Por que as manifestações de 1905 foram consideradas um ensaio para a Revolução de 1917?

Mestrado em História (UFJF, 2013)
Graduação em História (UFJF, 2010)

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A Revolução Russa de 1905 é considerada o marco inicial da famosa Revolução Russa de 1917.

No começo do século XX, a Rússia ainda era um país absolutista com o poder centrado na figura do czar. A transição do feudalismo para o capitalismo aconteceu tardiamente no Império Russo, o que denota mais ainda o atraso das estruturas políticas e econômicas do país em relação ao restante do mundo.

No ano de 1861 ocorreu a chamada emancipação dos servos na Rússia, o que permitiu que o país se guiasse para o capitalismo. Entretanto essa transição aconteceu muito rapidamente e, logo, houve um descontrole da situação. Instalava assim uma crise política. Os servos foram libertados e tiveram o direito de comprar a terra onde trabalhavam, mas a consolidação da liberdade adquirida teve um custo muito alto e eles acabaram permanecendo na mesma situação de miséria.

A economia russa sofreu rápida transformação também em decorrência da construção da Ferrovia Transiberiana que permitiu a entrada do capital estrangeiro. As regiões de Moscou, São Petersburgo e Baku conheceram um rápido processo de industrialização e condicionaram o surgimento do operariado urbano e o crescimento da classe média. A dinamização na estrutura social uniu as classes no interesse pela democratização do sistema político enquanto a nobreza feudal e o czar tentavam manter a estrutura russa intacta.

O descontentamento da população com uma Rússia que mantinha estruturas muito atrasadas em relação ao restante do mundo só intensificou. A Guerra Russo-japonesa, entre 1904 e 1905, ofereceu o motivo que faltava para a população se reunir em protesto contra o sistema. Nesse conflito, a Rússia provou uma derrota desastrosa. Foi então que no dia 22 de agosto de 1905 o padre Gregori Gapone organizou a população em uma manifestação pacífica que marchou até o palácio de inverno do czar Nicolau II para entregar um documento com uma série de reivindicações dos russos. Nicolau II ameaçou reprimir o movimento caso não recuassem, como não aconteceu, a guarda do czar disparou contra a população e deixou centenas de mortos. Esse evento ficou conhecido como Domingo Sangrento e acabou com a boa imagem que súditos tinham do czar, oferecendo o passo inicial para o movimento revolucionário.

Os diversos setores da sociedade russa passaram a contestar o atrasado sistema da Rússia. Os trabalhadores urbanos reivindicavam melhorias econômicas e igualdade, intelectuais e liberais protestavam por direitos civis, as forças armadas e as nacionalidades minoritárias queriam liberdade cultural e política e os camponeses, principais descontentes, almejavam melhoras econômicas.

A Revolução Russa de 1905 acabou sendo um movimento espontâneo contra o governo em vigência, não tinha liderança definida e muito menos direção, controle ou objetivos claros. Mas foi de grande importância na mudança da estrutura russa e para permitir a grande revolução em 1917. Lênin a considerava como um ensaio geral para 1917.

O czar tentou ainda manter sua tradicional autoridade. Em outubro do mesmo ano lançou o Manifesto de Outubro, no qual permitiu a criação do parlamento e a existência de partidos políticos. Nisso ganharam espaço na Rússia os partidos Mencheviquee Bolchevique, sendo que o primeiro era mais moderado e defendia reformas graduais com o apoio da burguesia enquanto o segundo, mais radical, defendia a ação revolucionária. A iniciativa do czar acalmou os moderados, porém os socialistas continuaram insatisfeitos e organizando greves. Os reformadores terminaram o ano rachados, abrindo espaço novamente para a figura do czar. Este ainda governou por alguns anos, mas com uma estrutura russa relativamente alterada.

Fontes:
//pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Russa_de_1905
//web.archive.org/web/20100216103213///www.fflch.usp.br:80/sociologia/docartigos/Ricardo_Historia.pdf
//www.jornal.ufrj.br/jornais/jornal8/jornalUFRJ803.pdf

Texto originalmente publicado em //www.infoescola.com/historia/revolucao-russa-de-1905/

Domingo Sangrento foi um terrível evento ocorrido em 9 de janeiro de 1905, na cidade de São Petersburgo, Rússia. Na ocasião, milhares de pessoas que estavam nas imediações do Palácio de Inverno — residência dos czares —, determinadas a entregar em mãos de Nicolau II uma carta de reivindicações de melhorias das condições de trabalho nas fábricas da cidade, foram fuziladas pelos guardas imperiais.

A ação arbitrária contra os trabalhadores acabou por gerar uma reação em cadeia de revoltas em várias outras cidades russas, o que acabou por configurar a Revolução Russa de 1905 — encarada como um ensaio da Revolução de 1917.

Saiba mais: União Soviética – formada em 1922, após a Guerra Civil Russa

Contexto do Domindo Sangrento

Para se ter uma compreensão satisfatória da Revolução de 1905, faz-se necessário saber alguns detalhes do contexto da Rússia czarista da transição do século XIX para o século XX. Portanto, inicialmente, devemos levar em conta que o último czar, Nicolau II, era herdeiro da política do absolutismo monárquico, ainda forte na Rússia naquela época.

Essa estrutura, em meados do século XIX, gerou um grande problema para a Rússia, já que ela havia se atrasado, em relação a outras potências europeias, no processo de industrialização. Enquanto nações como Alemanha, França e Inglaterra estavam avançadas em termos industriais, a Rússia permanecia semifeudal.

Selo em homenagem à Revolução de 1905 na Rússia.[1]

  • Industrialização russa

A transição do regime semifeudal para o industrial ocorreu de forma abrupta na década de 1890, sobretudo por conta da construção da ferrovia transiberiana, que permitiu o escoamento de produtos industriais da Europa Ocidental para o Leste do continente e, consequentemente, a formação das primeiras fábricas em solo russo. A cidade de São Petersburgo, onde aconteceu o massacre do Domingo Sangrento, foi uma das que receberam tais fábricas. Dessa forma, como bem ressalta o pesquisador Luiz Enrique de Souza:

[…] O desenvolvimento industrial convertera-se, pois, numa obsessão do governo, e os homens de negócios refestelaram-se com a liberalidade de recursos que fluíam dos cofres nacionais, fosse por meio de subsídios diretos, proteção alfandegária ou de contratos para obras de infraestrutura que visavam justamente a impulsionar a atividade produtiva. Uma vez que o mercado interno encontrava-se ainda em processo de formação, coube ao Estado garantir um volume de encomendas que viabilizasse a construção de linhas férreas, assim como outros negócios que dependessem de uma maior inversão de capitas.|1|

O grande problema era que nem o czar e os aristocratas russos nem os primeiros industriais do país souberam lidar com a massa de operários, isto é, trabalhadores urbanos, que se formou em torno de cidades como São Petersburgo. O massacre do Domingo Sangrento, por exemplo, ocorreu em virtude da demissão arbitrária de quatro operários que haviam reclamado dos maus-tratos físicos empreendidos pelo capataz na fábrica.

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Reação popular e dos movimentos organizados

O Domingo Sangrento fez com que a revolta dos trabalhadores russos se espalhasse como fogo tanto no campo quanto nas cidades. Greves, motins e manifestações reuniam milhares de pessoas. Nesse meio-tempo, a oposição clandestina ao czarismo passou a atuar com as massas, buscando coordená-las.

Entre os opositores, estavam os anarquistas niilistas e os populistas narodiniques, ambos partidários da ação violenta e do terrorismo, bem como liberais, social-democratase a esquerda revolucionária de matriz marxista, que daria no bolchevismo, tendo à frente Lenin e Trotsky.

A pressão popular, além de reivindicar melhores condições de trabalho, reformas econômicas e o fim dos privilégios da estrutura absolutista, também tinha em vista a reforma política da Rússia.

Multidão em Moscou celebrando o Manifesto de Outubro, de Nicolau II.[2]

Nicolau II, em outubro de 1905, concordou em promover certa abertura política, permitindo a criação da Duma, isto é, um parlamento nacional. Isso foi feito a partir do chamado Manifesto de Outubro. Entretanto, com o advento da PrimeiraGuerra, em 1914, a nova estrutura política promovida pelo czar e a economia do império russo ruiriam, o que permitiu que fosse levada a cabo a segunda e definitiva Revolução Russa, a de 1917.

Créditos da imagem

[1] Shutterstock | Neveshkin Nikolay

[2] Shutterstock | Everett Collection

Notas

|1| SOUZA, Luiz Enrique Vieira de. A recepção alemã à Revolução Russa de 1905. Tese de Doutorado. USP, Departamento de Sociologia. 2012. p. 66.

Por que a Revolução de 1905 é considerada um ensaio da Revolução Russa de 1917?

A Revolução de 1905 Em 1904-5, a Rússia entrou em guerra com o Japão, disputando territórios no Extremo Oriente, e foi derrotada. Esse conflito repercutiu na Rússia Européia, dando origem à Revolução de 1905 — que Lenin mais tarde considerou um “ensaio geral para a Revolução de 1917”.

O que aconteceu em 1905 e por que é considerado como ensaio geral?

Trabalhadores organizaram greves em Moscou e Petrogrado, as maiores cidades russas, e houve insubordinação militar. Foi a primeira Revolução Russa, em 1905, considerada como o ensaio geral para a revolução que ocorreu depois, a Revolução Russa de 1917.

Qual a relação entre a Revolução de 1905 e 1917?

Revolução Russa de 1905 relaciona-se com a Revolução vitoriosa de 1917 na medida em que esse processo representou um ganho de consciência política para os trabalhadores e também deixou como legado os sovietes. O marco inicial da Revolução Russa de 1905 foi o episódio conhecido como “Domingo Sangrento”.

Que acontecimentos entre 1905 e 1917?

A guerra russo-japonesa de 1905 foi o estopim do que se convencionou chamar de ensaio revolucionário de 1917. As consequências nefastas da guerra foram sentidas principalmente pelos camponeses, que forneciam os soldados para o exército russo.

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