CASO SUZANE
Daniel Cravinhos quer mostrar que família Richthofen era desestruturada
Agência O Globo
A imagem dos Richthofen que Daniel Cravinhos está tentando construir em seu depoimento ao juiz Alberto Anderson Filho é de uma família totalmente desestruturada, em que pai Manfred chegou até a abusar sexualmente da filha, entrando em seu quarto à noite e passando a mãe em partes íntimas da menina. A mãe, segundo Daniel, era agressiva com a jovem e a agrediu diversas vezes, inclusive na sua frente.
Daniel afirmou que Andreas von Richthofen sabia que a irmã temia a ida do pai ao quarto dela e, por isso, chegava a dormir no quarto de Suzane para evitar que isso acontecesse. Ele disse ainda que Suzane von Richthofen fumava e se drogava muito e que ele também passou a usar drogas durante o namoro. Em seu depoimento, disse que logo no começo do namoro foi a um churrasco na casa da família e que os pais de Suzane se agrediram e agrediram a garota. Foi nessa ocasião que ele presenciou a mãe jogando um tamanco na cabeça dela por causa do pedido de um sorvete.
O réu afirmou ainda que Suzane dizia que os pais tinham amantes e que a castigavam quando estavam bêbados. Por isso, segundo daniel, Suzane tinha vários planos para matar os pais, como colocar fogo no sítio da família enquanto eles dormiam e cortar a mangueira do freio do carro.
O ex-namorado afirmou que a idéia de matar o casal Richthofen foi de Suzane e que se viu envolvido. No momento do crime, afirmou 'não sabia mais o que fazia' e também não acreditava que 'aquilo estava acontecendo'.Daniel admitiu que o porrete usado para matar Marísia e Manfred foi adaptado por ele de um bastão levado da casa de Suzane. Afirmou que os rostos de manfred e Marísia foram cobertos com toalhas para evitar que o irmão visse os pais desfigurados.
Daniel Cravinhos afirmou que não usou drogas no dia do assassinato do casal Marísia e Manfred von Richthofen e que que matou sozinho o casal e que o crime foi muito rápido e não teria durado mais do que 10 minutos, pois ele e Suzane estavam preocupados com a possibilidade da chegada da empresa de segurança particular contratada para vigiar a residência. Daniel contraria a versão de Suzane, de que teria sido levada pelo namorado a consumir drogas. Em depoimento, Daniel disse que o uso de maconha chegou a ser motivo de briga entre os dois, pois Suzane já fazia uso da droga antes de conhecê-lo. O rapaz disse que usava menos droga do que Suzane - uma vez por semana ou a cada 15 dias - porque isso atrapalharia o trabalho dele, com aeromodelismo.
O ex-namorado de Suzane disse que, no planejamento do crime, em nenhum momento foi discutido benefício financeiro: - Eu trabalhava desde 14 anos, com 15 anos já era independente dos meus pais. Nesta época, ganhava de R$ 2 mil a R$ 2.500 por mês e não aceitaria que ela me sustentasse. Não aceitava que meus pais me sustentassem.
A compra de uma moto com o dinheiro tirado da casa da família Richthofen, um dia depois do assassinato do casal Marísia e Manfred, foi motivo de briga entre Daniel e Suzane, que chegou a dar por encerrado o namoro com ele. No depoimento no 1º Tribunal do Júri, Daniel Cravinhos afirmou que Suzane disse que ele e o irmão eram 'imaturos e irresponsáveis' e que não deveria ter confiado neles para matar seus pais.
Daniel negou que tenha sido feito um acordo para que Cristian ficasse com o dinheiro encontrado na casa dos Richthofen. Na segunda tentativa de inocentar o irmão, afirmou que Cristian apenas guardaria o dinheiro encontrado na casa, a pedido de Suzane, pois ela precisaria dele até que terminasse o inventário dos pais.
Ao saber que Daniel tinha usado o dinheiro para comprar uma moto, Suzane brigou. Os fatos mostram que ela tinha razão: foi justamente a compra da moto que levou a polícia a desvendar o crime, pois foram usados dólares guardados por Manfred von Richthofen em casa. Daniel dá uma explicação singela para a compra da moto: Cristian teria ficado com medo de guardar o dinheiro e, por isso, comprou a moto. Depois, a venderia para devolver o dinheiro para Suzane. O rapaz afirmou que foi ele quem pegou as jóias e a arma da família e esparramou coisas pelo quarto do casal para simular um assalto. Ele diz que não conhecia o local onde tudo era guardado, mas que Suzane contou a ele no dia do crime.
Daniel Cravinhos confirmou no depoimento que Suzane von Richthofen levou até o quarto onde seus pais foram mortos uma jarra com água e toalhas, para que os rostos das vítimas fossem limpos. Ele disse, no entanto, que Suzane não chegou a entrar no quarto, apenas deixou na porta. Daniel afirmou ainda que não se lembra de ter usado uma toalha para asfixiar Marísia von Richthofen. Ele disse que matou sozinho o casal Marísia e Manfred, inocentando o irmão. No primeiro depoimento à polícia e na reconstituição do crime, Daniel assumiu ter matado Manfred a pauladas e Cristian disse ter matado Marísia. Hoje, ele mudou a versão. Marísia teve fraturas nas mãos, o que indica que ela tentou se defender das pauladas com as mãos. Nas fotos que integram o processo, Marísia é vista com uma toalha na boca, que teria sido usada para asfixiá-la, já que ela ainda respirava, apesar das pauladas.
Daniel afirmou, no entanto, que não sabe se Suzane chegou a entrar no quarto dos pais em algum outro momento depois do crime, enquanto ele se trocava e lavava as mãos. Apesar de dizer que todo o crime não durou mais do que 10 minutos e que estavam com medo da chegada da empresas de segurança contratada pela família, Daniel disse ao juiz que ainda ajoelhou e rezou dentro do quarto dos Richthofen porque queria que 'aquilo não estivesse acontecendo'.