Quando vai virar a lua

  • Felipe Souza - @felipe_dess
  • Da BBC News Brasil em São Paulo

12 maio 2022

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Eclipse lunar total ocorre quando existe um alinhamento completo entre Sol, Terra e a Lua

Um eclipse lunar total com uma "Lua de Sangue" poderá ser visto no Brasil na noite do próximo domingo (15/05), segundo o professor do Departamento de Astronomia da Universidade de São Paulo (USP) Roberto Costa.

Este será o único eclipse lunar total que acontecerá neste ano, segundo os astrônomos. O próximo será apenas em maio de 2025.

O eclipse deste domingo poderá ser observado não apenas no Brasil, mas em toda a América do Sul e América Central, parte da América do Norte, parte da Europa e parte da África.

Crédito, Science Photo Library

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Eclipse que ocorrerá neste domingo será o único do ano de 2022

'Lua de Sangue'

O eclipse lunar total ocorre quando o Sol, a Terra e a Lua se alinham. Com isso, a Terra cobre totalmente o disco da Lua e isso causa o fenômeno. O satélite natural terrestre então fica com uma cor avermelhada — que passou a ser chamada de "Lua de Sangue".

O professor de astronomia da USP afirma à BBC News Brasil que o termo "Lua de Sangue" se popularizou nos últimos anos após ser usado com frequência pela imprensa.

"Provavelmente isso ocorreu sob influência dos sites americanos, mas não se deve perder de vista que o fenômeno físico em si é o eclipse lunar. Ou seja, o momento em que a Terra se coloca exatamente entre o Sol e a Lua, fazendo com que a sombra da Terra seja projetada na Lua", afirmou o professor.

A cor avermelhada ocorre, explica o professor, porque a atmosfera da Terra age com um filtro para a luz do Sol.

"O mecanismo é o seguinte: a atmosfera do nosso planeta normalmente filtra a luz solar, deixando passar com mais eficiência as cores vermelhas e refletindo o azul, por isso mesmo vemos o céu azul durante o dia. Num eclipse lunar, a Terra está exatamente entre o Sol e a Lua. Do ponto de vista de um observador hipotético na Lua, a Terra está bem na frente do Sol. Nesse caso, nas 'bordas' do nosso planeta (visto por esse observador), a atmosfera forma um halo que deixa passar um pouco de luz. Essa luz é avermelhada pelo filtro atmosférico e vai incidir na Lua, que adquire um tom castanho-avermelhado", diz o professor da USP Roberto Costa.

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Eclipse lunar poderá ser visto de todos os Estados do Brasil na noite de domingo

Esse tom avermelhado pode variar, segundo ele, dependendo do eclipse. Ele pode ser mais escuro, mais próximo ao marrom ou mais claro, algo parecido com castanho ou avermelhado.

De onde e quando ver o eclipse lunar

O eclipse lunar poderá ser visto completamente de todo o território brasileiro. O professor diz que será muito fácil vê-lo no país porque ele ocorrerá no fim da noite e a Lua estará numa posição alta.

De acordo com o professor, o eclipse parcial poderá ser visto a partir do próximo domingo às 23h28, no horário de Brasília. À 0h29 de segunda-feira (16/02), começará o eclipse total, que vai durar até 1h54.

O fim do eclipse está previsto para ocorrer às 2h55.

O fenômeno também será transmitido ao vivo pelo Observatório Nacional, uma unidade de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. A transmissão será iniciada a partir das 23h25 neste link.

Posso olhar o eclipse sem proteção nos olhos?

Como se trata de um eclipse lunar, os astrônomos ouvidos pela BBC News Brasil disseram que observá-lo diretamente não representa um risco para os olhos.

"Trata-se basicamente de olhar para a lua cheia. Não precisa de nenhum instrumento, a olho nu já vai ser um belo espetáculo. Caso alguém queira também pode usar um binóculo, luneta ou telescópio. Os riscos à visão só existem nos eclipses solares", afirmou o professor da USP.

Como o eclipse ocorrerá no fim da noite e início da madrugada, a lua estará bem alta no céu, o que facilitará a visualização do fenômeno.

O astrônomo da USP tem apenas uma preocupação.

"O único problema prático é o clima. A previsão é de céu encoberto para a região sudeste no domingo. Se estiver realmente assim, nós aqui em São Paulo perderemos o espetáculo".

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14 março 2015

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A Lua se afasta da Terra cerca de 4 cm por ano

Você certamente não percebeu, mas a Lua está se afastando de nós.

O satélite da Terra está atualmente 18 vezes mais longe do que quando se formou, há 4,5 bilhões de anos.

Sem a Lua, nosso planeta seria irreconhecível. Os oceanos quase não teriam marés, os dias teriam outra duração e nós poderíamos não estar aqui, de acordo com alguns cientistas que acreditam que a Lua foi fundamental para o início da vida em nosso planeta.

Mas como esse afastamento nos afeta e com que rapidez ele está ocorrendo?

Distância exata

A Lua, como explica à BBC a pesquisadora Margaret Ebunoluwa Aderin-Pocock, do Departamento de Ciência e Tecnologia do University College de Londres, está se afastando da Terra a uma velocidade de 3,78 centímetros por ano.

E graças ao pouso na lua da missão Apollo, da Nasa, entre 1969 e 1972, podemos medir essa distância com incrível precisão.

Em três das missões, os astronautas deixaram no satélite unidades retrorefletoras cheias de pequenos espelhos.

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Os astronautas da missão Apollo deixaram pequenos espelhos no satélite que permitem medir a distância entre a Lua e a Terra

Desde então, os astrônomos têm disparado raios laser em direção a essas unidades refletoras, para manter um registro exato de o quanto a Lua está se afastando.

"Enviamos cerca de 100 quatrilhões de fótons com cada pulso de laser. Se tivermos sorte, para cada pulso que enviamos, volta (à Terra) um fóton", disse à BBC Russet McMilllan, do observatório astronômico científico Apache Point Observatory (APO, por sua sigla em Inglês), localizado nas montanhas de Sacramento, no Novo México (EUA).

Apesar de à primeira vista um fóton parecer pouco, ele é suficiente para medir a distância entre a Lua e da Terra até o seu último milímetro.

No momento em que a BBC conversou com McMillan, a distância exata era 393.499 km, 257 metros e 798 mm.

Por quê?

Esse afastamento se deve à fricção entre a superfície da Terra e a enorme massa de água que está sobre ela e faz com que, ao longo do tempo, a Terra gire um pouco mais lentamente sobre o seu eixo.

Para cada ação há uma reação igual e oposta. Esta é a terceira lei de Newton.

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À medida que o movimento da Terra diminui, o da Lua se acelera

A Terra e a Lua são unidas por uma espécie de abraço gravitacional. Então, à medida que o movimento da Terra diminui, o da Lua acelera.

E, quando algo que está em órbita acelera, essa aceleração o empurra para fora.

Efeito

A distância da Lua afeta nosso planeta de várias formas. Para começar, à medida em que a Terra gira mais devagar, os dias ficam mais longos.

Eles já estão mais longos, em dois milésimos de segundo a cada século.

Além disso, os invernos serão muito mais frios e os verões, muito mais quentes.

Isso pode ter um efeito devastador sobre a Terra, ante a dificuldade dos animais em se adaptar a extremos climáticos.

E se a força gravitacional da Lua torna-se mais fraca, as marés na Terra não serão tão acentuadas.

No entanto, mesmo sem a Lua, existiriam marés - ainda que suaves - pelo efeito do Sol.

No entanto, nenhuma dessas consequências deve preocupar: as mudanças são sutis demais para que possamos testemunhá-los.

A Lua nunca vai escapar da Terra. Mesmo que a Terra continue diminuindo sua velocidade, irá girar na mesma velocidade em que orbita a Lua. Nesse momento, a Terra e a Lua vão chegar a um equilíbrio e a Lua deixaria de se afastar.

Mas, muito antes que isso aconteça, o Sol vai se expandir até virar um gigante vermelho e engolir, no processo, a Terra e seu satélite.

Dito isso, não há necessidade de se preocupar. Ainda faltam cerca de 5 bilhões de anos para isso acontecer.

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