O que é uma pessoa cis?

Mas você sabe o que é uma pessoa cisgênera ou, simplesmente, cis? Se não sabe, então você provavelmente é uma.

A especialista em direitos humanos, Hanna Pessoa, que também é cis, contou ao g1 o que é uma pessoa cisgênera e qual a importância desse reconhecimento na luta contra a transfobia.

"Pessoa cis é uma pessoa que existe dentro do que é visto como norma para identificação do sexo. O que se utilizam de maneira biológica para identificar macho e fêmea, homem e mulher. Por exemplo, alguém que nasceu e foi designado do sexo masculino e continua se identificando dessa forma", explicou.

Em resumo, uma pessoa cis é aquela que nasceu com sexo biológico feminino e se identifica como mulher. Ou que nasceu com o sexo biológico masculino e se identifica como homem. "Cis" vem do latim que significa "do mesmo lado". Ou seja, que nasceu e permaneceu com o mesmo gênero que lhe foi designado.

"É importante que nós, pessoas cis, entendamos que, ao nos reconhecermos desta forma, reconhecer nossos privilégios, podemos direcionar nossos posicionamentos, identificar melhor e intervir quando situações de transfobia ocorrem ao nosso redor e quando disseminamos essa violência para assim podermos ser melhores aliados na luta", disse.

Cis aliadas e não protagonistas

A professora da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e autora do livro Transfeminismo, Letícia Carolina Nascimento, é uma mulher trans e, em entrevista ao g1, disse como uma pessoa cis, além de ajudar na luta contra a transfobia ainda pode facilitar a vivência de pessoas transgêneras.

"Nesse contexto de aliadas, essas pessoas cis não devem ser protagonistas. Quem é aliado apoia, dá suporte. Então as pessoa cisgeneras que são aliadas elas não podem falar por nós, elas devem evidenciar as nossas falas. Elas devem reverberar aquilo que, nós, pessoas trans, estamos contando sobre nossas narrativas", explicou.

A professora elencou alguns pontos para auxiliar no entendimento de como, na prática, as pessoas cis podem ser aliadas.

Professora Leticia Carolina, autora do livro Transfeminismo — Foto: Reprodução

1 - Essas pessoas precisam estudar, buscar conhecimentos e informações. As pessoas trans não podem estar o tempo todo disponíveis para tirar dúvidas de pessoas que têm acesso à informação.

Várias pessoas trans têm produzido conteúdos diversos para as redes sociais, YouTube e Podcasts. É preciso se informar sobre essas questões.

"O que torna algo difícil é exatamente a falta de relação que eu tenho com o conteúdo. Então se eu pouco estudo matemática, eu vou ter muita dificuldade com matemática. Então, se eu quase não escuto pessoas trans, com certeza esse vai ser um assunto de difícil compreensão e entendimento para mim", exemplifica a professora.

2 - É fundamental que pessoas cis não presumam identidade de gênero ou pronomes de ninguém. Quando você tem dúvidas sobre essas questões, ensina a professora, observe os amigos ao redor dessa pessoa e como eles a tratam. Ora, se todos tratam pelo feminino, por exemplo, porque você vai tratar no masculino?

E se ainda restarem dúvidas, pergunte à pessoa: 'Olá, como é o seu nome e seu pronome?'.

4 - As pessoas cis precisam saber que existem perguntas proibidas de serem feitas a pessoas trans. Por exemplo: Qual o seu nome antigo?; Você já fez ou deseja fazer alguma cirurgia? Simplesmente essas perguntas não dizem respeito às pessoas de modo geral. Essas perguntas são invasivas, acabam tocando em pontos muito pessoais.

"Então não deslegitime pessoas trans pelo fato de elas não terem acesso a procedimentos estéticos e cirúrgicos como depilação a laser, uso de hormônios, cirurgias de modo geral", destaca Letícia.

5 - É muito importante que as pessoas cis, que estão no mercado de trabalho e têm o poder de contratação ou de influência na contratação, levantem a bandeira da necessidade de contratação de pessoas trans.

Dossiê trans

Relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra) contabilizou 140 assassinatos de pessoas trans e travestis em 2021 — Foto: g1

De acordo com a Associação Internacional De Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexuais (ILGA), o Brasil é o 2º país mais avançado em conquistas de direitos pró-LGTQIA. Apesar disso, o dossiê apontou que pelo 13º ano, o Brasil continuou sendo o país que mais mata essa população.

Ranking de assassinatos de pessoas trans por estado desde 2017 — Foto: Reprodução

A cada 10 assassinatos de pessoas trans no mundo, quatro ocorreram no Brasil. Em 2021, do total de 4.042 assassinatos catalogados, 1.549 foram no Brasil. Ou seja, sozinho, o país acumula 38,2% de todas as mortes de pessoas trans do mundo.

Como não há um dado oficial sobre o tema, a pesquisa é feita a partir de informações encontradas em órgãos públicos, organizações não-governamentais, reportagens e relatos de pessoas próximas das vítimas.

Keron Ravach é a vítima mais jovem nos relatórios da Antra, que contabiliza as mortes de transexuais no Brasil desde 2017 — Foto: Arquivo pessoal

Bruna Benevides ressalta que a mídia tem grande importância nesse dossiê, contudo também é necessário que pessoas trans tenham espaços em outros tipos de informações.

"Quando se fala apenas das mortes e das violências, se gera, na sociedade, um estigma, que é ruim para moldar como os cis enxergam os trans, com medo de morrerem a cada passo dado. É importante comemorarmos as nossas vitórias, mesmo que ainda remotas. É importante darmos espaço para a arte, para o cinema, para a música, para as dezenas de potências que temos", explica.

A associação destaca ainda o aumento da violência nas redes sociais: "Assassino não é apenas quem puxa o gatilho. Mas quem dissemina ódio e estigmas, nega direitos, vulnerabiliza, adoece e expõe pessoas trans a riscos", resume Bruna.

'Esse erro só tem um lado'

Linn da Quebrada no BBB — Foto: Reprodução/Globoplay

Em sua apresentação no BBB, a artista afirmou: "Não sou homem, nem sou mulher, sou travesti". Dias depois, o erro dos companheiros de confinamento – ao tratá-la com pronomes masculinos - gerou discussão nas redes sociais.

O professor da UFRJ e psicólogo Pedro Bicalho disse que o equívoco é uma construção subjetiva das pessoas.

“É complicado a gente pensar que isso é um erro. É a construção subjetiva das pessoas de não reconhecerem a identidade do outro como sendo legítima, em especial quando estamos falando da identidade trans. Ninguém erra a identidade de uma pessoa cisgênero, esse erro só tem um lado, o lado das pessoas com identidade trans”.

*Estagiária sob supervisão de Maria Romero.

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O que é ser uma cis?

Cisgênero é o indivíduo que se identifica com o sexo biológico com o qual nasceu. Um exemplo de cisgênero é uma pessoa que nasceu com genitália feminina e cresceu com características físicas de “mulher”, além disso adotou padrões sociais ligados ao feminino, comumente expressados em roupas, gestos, tom de voz.

Qual a diferença entre hétero e cis?

O termo cisgênero, se refere à identidade de gênero (homem ou mulher), e o termo hétero, se refere à orientação sexual( hetero, homo). Dessa forma, uma pessoa pode ser cisgênero (homem ou mulher), e ter uma orientação homossexual, ou seja, um processo não anula o outro.

Quem não é cis é o quê?

Uma pessoa que se identifica com o gênero que lhe foi atribuído ao nascimento é uma pessoa cisgênero (mulher ou homem cis). Já uma pessoa que não se identifica com o gênero que lhe foi imposto ao nascimento pode ser uma mulher trans, um homem trans ou uma pessoa não binária.

O que é uma menina cis?

Da mesma forma, a mulher cisgênero (ou mulher cis) é a pessoa que, nascida com o sexo biológico feminino, identifica-se com o conjunto de atributos tradicionalmente considerados femininos.

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