Russia declara guerra ao brasil

Embora tenha votado a favor da resolução da ONU contra a invasão russa a Ucrânia, Brasil ainda hesita em criticar governo Putin. E aliados de Bolsonaro temem que falas contraditórias do presidente prejudiquem o país.

Russia declara guerra ao brasil

'É preciso acalmar os ânimos', afirma Ronaldo Costa Filho

O Brasil votou a favor da resolução da ONU contra a invasão russa a Ucrânia, que foi aprovada por ampla maioria nesta quarta-feira (2). Mas alertou para que o texto não seja visto como permissivo à "aplicação indiscriminada de sanções e ao envio de armas."

"Essas iniciativas não conduzem à retomada adequada de um diálogo diplomático construtivo e correm o risco de aumentar ainda mais as tensões com consequências imprevisíveis para a região e além", alertou o embaixador do Brasil na ONU Ronaldo Costa Filho.

Os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e da Rússia, Vladimir Putin, encontraram-se no Kremlin, em Moscou, no dia 16 de fevereiro de 2022 — Foto: Alan Santos/PR

Desde o início da ofensiva russa à Ucrânia, a diplomacia brasileira tem pedido suspensão das "hostilidades" entre os países, mas vem hesitando em expressar uma condenação ao governo Putin.

Uma mudança de posicionamento só veio na sexta-feira (25), quando o país votou por condenar a invasão russa no Conselho de Segurança da ONU. Mas as falas de Bolsonaro e de membros do governo tem revelado contradições em relação à posição do Brasil, o que vem preocupando aliados do próprio presidente.

Uma semana antes da eclosão do conflito, Bolsonaro fez uma viagem oficial a Rússia, em um encontro com Vladimir Putin. Na ocasião, ele declarou ser solidário à Rússia, o que gerou um desgaste para a diplomacia brasileira, em especial com os Estados Unidos.

Logo após o início da guerra, Bolsonaro desautorizou as falas do vice Hamilton Mourão, que se pronunciou antes mesmo do presidente, ao afirmar que o Brasil não era neutro no conflito. Em uma coletiva no domingo (27), o presidente chegou a dizer que o Brasil adotaria uma postura de neutralidade, e que seria um exagero chamar de massacre o cerco do exército russo na capital ucraniana Kiev.

No dia seguinte à declaração, o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, disse à Globonews que a posição brasileira era de "equilíbrio, não neutralidade."

Na segunda-feira (28), Bolsonaro disse que o Brasil concederá vistos humanitários para receber refugiados ucranianos que deixarem o país por conta da invasão russa.

RÚSSIA ATACA UCRÂNIA

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Washington forma aliança militar de dezenas de países para enviar armas pesadas à Ucrânia, internacionalizar conflito e esgotar Moscou – o único adversário militar à sua altura. Celso Amorim analisa novo tabuleiro geopolítico

Por Antonio Martins

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Duas narrativas, opostas entre si, buscavam até agora interpretar a invasão da Ucrânia por tropas russas, iniciada em 24 de fevereiro. Segundo os governos do Ocidente e a mídia associada a eles, trata-se de um ato brutal do regime de Vladimir Putin para projetar sua força sobre uma nação mais débil, recorrendo a meios violentos e buscando desviar as atenções da opinião pública sobre suas dificuldades internas. Os que buscam compreender a posição de Moscou argumentavam, no entanto, que o país foi forçado à guerra pela expansão incessante da OTAN, pelo cerco a seu território por bases militares inimigas e pela opressão das populações russas majoritárias no leste da Ucrânia.

Russia declara guerra ao brasil

Ambas as visões, contudo, podem ter se tornado obsoletas esta semana. Uma série de fatos novos deu à guerra um caráter inteiramente novo e a transformou num conflito que opõe à Rússia, agora sem disfarces, uma coalizão de mais de trinta países alinhados a Washington. O objetivo, também anunciado abertamente, é minar as forças da único Estado hoje capaz de se opor militarmente às pretensões norte-americanas. Se isso ocorrer, os EUA estarão de mãos livres para tentar resolver por meios bélicos o declínio de seu poder econômico e o desgaste de sua hegemonia geopolítica.

O acontecimento mais importante se deu terça-feira (26/4), na base militar de Ramstein, que Washington mantém desde 1948 no sudoeste da Alemanha. O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin III, reuniu-se com autoridades militares de 33 países, mais a União Europeia e a OTAN. Como resultado, formou-se um Grupo Consultivo sobre a Segurança da Ucrânia, que se reunirá todos os meses. As declarações de Austin sobre os objetivos da coalizão são reveladoras: “vencer a luta atual e as que virão”, garantindo de imediato o envio do maior volume possível de armamento a Kiev. Mas houve antecedentes. No fim de semana, o próprio Austin, chefe do Pentágono, havia visitado a capital ucraniana na companhia do secretário de Estado, Anthony Blinken, em viagem mantida em sigilo até o último momento. Lá, encontraram-se com o presidente Zelensky, e mantiveram conversações cujo teor não foi revelado. De Kiev, ambos rumaram para Berlin, onde obtiveram da ministra da Defesa alemã, Christine Lambrecht, o compromisso de abastecer a Ucrânia com material bélico pesado – ao menos 50 tanques.

Nos dias seguintes, outros países cujos governos estavam presentes à base de Ramstein (entre os quais pesos-pesados militares, como a Inglaterra e a França) também anunciaram o envio de armas. Fala-se inclusive em aviões, segundo a revista The Economist. O movimento teve seu ápice nesta quinta-feira (28/4) quando o presidente Joe Biden pediu ao Congresso novo crédito, de US$ 33 bilhões (além dos US$ 13,6 bi já despachados), para armar Kiev. E não foram apenas palavras. Em 26/4, num sinal de que o armamento ocidental sofisticado já faz diferença no front de guerra, mísseis de longo alcance disparados da Ucrânia destruíram instalações militares de Moscouem território russo, próximo à fronteira entre os dois países.

O propósito por trás dos fatos desta semana vai bem além do conflito na Ucrânia. “Queremos ver a Rússia enfraquecida”, afirmou o secretário Austin em Kiev, no domingo. A estratégia militar vislumbrada para chegar a este fim – agora está nítido – é prolongar e internacionalizar a guerra, para evitar que Moscou obtenha até mesmo uma vitória parcial. Nas últimas semanas, o Kremlin concentrou suas operações militares no leste e sul da Ucrânia – a região do Donbas, onde as repúblicas de Luhansk e Donetsk lutam pela independência. Ocupá-las e assegurar a autonomia da maioria russa que as habita e encerrar o conflito parecia até há pouco um objetivo factível.

Mas e se, depois disso, não puder haver retirada? E se o Donbas continuar a ser fustigado por um exército ucraniano turbinado pelo armamento pesado fornecido por mais de 30 países, alguns dos quais têm poder econômico muito superior ao da Rússia? Isso não conduziria a um esgotamento das capacidades militares de Moscou e – sonha Washington – à anulação de seu atual poder geopolítico? Não estariam certos, então, aqueles que viram na guerra, desde o início, o resultado de uma provocação dos governos ocidentais?

A aposta de Washington e seus parceiros, porém, é de extremo risco – por dois motivos. Na arena militar, Moscou também pode optar por uma escalada. Nesta quinta (28/4), a porta-voz do ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, advertiu as potências ocidentais, afirmando que “novos apelos à Ucrânia, para atingir instalações russas, levarão certamente a uma resposta dura da Rússia”. Até onde irão os que tentam acirrar a guerra contra uma potência nuclear?

Já no terreno econômico, onde os EUA pensavam emparedar Moscou, há sinais de que o tiro pode sair pela culatra. Há uma semana, um editorial do próprio New York Times ponderava que, apesar de muito duras, as sanções de Washington e seus aliados contra a Rússia não estão sendo capazes de desorganizar a economia do país. O contrário é possível. Em 27/4, a Gazpron, estatal russa de combustíveis fósseis, anunciou o corte do fornecimento de gás aos dois primeiros países europeus – Polônia e Bulgária – que se recusaram a pagá-lo em rublos. Se a mesma medida se estender à Alemanha, teme o banco central alemão, o resultado pode ser um impacto em até 5% do PIB. Além disso, em 28/4 um dado inesperado arranhou a autoconfiança dos governos ocidentais. O Departamento de Comércio dos Estados Unidos revelou que o PIB do país caiu 1,4% no primeiro trimestre do ano, em comparação ao mesmo período do ano passado.

As narrativas da mídia ocidental sugerem que se trava, na Ucrânia, uma guerra de mocinhos contra bandidos. A vida real parece estar prestes a esfarelar este discurso.

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Alemanha, capa, capitalismo, Donbas, EUA, Guerra, guerra na ucrânia, guerra nuclear, III Guerra Mundial, OTAN, Rússia, União Europeia, Vladimir Putin

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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, pode declarar guerra à Ucrânia em 9 de maio, disseram autoridades dos Estados Unidos e do Reino Unido. Até então, o russo afirma estar realizando uma “operação militar especial” para a “desnazificação” do país vizinho.

Quem declarou guerra à Ucrânia?

O presidente russo, Vladimir Putin, pode declarar formalmente guerra à Ucrânia em 9 de maio, uma medida que permitiria a mobilização total das forças de reserva da Rússia, à medida que os esforços de invasão continuam a falhar, acreditam autoridades americanas e ocidentais.