Para que serve esse melzinho do amor?

Depois de passar a febre do Viagra, que mudou a vida sexual de milhares de pessoas mais de vinte anos atrás, agora o que está fazendo a cabeça e está em alta é o chamado Melzinho do Amor. Considerado uma febre entre os jovens e definido como um estimulante sexual, o produto é anunciado como 100% natural, promete “milagres” após o consumo e está na mira da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

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Nos três últimos meses, as buscas pelo termo “Melzinho do Amor” no Google tiveram uma alta repentina. O termo teve seu auge na época da morte de Mc Kevin, que afirmou ja ter usado a substância. Cidades como Camboriú, São José, Lages, Itapema e Itajaí lideram as pesquisas na internet relacionando o melzinho a termos como prazer e efeito colateral. Mas o que os que buscam delírios sexuais na pandemia nem imaginam é que o efeito prometido pode não acontecer.

Em maio, a Anvisa chegou a emitir uma determinação proibindo a comercialização de duas marcas e atualmente elabora um dossiê com a investigação sobre os componentes do produto.

O que se sabe até agora 

Os anúncios do Melzinho do Amor estão espalhados pela internet em sites populares de entrega e nas redes sociais. Além da descrição, eles fazem recomendações sobre a forma de consumo.

Para que serve esse melzinho do amor?

Buscas pelo termo 'Melzinho' no Gooogle

Os vendedores descrevem que a composição seria simples. Mel, caviar e canela dariam forma a substância gelatinosa que, segundo os próprios anunciantes, deve ser consumida via oral acompanhada por grande quantidade de água. 

A propaganda promete efeitos similares aos de um medicamento conhecido, que é usado para disfunção erétil: o Viagra. Porém, o remédio descoberto há 22 anos é considerado seguro e eficaz para a finalidade prometida. Viagra é o nome comercial dado à substância sildenafil. 

O medicamento foi descoberto quando pesquisadores faziam testes clínicos com um remédio para tratar problemas no coração. Um de seus efeitos colaterais foi o aumento na irrigação sanguínea no pênis, o que causa ereção. 

Diferente do Melzinho, ele tem aprovação da Anvisa para a venda e consumo. Desde 2018 no Reino Unido é possível comprar o medicamento sem prescrição médica. No Brasil é necessário apresentar o documento.

A bula do medicamento contraindica o uso para mulheres e menores de 18 anos. Pessoas que façam uso de remédios que contenham ácido nitroso também não devem consumir o produto.

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Já no Melzinho, as contraindicações variam de acordo com os vendedores. Contudo, é comum a recomendação para que grávidas, doentes renais e crianças não consumam. 

— Até onde eu sei não existe remédio natural para disfunção erétil. O que existe é o que todo mundo conhece que é o Viagra — explica a professora e pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Maique Biavatti. 

Membro do Grupo de Estudo de Produtos Naturais e Sintéticos da UFSC, Maique explica que não há comprovação científica de que a mistura de canela, mel e caviar é capaz de causar o mesmo efeito do Viagra.

Ela alerta que produtos como o Melzinho do Amor podem conter o sildenafil e que o risco é maior porque as quantidades são desconhecidas. A bula do Viagra orienta que o consumo máximo seja de um comprimido por dia. No caso do Melzinho, não há esse tipo de orientação por quem vende.

— É um risco fazer uma mistureba de coisas nada a ver, com apelo natureba, e colocar junto essa substância [sildenafil]. O que é extremamente perigoso nesse caso específico porque existem muitos casos de senhores de idade que usaram [o Viagra] e acabaram tendo problemas de infarto, pois ele tem um efeito secundário no sistema cardiovascular — afirma. 

O assunto ganhou os trends na busca do Google e mostrou a sua popularidade em alta em maio deste ano. A data coincide com a morte do MC Kevin. O funkeiro, que faleceu aos 23 anos, já tinha admitido em entrevista o uso do suposto estimulante sexual.

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O Melzinho é tema de funk, como na música “Gordinho Bololô”, do MC Ryan. Lançada no dia 12 de março, a canção já soma mais de 2 milhões de visualizações no Youtube. Ela cita o produto em trecho do refrão: “Lá só tem chefuxo preparado pro caô, bem trajado e com melzinho”. 

Outras músicas levam o Melzinho no título e fazem referência ao efeito sexual prometido pelo produto. “To chapado na onda do Melzinho do Amor”, diz o trecho de um funk lançado em abril deste ano. 

O que falta descobrir

Em nota, a Anvisa afirmou que ainda não sabe dizer qual é a composição do Melzinho. Mesmo com os anúncios afirmando que se trata de um produto natural, ele não se enquadra como alimento registrado ou isento de registro.

O órgão diz ainda que alimentos não podem ser publicizados como indicados para aumento da libido. Como promete resultados com fins terapêuticos, ele necessita de uma regulamentação como medicamento. O que não aconteceu.

No dia 25 de maio, a Anvisa deu início a um dossiê para avaliar se o produto é regular e está de acordo com a legislação sanitária vigente. Segundo o órgão não há um prazo para a conclusão do trabalho.

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Em paralelo ao dossiê, duas resoluções foram publicadas pelo órgão no Diário Oficial. No dia 27 de maio aconteceu a proibição da produção, comercialização, publicidade e compra do Melzinho da marca Vital Honey. Já no dia 7 de junho, a marca Power Honey sofreu a mesma sanção.

As duas têm CNPJ desconhecido pela Anvisa. No caso da Vital Honey as embalagens têm os rótulos escritos em árabe. Já a Power Honey tem os produtos em inglês.

Quais os riscos do Melzinho

A Diretora da Vigilância Sanitária de Santa Catarina, Lucélia Scaramussa Ribas Kryckyj, pede que as pessoas não consumam o Melzinho:

— Desconhecemos toda a sua composição e também os fabricantes desses produtos são totalmente desconhecidos o que dificulta e muito a fiscalização.Orientamos que não se consuma nenhum produto com qualquer tipo de indicação sem que o mesmo não tenha registro.

A professora Maique Biavatti faz o alerta de que até mesmo substâncias naturais podem causar efeitos colaterais.

— Existe muito mito de que o natural não faz mal e não é bem assim — diz.

No caso do Melzinho, produto que tem composição desconhecida, Maique fala que os resultados após o uso podem estar associados a um efeito placebo.

— A pessoa às vezes tem alguma coisa sexualmente mal resolvida ou alguma baixa autoestima e oferecem pra ela essa mistura de coisas nada a ver. O caviar e canela mais que lembram a virilidade, a potência.Ela já vai esperar que aquele efeito vai ser causado nela, né? O placebo é isso, é a expectativa da cura, que é muito comum no ser humano — pontua. 

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O que acontece se eu tomar o melzinho do amor?

Uma análise feita pelo Laboratório de Toxicologia Analítica do Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Unicamp (CIATox) apontou que o "melzinho do amor", um suposto estimulante sexual, anunciado como 100% natural, e que promete "milagres" após o consumo, pode causar efeitos colaterais graves, e até mesmo ...

Como devo tomar melzinho do amor?

Ele tem liberação para a venda e uso no país. A aquisição do produto deve ser feita com receita médica e a bula indica que apenas seja consumido uma dose do remédio por dia. Já o Melzinho não tem bula conhecida. Em alguns anúncios, os vendedores fazem contraindicações.

Quais são os efeitos do melzinho estimulante?

Trata-se de uma substância que se popularizou entre os jovens como um potente estimulante sexual. Nos homens, ele promete um efeito semelhante ao do medicamento para disfunção erétil conhecido como Viagra. Nas mulheres, ele promete aumentar a libido.