O nitrato, o pintor paraense e o pesquisador frustradoPublicado 6 de set de 2012 Show
Temos uma tendência crônica de importar da metrópole o que não precisamos. Em termos culturais, costumamos receber o que há de mais ralo da cultura popular massificada. Agora estamos trazendo preocupações sobre problemas que realmente não temos. Levando a extremos impensados nossa subserviência intelectual, passamos a incorporar até mesmo a incompreensão que os países do Norte têm do mundo tropical. Começamos também a introgredir a noção de que ser ignorante é politicamente correto. Já deve ser um clichê histórico e cultural a surpresa com que pintores europeus chegados ao Brasil no período colonial notaram quão inadequados eram seus modelos pictóricos para representar fielmente a natureza e os povos exuberantes dos trópicos. O desafio de se interpretar essa parte do mundo novo com modelos do Velho Mundo também levou a educativos equívocos no campo da Ciência, como quando Louis Agassiz, partindo do que observara na Europa, erroneamente considerou que os solos vermelhos e profundos do Brasil tropical eram indício da ação de geleiras do último período glacial. Aliás, a intensidade da ação do clima, dos agentes do intemperismo, mesmo do sol equatorial, sobre a fauna, a flora, o relevo e o solo não foi bem captada inicialmente pelos que se debruçaram sobre a América Tropical tentando entendê-la e representá-la. Ao pintar a tela “A fundação da cidade de Nossa Senhora de Belém do Pará” no início do século XX, o artista Theodoro Braga cometeu o que pintores mais europeizados consideraram uma heresia artística ou sinal de má formação estética: representou os rios da foz do Amazonas com uma cor amarelada, realisticamente mostrando como são os rios da região, barrentos. Isso é comum em rios que drenam regiões sob clima equatorial chuvoso, onde os solos e as rochas são intensamente intemperizados e erodidos, mas parece estranho e de mau gosto a frios olhos setentrionais. Esses solos longamente intemperizados expõem grande número de cargas positivas em sua fração argila, ao contrário dos solos desenvolvidos sob climas temperados no Hemisfério Norte, nos quais predominam as cargas negativas e há pouquíssimas cargas positivas, por razões que já expus noutro texto. Nessas regiões, a movimentação do nitrato ao longo das várias camadas do solo até atingir corpos d’água subterrâneos e superficiais é um grave ambiental, por causar eutroficação e contaminação das águas. O nitrato é um ânion (NO–3), ou seja, é uma molécula com carga negativa, logo tenderá a ser repelido por outras cargas negativas, como as expostas pelas argilas de solos europeus e norte-americanos, por exemplo. Em termos de fertilidade do solo e nutrição de plantas, a principal utilidade das cargas expostas pelos coloides do solo é a retenção dos nutrientes minerais, que estão geralmente na forma de cátions (íons positivos) ou ânions (íons negativos) – as cargas positivas retêm os ânions e as negativas retêm os cátions. Solos com predomínio de cargas negativas não são eficientes em reter íons negativos, que são lavados (lixiviados) pela água que infiltra no solo. Solos com cargas positivas, por outro lado, são bem mais eficientes em reter ânions como o nitrato. Conheci um pesquisador brasileiro que, ao fazer seu doutorado nos Estados Unidos, aprendeu que o nitrato é móvel no solo e por isso seria sempre um problema ambiental, como mostravam os modelos matemáticos e as observações feitas nos Estados Unidos e na Europa. Ao voltar ao Brasil com um modelo nos disquetes, decepcionou-se muito porque suas simulações da lixiviação do nitrato não foram confirmadas pelas observações experimentais. Mesquinha natureza. Apesar disso, ainda ouço muita crítica em relação à utilização de adubos nitrogenados em solos tropicais baseada em dados de movimentação de nitrato de solos americanos. Minerais de argila de solos tropicais intemperizadosPublicado 1 de set de 2009 Por estar em região tropical com raras ocorrências de fenômenos naturais catastróficos como terremotos, glaciações ou vulcanismo há um período longo de tempo, as condições ambientais
brasileiras favoreceram o desenvolvimento, em grande parte do território nacional, de solos bem desenvolvidos em cuja fração argila predominam minerais secundários típicos de intensos processos de intemperismo, principalmente minerais de argila do tipo 1:1 (grupo da caulinita) e óxidos de ferro e alumínio, considerados como produtos finais do intemperismo químico e altamente resistentes à dissolução ulterior. Solo pobre, mata exuberante, agricultura insustentávelPublicado 26 de ago de 2009 Muitos já terão ouvido ou lido que os solos da região amazônica são quimicamente pobres. Certamente esta informação foi recebida com um certo ceticismo, afinal como uma vegetação tão exuberante quanto à da floresta amazônica pode se manter sobre um solo pouco fértil? Bem, apesar de estranho, a informação é verdadeira. Os solos se
desenvolvem a partir da destruição (intemperismo) das rochas, que chamamos de material de origem. Este intemperismo é causado pela água (chuvas) que em geral são levemente ácidas devido à reação da água com o CO2 da atmosfera, formando ácido carbônico (H2O + CO2 = H2CO3). Porque solos de regiões de clima mais úmido normalmente são ácidos?Como visto anteriormente, os solos de clima tropical úmido encontram-se submetidos a altas temperaturas e excesso de chuva, que resultam em uma acidificação crescente. Além disso, possuem capacidade de tamponamento alta (FASSBENDER, 1975).
Quais principais causas da acidez nos solos tropicais?Origem da acidez do solo
Os solos tropicais são normalmente ácidos, seja pela ocorrência de precipitação suficientemente alta para lixiviar quantidades apreciáveis de bases trocáveis do solo, seja pela ausência de minerais primários e secundários responsáveis pela reposição dessas bases.
Como nos ambientes tropicais mais úmidos os solos são pobres em nutrientes?Composição do solo: Desde que há uma quantidade e uma diversidade tremendas de folhagem em florestas tropicais, você poderia supor que os solos da floresta úmida são ricos em nutrientes. Na verdade, os solos das florestas úmidas são pobres em nutrientes porque estes não são armazedos neles por muito tempo.
Por que os solos tropicais podem ser preparados com amplitude maior de umidade que os solos de clima temperado?Nas regiões tropicais, os solos são mais desenvolvidos do que em ambientes frios, devido às altas temperaturas e chuvas, que facilitam, principalmente, a hidrólise dos silicatos (Silva et al., 2012).
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