Quem é o autor da música Força Estranha?

Caetano Veloso não é um homem voltado para as doutrinas religiosas. Por isso são várias as interpretações do que queria dizer quando compôs “Força estranha”, em 1981. Vou me atrever a fazer minha análise, sem me deixar influenciar por outras interpretações das mensagens colocadas na letra da música. Entendo que a força estranha tem a ver com a presença divina, um ser superior que conduz pensamentos e ações.

“Eu vi um menino correndo/eu vi o tempo brincando ao redor/do caminho daquele menino”. A visão da criança correndo relembra a história do “menino Jesus” brincando, enquanto o tempo corre a espera de que se torne adulto e se transforme na personalidade mais marcante da humanidade. O “seu caminho” passa a ser o rumo de todos os que nos últimos dois mil anos professam seus ensinamentos. Ele, por ser “filho de Deus” se confunde com o próprio tempo.

“Eu pus os pés no riacho/e acho que nunca os tirei”. O riacho é um local onde as águas são correntes, elas passam, nunca permanecem no mesmo lugar. E quando você põe os pés nele vai perceber que elas passam os banhando. Assim é a vida, ela passa por você sempre com novos acontecimentos, novas concepções, novas formas de entender a razão de sua própria existência. Então o “eu lírico” diz que “acha que nunca tirou os pés do riacho”, procurando afirmar que decidiu viver a vida com todas as suas mutações, transformações, avanços.

“O sol ainda brilha na estrada que nunca passei”. Ele sabe que no caminho da vida vai encontrar luz, o sol, brilhando em lugares que nunca passou. O futuro será tão brilhante, quanto o presente, e ele segue o seu caminho, na certeza de que “a luz” permanecerá clareando seus próximos passos.

“Eu vi a mulher preparando outra pessoa/o tempo parou para eu olhar aquela barriga”. Na história universal a humanidade se reproduz, e no ventre materno germina a semente plantada para que tenha continuidade. O tempo pára o suficiente para ver a barriga se avolumando na antecipação do nascimento de mais um ser que sucederá gerações. É o ciclo natural da vida.

“A vida é amiga da arte/ é a parte que o sol me ensinou/o sol que atravessa essa estrada que nunca passou”. A própria vida nos orienta na condução do percurso da estrada de nossa existência. A arte pode ser um dom, mas ela é aprendida com a experiência, e o “sol” representando o brilhar diário da nossa vida, nos faz conhecer as trilhas, as veredas, as oportunidades e as dificuldades que nos são oferecidas a cada instante. Assim criamos condições de enfrentar o desconhecido.

“Por isso uma força me leva a cantar/por isso essa força estranha./Por isso é que eu canto, não posso parar/por isso essa voz tamanha”. Intui, ao constatar a beleza da vida, que tudo isso tem a ver com a providência divina, e então se sente motivado a cantar impulsionado por uma força estranha. E quer gritar sem cansar essa prova de que Deus existe, com “uma voz tamanha”, numa altura que possam todos ouvir.

“Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista/o tempo não pára e, no entanto, ele nunca envelhece”. O artista aqui é o próprio homem que aprendeu a arte de viver. O envelhecimento não está na ordem cronológica, mas na cabeça. Se o tempo não pára, ele vai se adequando à cada época alimentado pela alegria de viver.

“Aquele que conhece o jogo, do fogo, das coisas que são/É o sol, é a estrada, é o tempo, é o pé e é o chão”. Tudo termina sendo um jogo e você precisa conhecer as regras para vencer. O “fogo das coisas”, os perigos de se queimar, o risco de se machucar com o fogo ignorado. Mas aparece o sol iluminando o caminho a percorrer, porque a estrada é o tempo. Mas necessário se faz ter sempre “o pé no chão”, conhecer a realidade das coisas.

“Eu vi muitos homens brigando/ouvi seus gritos/estive no fundo de cada vontade encoberta/e a coisa mais certa de todas as coisas”. Embora o sentimento do bem pregue a paz, os homens continuam brigando entre si, gritando suas insatisfações e protestos. E na observação desse comportamento, mesmo lamentando, conseguimos ver que por trás das guerras existe sempre um motivo de ambição, ganância, conquista de poder, desprezando “as coisas mais certas” que são o espírito de fraternidade e de promoção da justiça social.

“Não vale um caminho sob o sol/e o sol sobre a estrada, é o sol sobre a estrada, é o sol”. A vida é a estrada, e o sol é a orientação que vem dos céus, a mão de Deus decidindo nosso destino. É o sol, enquanto luz que clareia nossa estrada, que devemos observar, admirar e reverenciar, porque ele é a expressão do divino.

• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.

Quem é o autor da música Força Estranha?

Por isso uma força estranha me leva a cantar,

por isso essa força estranha.

Por isso é que eu canto, não posso parar.

Por isso essa voz tamanha

Quem nunca sentiu vontade de cantar bem alto? Às vezes precisamos soltar a nossa voz para nos sentirmos melhor. Mas, como é que conseguimos produzir som e palavras quando queremos nos comunicar e nos expressar?

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Texto de Alessandra Rondina para o programa Ritmos da Ciência

Música: Força Estranha
Compositor:  Caetano Veloso
Intérprete: Gal Costa

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Quem foi o compositor da música Força Estranha?

Caetano compôs a canção Força Estranha a partir de um encontro que teve com Roberto Carlos nos corredores de uma emissora de TV, onde trocaram algumas palavras e a frase “É, bicho, artista nunca envelhece”, dita pelo Rei, ficou na sua cabeça. O artista compôs a música em 1978 já pensando na voz de Roberto Carlos.

Quem gravou primeiro força estranha?

Faixas.

O que significa a música Força Estranha?

Metacanção que se dobra para dentro de si mesma, Força estranha expõe os motores de sua potência: lembrar e esquecer – os arranjos narrativos daquilo que o sujeito viu e viveu. A memória do sujeito narrador de Força estranha, sem a ordem restritiva do cronológico, consagra eventos múltiplos e diversos.

Quando Roberto Carlos gravou força estranha?

Força Estranha” (Caetano Veloso), foi feita para Roberto Carlos garvar, em 1978.