suas ideias, a religião da humanidade e o projeto político positivista), Durkheim assumiu como suas as ideias-chaves do seu predecessor: a necessidade de um conhecimento social capaz de compreender as características da sociedade moderna, a crença na incapacidade da filosofia de cumprir esse papel, o projeto de construção de uma ciência da sociedade independente da filosofia, a ideia de que esta ciência deve tomar como modelo as ciências naturais e a tese de que o trabalho do sociólogo deve focar-se nos padrões sociais.

Do ponto de vista do método, como vimos, Durkheim considerava que o sociólogo deve, tal como o físico e o químico, buscar por padrões de regularidade, que, no caso dele, seriam os fatos sociais. Além disso, fortemente influenciado pelas ciências naturais - seu modelo de pensamento, o sociólogo francês afirmava que as virtudes principais de um pesquisador social são a neutralidade e a objetividade. Na prática, isto significa que um sociólogo jamais deve permitir que os seus valores pessoais ou a sua visão de mundo interfiram no seu trabalho. Sua análise deve ser meramente descritiva, nunca avaliativa, concentrada apenas em compreender a sociedade que está pesquisando, não em julgá-la ou classificá-la.

Émile Durkheim destacou-se pela explicação que desenvolveu para a origem da sociedade capitalista moderna. Ele acreditava que toda sociedade se formava em torno de um determinado grau de consenso. Ou seja, os indivíduos daquele grupo compartilhavam, em algum nível, uma crença que mantinha a sociedade unida. Essa união recebeu o nome de coesão social. Na passagem das sociedades tradicionais para a Modernidade Durkheim observou uma mudança no mecanismo de coesão e unidade da sociedade, mecanismo conhecido como solidariedade social.

De acordo com Durkheim, nas sociedades tradicionais, pré-modernas, anteriores ao capitalismo, a divisão social do trabalho, isto é, a especialização profissional era pequena. Isto ocasionava poucas diferenças entre os indivíduos e fazia da sociedade algo mais homogêneo. Assim, a coesão social era realizada e garantida através do compartilhamento de uma mesma visão de mundo, de um mesmo conjunto de ideias e valores dominantes. Foi o caso, por exemplo, da Idade Média ocidental, onde a fé católica era o eixo unificador da sociedade, e do Egito Antigo, onde a cosmovisão daquela sociedade é que unia todos os seus membros. Este modelo de coesão social é chamado por Durkheim de solidariedade mecânica.

Nas sociedades modernas, por sua vez, o capitalismo promoveu uma enorme acentuação na divisão social do trabalho. Isso exacerbou a especialização profissional e, portanto, a individualidade. Por isso, a sociedade moderna é heterogênea, contando com grande diversidade de religiões e de visões de mundo no interior de um mesmo contexto social. Daí também porque, na Modernidade, o que une e congrega a sociedade não é o fato das pessoas partilharem uma mesma visão de mundo, mas sim o fato de elas serem mais interdependentes no mundo do trabalho. De fato, o aumento da especialização profissional, vigente no capitalismo, torna as pessoas mais interdependentes, uma vez que elas exercem funções mais específicas e, portanto, são mais difíceis de serem substituídas no mundo do trabalho. A consequência disso é que a sociedade capitalista não precisa do compartilhamento de uma mesma visão de mundo para que os indivíduos vivam coesos nela: o que os une são os laços de interdependência econômica. A crença passa a ser então num código complexo e racional de regras de conduta que formam normas jurídicas estipuladas para os indivíduos em relações interdependentes, o direito. É o que Durkheim chamava de solidariedade orgânica.

É famoso o estudo de caso de Durkheim para provar suas teorias. Não só em relação ao fato social, quanto a diferença entre a coesão e solidariedades de um grupo, o pensador escolhe estudar um fenômeno que se acredita ser extremamente pessoal: o suicídio.

O suicídio é qualquer morte que resulta da ação ou não ação do indivíduo (ato positivo ou negativo) que sabe das consequências do seu fazer ou não fazer (que pode resultar em sua morte) e que mesmo assim o faz, direta ou indiretamente.

Durkheim conclui que a taxa de suicídio de um determinado grupo varia de acordo com suas afiliações morais. Sociedades católicas da sua época, por exemplo, tem uma taxa menor de suicídios que sociedades protestantes. Durkheim classifica três tipos de suicídio:


Egoísta: ocorre quando a consciência individual (o ego) supera a coletiva, tornando esse indivíduo “grande demais” frente a sociedade. A vida perde o sentido pelo descolamento desse ego da relação com a consciência coletiva.


Altruísta: É o processo contrário. A consciência coletiva se dilata tanto que se torna insuportável para o ego. Ele se misturou a algo fora de si, deixou de ser individual. A barreira que o continha como consciência foi desfeita e está disposto a abandonar a vida pelo grupo.


Anômico: Ocorre em momentos de anomia social, ou seja, a ausência ou afastamento dos padrões e regras morais de uma sociedade. Aqui a ordem é desfeita e os indivíduos têm dificuldade em lidar com esse processo. Processo de degradação da normalidade social, como crises econômicas, guerras, grandes tragédias etc. produzem esse efeito.


É preciso compreender que sociedades protestantes não são apenas mais rigorosas no quesito culpa, mas também são mais individualistas. Além disso, o capitalismo se desenvolve inicialmente nas sociedades protestantes, o que denota uma passagem mais rápida nessas sociedades para a forma de solidariedade orgânica. Essa era uma das preocupações de Durkheim. Já que, tanto o movimento de passagem como a instalação de uma solidariedade aumentam as chances de ocorrer anomia social pela possibilidade de desaparecimento de regras morais no processo ou pelo afastamento dos indivíduos dessas regras, pois nesse novo momento a coesão não se dá pela identificação com o grupo, mas o contrário.

Qual a relação existente entre divisão do trabalho social e solidariedade em Durkheim?

Em De la Division du Travail Social, Durkheim esclarece que a existência de uma sociedade, bem como a própria coesão social, está baseada num grau de consenso entre os indivíduos e que ele designa de solidariedade. De acordo com o autor, há dois tipos de solidariedade: a mecânica e a orgânica.

Qual a relação da divisão social do trabalho com a solidariedade?

Ainda de acordo com o pensador, são esses valores que possibilitariam o surgimento da solidariedade entre aqueles que desempenham as mesmas tarefas. Por entender a sociedade através da metáfora de um corpo, Durkheim afirma que a divisão do trabalho mantém a harmonia do sistema.

Qual a relação entre o trabalho e a solidariedade na teoria de Durkheim?

Dentre todos esses fatores, Durkheim concebe o trabalho como o principal gerador de solidariedade. O trabalho define o modo como os indivíduos atuam e se organizam socialmente, fator determinante para a coesão social.

Quais os tipos de solidariedade social segundo Durkheim?

Portanto, Durkheim, classificou as sociedades através da solidariedade, que possui dois tipos: solidariedade mecânica e solidariedade orgânica.