Quais exercícios físicos não são indicados para pessoas com diabetes por que

As atividades físicas para diabéticos podem contribuir tanto para a prevenção quanto para o tratamento do diabetes, doença que acomete de 5 a 9 milhões de brasileiros. Ainda assim, quando os exercícios são realizados sem acompanhamento, há risco de sérias complicações para os pacientes. A prática errônea dos exercícios está associada à ocorrência de complicações, agravando os quadros de hipertensão ou de doenças cardíacas, articulares e neurológicas.

A avaliação física ou cardiorrespiratória constitui uma das etapas mais importantes, ao se iniciar um programa de esportes. Os resultados não servem apenas para classificar a condição do diabético, mas como ponto de partida para a prática de exercícios, já que identificam a intensidade, a frequência, a duração e o tipo de esforço que estão fora da margem de risco para cada paciente.

"Fatores como histórico familiar, doenças (principalmente as relativas à visão, aos rins, coração e neurológicas), tratamentos e medicamentos em uso, hábitos alimentares, tabagismo, níveis de triglicérides, colesterol e hemoglobina glicosilada formam os principais itens do banco de dados de cada diabético", afirma a professora Mara Silveira Pereira, do Curso Atividades Físicas para Diabéticos, elaborado pelo CPT - Centro de Produções Técnicas.

As modalidades físicas mais aconselháveis são caminhada, corrida, natação, hidroginástica, ciclismo, dança e ginástica aeróbica de baixo impacto. Para o diabético estas atividades são excelentes, pois utilizam oxigênio em suas reações para favorecer a queima de glicose e gordura. Além disso, a longo prazo, a pessoa ganha maior resistência e melhora suas funções cardiorrespiratórias.

Já os exercícios mais condenados, que apresentam risco de sérias complicações ao paciente diabético, são aqueles que favorecem lesões nos pés, os esportes de contato - como o boxe e as lutas marciais, que podem comprometer a visão e desencadear uma hemorragia retiniana. Maratona, alpinismo, mergulho em profundidade e halterofilismo também são desaconselhados.

Vale relembrar que a aptidão física pode ser considerada uma condição corporal na qual o indivíduo possui energia, vitalidade e as habilidades motoras suficientes para realizar as tarefas diárias e participar de atividades recreativas, sem fadiga excessiva. Como ressalta o senso comum, fazer exercícios é bom para a saúde. Atualmente, não mais se discutem os benefícios do esporte, mas, sim, qual a forma mais correta de praticá-los, visando alcançar ou manter a saúde.

No diabético, por exemplo, existe a necessidade de um monitoramento adequado, para evitar, durante a atividade física, estados de hipoglicemia e coma hipoglicêmico (choque insulínico), ou vice-versa, hiperglicemia e, consequentemente, entrada em estado de torpor ou até mesmo em coma diabético, sendo este menos grave e de ocorrência mais comum. Por isso, o monitoramento deverá ser inicialmente realizado antes, durante e após atividade física.

O horário de utilização de insulina lenta, rápida ou ultrarrápida, cabe ao médico, assim como a dosagem, o local de aplicação e o horário da ingestão de carboidratos, bem como a quantidade. A prática da atividade física acompanhada de dieta bem elaborada reduz esse perfil e melhora a saúde geral do diabético, reduz a pressão arterial, melhora a fórmula sanguínea e, dentro desta, as taxas de colesterol e de açúcar.

A atividade física possui um grande potencial no tratamento do diabetes, por permitir:

-Conscientizar o diabético da importância da prática de exercícios e manter uma vida ativa para promover a saúde;
-Reconhecer e saber avaliar os efeitos das diferentes formas de atividades físicas sobre a glicemia sanguínea, de acordo com variáveis como horário, tipo de exercício, volume, intensidade;
-Saber realizar os ajustes alimentares e/ou medicamentosos, para manutenção da homeostasia metabólica, durante e após as práticas físicas;
-Tanto a falta quanto o excesso de exercícios podem ser danosos ao organismo, especialmente tratando-se de pessoas com problemas metabólicos, como os diabéticos.

Por Andréa Oliveira.

Quais exercícios físicos não são indicados para pessoas com diabetes por que
Bruno Marçal /

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Pode soar exagerado, mas é a mais pura realidade: para o diabético, atividade física funciona como remédio. “Tenho vários pacientes que pararam de tomar insulina depois que começaram a se exercitar”, conta o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Quer outra prova de que sair do sofá tem função terapêutica? Uma pesquisa da Universidade Estadual Paulista, em Presidente Prudente, revela que diabéticos sedentários têm um gasto financeiro 63% maior com consultas médicas em comparação com os ativos. Os paradões também botam mais a mão no bolso para comprar medicamentos.

Que fique claro: no trabalho, realizado com 121 pacientes das unidades básicas de saúde, não havia nenhum esportista profissional. Muito pelo contrário. Para identificar os participantes mais, digamos, atléticos, os pesquisadores levaram em conta qualquer atividade: desde a caminhada em direção ao ponto de ônibus até o grau de movimentação no trabalho. “Se as pessoas fizessem um programa estruturado de exercícios, acredito que a economia seria ainda mais expressiva”, diz uma das autoras da análise, a professora de educação física Jamile Codogno.

É simples entender o porquê. Dar tchau ao sedentarismo minimiza o principal tormento na vida do diabético: a sobra de açúcar pelo sangue. Isso porque a prática de exercícios estimula a produção de GLUT-4, uma proteína que recolhe a glicose excedente na circulação para finalmente jogá-la dentro da célula. “Logo, o paciente precisa de menos insulina para absorver o açúcar”, conclui Couri. As benesses não ficam restritas à baixa glicêmica. Suar a camisa diminui a pressão arterial, facilita o emagrecimento e reduz o colesterol – mudanças essenciais especialmente para os diabéticos do tipo 2, que são mais propensos a também apresentar esses problemas de saúde.

E, mesmo que a balança não acuse perda de peso, não há motivo para desânimo. Em uma pesquisa sueca com 15 462 diabéticos, cientistas viram, em cinco anos, um menor risco cardíaco entre as pessoas ativas — e, nesse período, ninguém emagreceu. O que não dá é para investir na malhação em intervalos de 15 dias. “Atividade física tem que ser medida de tratamento”, reforça o endocrinologista Rodrigo Lamounier, do Hospital Mater Dei, em Belo Horizonte. Ou seja, se você relaxar, a glicemia não perdoa: vai voltar a subir.

Protocolo de segurança

Nem adianta citar possíveis crises de hipo ou hiperglicemia (quando o açúcar baixa ou sobe demais, causando sintomas desagradáveis) como a principal razão para permanecer imóvel feito um poste. “O protocolo e as recomendações de exercícios para diabéticos estão bem estabelecidos. Não há motivo para ficar inseguro”, afirma Jamile. Então, para não passar perrengue, tem que seguir certas orientações. A primeira é marcar uma consulta com o médico para checar se está tudo em ordem. Depois do aval dele, é importante encontrar um profissional de educação física com experiência no trato com diabéticos.

O treino também terá particularidades. Para começar, quem faz uso de insulina e sulfonilureias – fármacos que induzem a queda do açúcar – não pode iniciar a ginástica antes de medir a glicemia. O ideal é que ela marque acima de 100 mg/dl. Se estiver abaixo disso, a tendência é que caia ainda mais com os exercícios. Aí está armado o cenário para a tal da hipoglicemia, que pode causar tontura, confusão mental, desmaio… Então, se a glicemia antes do treino for baixa, basta comer alguma coisa, esperar um tempinho e fazer uma nova medição. O açúcar no sangue subiu? Ótimo. Mas os cuidados não acabam aí. “Durante os exercícios, é bom medir a glicemia mais uma vez para garantir que ela não volte a cair demais”, orienta William Komatsu, educador físico da Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp. A situação inversa também demanda cuidados. Quem inicia a malhação com a glicemia elevada tem que reservar um momento do treino para verificá-la a fim de confirmar que esse valor está no trajeto da descida. “Mas, caso ela já esteja acima de 300 mg/dl, melhor nem se exercitar nesse dia”, alerta Couri.

Ufa, quando a sessão de treinamento finalmente acaba, dá para relaxar, certo? Na verdade, só depois de – adivinhe – avaliar novamente a danada da glicose! “Se no final da atividade ela estiver baixa, pode continuar caindo. Isso é muito arriscado. Imagine se a pessoa sofre uma hipoglicemia enquanto dirige para casa”, exemplifica o especialista da Unifesp. Há mais uma regra de ouro para frear a queda brusca do açúcar: evite malhar na hora do pico de ação da insulina. É que, nesse momento, a glicose ficará necessariamente lá embaixo. Considerando que o exercício também tem esse efeito, já viu: a combinação pode ser desastrosa.

Mas o aparelhinho para denunciar os níveis glicêmicos não é o único parceiro do diabético. Ele também precisa ter apreço especial por seu tênis e suas meias, que devem ser o mais confortável possível. Tudo para evitar a formação de bolhas e machucados. “Nunca se sabe quando o paciente vai desenvolver neuropatia periférica”, justifica Komatsu. Neuropatia periférica? Trata-se de um problema a que diabéticos estão mais suscetíveis devido ao excesso de açúcar que se acumula nos nervos. “Quanto menores eles são, como os dos pés, maior o prejuízo”, alerta Jamile. Prejuízo quer dizer menos sensibilidade ali. O dilema é que, se houver um mínimo arranhão e ele passar despercebido, pode evoluir para algo grave. Lembre-se de que, na presença do diabetes, a cicatrização não é das melhores. Por isso, além de buscar acessórios adequados, é fundamental analisar os pés antes e depois dos exercícios. “Quem convive com neuropatia deve dar preferência a atividades de baixo impacto, como natação e bicicleta”, acrescenta Couri.

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Outra parte do corpo que requer zelo são os olhos. Caso a alta do açúcar já tenha lesado seus vasinhos – a retinopatia -, o educador físico precisa estar atento à respiração do aluno. É que, se ele prender demais o fôlego, a pressão aumenta e os vasos podem se romper. Como todo remédio, a atividade física também cobra cuidados em sua bula.

O exercício tem que ser de leve?
Não senhor. Quem tem diabetes definitivamente não está fadado a fazer caminhadas vagarosas para sempre. Essa pessoa tem tanto potencial para evoluir no treino quanto qualquer outra. E pode até virar esportista profissional! Inclusive, o educador físico William Komatsu, da Universidade Federal de São Paulo, comparou atletas diabéticos e não diabéticos em sua tese de doutorado e chegou à seguinte conclusão: eles competiam de igual para igual.

Os efeitos dos aeróbicos…
Atividades como correr, nadar, pedalar e jogar futebol tendem a baixar a glicose na corrente sanguínea de forma mais imediata. Isso porque demandam energia rápida. Elas também são indicadas porque trabalham o sistema cardiovascular com mais ênfase.

…e dos anaeróbicos
Os exercícios de resistência, como a musculação, são essenciais para o diabético. É que mantêm a glicemia baixa por um tempo prolongado. Fora que desenvolver massa magra faz um bem danado, já que os músculos são exímios consumidores de açúcar.

O passo a passo de um treino seguro e saudável

Há recomendações para todas as etapas que envolvem a malhação

Antes de começar um programa de exercícios…

  • Consulte seu endocrinologista.
  • Pessoas com arritmia e outros problemas cardíacos não podem fazer esportes antes da liberação do cardiologista.
  • Faça exames oftalmológicos para checar como anda a saúde dos vasinhos dos olhos.
  • Encontre um educador físico, de preferência com experiência no acompanhamento de alunos diabéticos.

Ao sair de casa para se exercitar…

  • Defina um horário para a atividade física que não coincida com o pico de ação de medicamentos que baixam a glicose.
  • Realize uma refeição leve.
  • Antes de iniciar a atividade, meça a glicemia. Se estiver abaixo de 100 mg/dl, coma uma fonte de carboidrato, espere e avalie as taxas novamente. Se subiu, pode dar a largada nos exercícios.
  • Leve carteirinha de identificação do diabético. Em caso de hipoglicemia, as pessoas ao redor saberão como agir.
  • Escolha meias e tênis adequados para não machucar os pés. Confirme que não há elementos estranhos dentro do sapto.
  • Tenha sempre um sachê de açúcar à disposição. Se a glicemia baixar demais, ele será necessário.

Durante e depois do exercício…

  • Mantenha-se hidratado.
  • A cada hora, meça a glicemia para ver como ela está se comportando. E coma algum tipo de carboidrato (uma maçã ou uma barrinha, por exemplo).
  • Durante uma corrida de longa distância, varie carboidratos doces e salgados para não enjoar.
  • Quando a malhação terminar, verifique a glicose sanguínea de novo para não correr o risco de uma hipoglicemia tardia.
  • Chegando em casa, dê uma boa examinada nos pés – um familiar pode ajudar. Caso encontre uma ferida, espere sua recuperação antes de partir para a ginástica de novo.
  • Apesar de os exercícios baixarem a glicemia, o diabético não pode reduzir a dose do remédio por conta própria.

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