Como era as condições de trabalho nas lavouras de café?

Produção da Oxfam Brasil, documentário ‘Mancha de Café’ denuncia trabalho análogo à escravidão e más condições de trabalho em lavouras de Minas Gerais.

 

A reportagem foi publicada por Rede Brasil Atual, 29-11-2021.

 

A organização social Oxfam Brasil lançou na semana passada o curta-metragem documental Mancha de Café, em que denuncia as más condições de trabalho em plantações de Minas Gerais. Com pouco menos de 15 minutos, a produção está disponível no YouTube da Oxfam. “Informalidade, pobreza e trabalho escravo são alguns dos problemas recorrentes”, informa.

O filme foi embasado a partir de investigações consolidadas em um relatório lançado em julho. São diversos depoimentos de violações de direitos no estado que é o maior produtor de café do país. “Encontramos uma rotina de violações de direitos básicos dos trabalhadores e trabalhadoras rurais assalariados que atuam nas plantações de café de Minas Gerais, como trabalho análogo à escravidão, baixos salários, desrespeito aos direitos das mulheres e falsas promessas”, relata a entidade.

Apenas em 2020, 140 trabalhadoras e trabalhadores foram resgatados de lavouras de café no Brasil. Todos em Minas Gerais, de acordo com dados da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), órgão do Ministério da Economia.

Além de denúncias que envolvem produtores, também consta no filme a responsabilização dos compradores: supermercados, cooperativas e outras empresas da cadeia produtiva. “Além das práticas escravocratas a que são submetidos, os trabalhadores e as trabalhadoras do cultivo do café de Minas Gerais também sofrem com outros problemas como baixos salários, informalidade empregatícia, falta de representação sindical que garantam direitos trabalhistas e combatam as desigualdades nas remunerações entre trabalhadores não-brancos e brancos e entre homens e mulheres.”

 

Recomendações

 

Por fim, a Oxfam faz uma lista de recomendações para empresas da cadeia produtiva e supermercados:

  • Adotar política e abordagem de devida diligência em direitos humanos, estabelecendo uma estratégia para identificar, prevenir, mitigar e remediar as violações dos direitos humanos nas cadeias de fornecimento de alimentos;
  • Divulgar, regularmente, os fornecedores da cadeia de suas marcas de café até o nível da fazenda;
  • Publicar um documento que especifique a abrangência de suas políticas de tolerância zero com relação ao trabalho em condições análogas à de escravo. E definir que seus fornecedores não podem estar envolvidos, de maneira alguma, seja na mesma propriedade ou não, seja por subcontratação ou por fornecimento de terceiros, em casos de trabalho escravo;
  • Adotar tolerância zero para a informalidade e para a não participação, em convenção ou acordo coletivo, para descontos nos salários referentes aos custos de equipamentos de proteção individual (EPIs), alimentação, moradia e da ação de intermediários na contratação;
  • Estabelecer auditorias não anunciadas nas fazendas fornecedoras de café durante o período da safra;
  • Firmar um processo de diálogo significativo com os sindicatos de assalariados rurais e incentivar seus fornecedores a apoiarem a atividade sindical nas fazendas durante o período da safra;
  • Estabelecer um compromisso de salário digno (living wage) para os trabalhadores assalariados do café.

 

Assista ao filme completo:

 

 

Leia mais

 

  • Sobre a Lista do Trabalho Escravo do Brasil
  • O mundo do trabalho frente ao diálogo sobre um futuro alternativo
  • O enfraquecimento dos direitos dos trabalhadores no mundo, em dados
  • Para manter a política de valorização do salário mínimo
  • Da uberização do sindicalismo ao cyber sindicalismo: provocações
  • Como evitar a morte dos sindicatos
  • Os sindicatos em meio ao temporal
  • “O teletrabalho não era isto”, alertam os especialistas
  • Pandemia empurra para ainda mais baixo, 4,3 milhões com renda per capita do trabalho inferior a um quarto do salário mínimo
  • Incerteza, desemprego e perda de renda: a realidade das periferias brasileiras na pandemia. Entrevista especial com Cleberson da Silva Pereira
  • “Pandemia desnuda perversidades do capital contra trabalhadores”. Entrevista com Ricardo Antunes
  • Transformações no mundo do trabalho exigem respostas inovadoras. Artigo de Clemente Ganz Lúcio
  • Direitos trabalhistas e sindicais no pós-pandemia. Artigo de Clemente Ganz Lúcio
  • Fiscalização resgatou 942 trabalhadores em condições análogas às de escravo em 2020
  • MG: MPF denuncia exploradores de mão de obra em carvoaria por trabalho escravo
  • Fazendeiro é preso em flagrante por trabalho escravo no sul de Minas
  • Fiscalização resgata 33 trabalhadores em condição análoga à de escravo em Minas Gerais

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Documentário expõe condições de trabalho degradantes em lavouras de café - Instituto Humanitas Unisinos - IHU

Como era o trabalho realizado nas lavouras de café?

A rotina dos escravizados, nos cafezais, era limpar o terreno, plantar e colher. Após a colheita, o café era exposto ao Sol, Num segundo momento, quando os grãos já se encontravam secos, eram batidos com vara ou moídos em pilões.

Como eram as condições de trabalho nas lavouras?

Os escravos de campos integravam 80% dos trabalhadores escravizados dos engenhos de açúcar e trabalhavam plantando, colhendo, guiando boiadas e outros animais, pescando, caçando, entre outras coisas. Existiam os escravos que labutavam na produção do açúcar: esses constituíam aproximadamente 10% dos escravizados.

Como eram as condições de trabalho dos imigrantes nos cafezais?

Os colonos recebiam um pagamento fixo pelo cultivo dos pés de café e um pagamento variável pela quantidade de frutos colhidos. Além disso, podiam produzir alimentos para sustento próprio nas fazendas e vender o excedente.

Como era a vida dos escravos nas fazendas de café?

A condição da vida escrava era desumana. Os escravos se alimentavam de forma precária, vestiam trapos e trabalhavam em excesso. Trazidos da África para trabalhar na lavoura, na mineração e no trabalho doméstico, os escravos eram alojados em galpões úmidos e sem condições de higiene, chamados senzala.