Como os povos antigos se orientavam em suas navegações noturnas não existe a bússola?

Conheça os principais instrumentos de orientação que o ser humano já usou ao longo do tempo

Os seres humanos pré-históricos costumavam fazer marcações em superfícies de pedras e paredes. Assim conseguiam identificar locais e saber se já haviam passado por ali antes. Outro jeito de se achar naquela época era usar pontos de referência, como uma grande árvore. E repare bem: fazemos isso até hoje, mas com prédios e pontes, por exemplo.

Civilizações da Antiguidade passaram a usar também a observação dos astros como forma de orientação. Sabendo que o Sol nasce sempre no mesmo lado, esses povos conseguiam identificar posições geográficas e decidir qual era a melhor direção a seguir. A posição da Lua e das constelações (conjuntos de estrelas) também ajudavam. Atualmente, embarcações pequenas, que não têm equipamentos de orientação, ainda usam os astros para se orientar.

Os mapas já eram usados por civilizações da Antiguidade, cerca de 3 mil anos antes de Cristo, e pela população da Grécia antiga (mais ou menos mil anos antes de Cristo). Os primeiros eram feitos de madeira, esculpidos ou pintados, ou desenhados sobre a pele de animais. Por meio dos mapas, os povos conheciam as áreas dominadas e sabiam sobre as possibilidades de ampliação das fronteiras. A partir das Grandes Navegações, nos séculos 15 e 16, os mapas se espalharam pelo mundo.

A rosa dos ventos é um instrumento que mostra os diferentes pontos de orientação cartográfica – ou pontos cardeais: norte (N), sul (S), leste (L) e oeste (O). A combinação entre eles dá origem aos pontos colaterais: nordeste (NE), noroeste (NO), sudeste (SE) e sudoeste (SO). Com a rosa dos ventos, que também surgiu na Grécia antiga, por volta do ano 700 antes de Cristo (primeiro mostrando a direção do vento), ficou mais fácil encontrar uma direção a seguir.

A bússola foi inventada pelos chineses, por volta do século 11. As primeiras versões eram formadas por um tipo de colher sobre um prato, mais tarde substituída pela agulha. Como a agulha da bússola é de metal, ela se movimenta pela força de atração dos polos, acompanhando o campo magnético do planeta. Por isso, não importa em que posição você está, a bússola sempre apontará para o norte.

No século 14, o italiano Flavio Gioia colocou a agulha da bússola sobre um cartão com o desenho de uma rosa dos ventos, mostrando os pontos cardeais. Assim, ficou mais fácil de usar o instrumento.

O instrumento mais moderno de orientação foi criado na década de 1960. O GPS (Global Positioning System ou Sistema de Posicionamento Global) funciona por meio de satélites que orbitam a Terra. Dessa forma, é capaz de localizar e indicar qualquer ponto na superfície do nosso planeta.

Além de fornecer a localização, o GPS memoriza rotas, indica a hora e a velocidade de deslocamento, entre outras funções. Ele vem sendo cada vez mais aperfeiçoado – hoje, existem até aplicativos que funcionam como GPS.

Grandes navegadores da antiguidade, os fenícios eram a força predominante ao seu tempo

Os fenícios nos legaram muito mais que apenas o alfabeto. A civilização surgiu no Levante por volta de 3000 a.C. Acima de tudo, eram famosos por seu domínio da antiga navegação marítima e construção naval e, provavelmente, foram os primeiros a pesquisar o Mar Mediterrâneo e a ultrapassar o Estreito de Gibraltar para se aventurarem no oceano Atlântico. Descendentes, à primeira vista, dos misteriosos “Povos do Mar” que migraram da Península Arábica, chegaram à costa do que hoje é o Líbano. Frequentemente estabeleceram grandes cidades em Beirute, Byblos, Tiro, Sidon e Baalbek. Sua posição como marítimos dominantes foi observada por Homero, a Bíblia e obras de arte egípcias antigas. Assim como outros povos antigos e modernos, foram a maior potência naval ao seu tempo.

Como os povos antigos se orientavam em suas navegações noturnas não existe a bússola?
Proezas fenícias registradas para a posteridade.

Como os fenícios se tornaram grandes navegadores

Nesse meio tempo, conseguiram desenvolver habilidades de navegação e construção naval mais avançadas que as de todas as culturas que cercam o Mediterrâneo.

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Navio fenício-púnico, de uma escultura em relevo descoberta em sarcófago do século II a.C (Crédito:www.ancient.eu)

Assim, perto do fim da era do bronze (cerca 1300-700 a.C) quando os egípcios ainda não eram um povo marítimo, e as civilizações grega e hebraica ainda não tinham se desenvolvido até o ponto em que poderiam fazer extensas viagens marítimas, eram eles que dominavam o mar.

A princípio, navegaram por todo o Mediterrâneo. Além disso, viajaram para fora do Estreito de Gibraltar, no Atlântico, onde estabeleceram colônias na Península Ibérica. Fizeram, igualmente, extensas viagens ao longo da costa da África.

Atualmente, encontros de naufrágios confirmam a excelência dos barcos fenícios.

A navegação fenícia

Entretanto,  não conheciam a bússola ou qualquer outro instrumento de navegação. Baseavam-se, sobretudo, em características naturais do litoral. Além disso, usavam as estrelas, o sol, os marcos da costa, a direção dos ventos enquanto contavam com a experiência do capitão sobre as marés, correntes e ventos da rota.

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Navio fenício da era do apogeu. Ilustração, https://www.shutterstock.com.

As colônias fenícias

A mais famosa foi Cartago, localizada no que é agora a Tunísia, norte da África. Estabelecida algum tempo após 800 a.C.  Eventualmente, tornaria-se uma grande cidade, tão poderosa que desafiou o império romano. Por fim, acabou destruída durante as guerras púnicas.

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Antes, porém, os fenícios criaram uma rede comercial sem precedentes que foi de Chipre, Rodes, Ilhas do Mar Egeu, Egito, Sicília, Malta, Sardenha, Itália central, França, Norte de África, Ibiza, e além das Colunas de Hércules (hoje Estreito de Gibraltar).

Dessa forma, com o tempo essa rede transformou-se em um império de colônias contribuindo para que atravessassem os mares e ganhassem a confiança até chegarem a lugares tão distantes como a  Grã-Bretanha e, até mesmo, a costa atlântica da África.

Os fenícios realizavam comércio através da galé, um navio movido a velas e remos. Eles foram creditados como os inventores do birreme, tido como o melhor navio da antiguidade. Gregos e romanos copiaram e aprimoraram o modelo.

Fenícios grandes navegadores, ‘inventaram a quilha’

Eram famosos na antiguidade por suas habilidades na construção de navios. Foram creditados, igualmente, pela invenção da quilha, bem como o calafeto (para vedar a entrada d’água) entre as tábuas da embarcação. Das esculturas assírias em Nínive e Khorsabad, e descrições em textos como o livro de Ezequiel, na Bíblia, sabemos que os fenícios tinham três tipos de navios.

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Ilustração: http://www.oocities.org

Os navios de guerra

Os navios de guerra tinham uma popa convexa, eram impulsionados por uma grande vela retangular num único mastro, e com dois bancos de remos (birreme). O comprimento era sete vezes maior que  sua largura, para carregar o número necessário de tripulantes, remadores e guerreiros. Herodotus e Tulcídides concordam que a velocidade média de uma antiga embarcação era de cerca de 6 milhas por hora.

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Navio de guerra dos fenícios grandes navegadores (Ilustração: monacoreporter.com)

Os navios fenícios tinham um convés e estavam equipados com um aríete na proa. A popa era igual aos navios de carga, mas a proa,  muito diferente, era em si uma arma. Tinha um esporão de bronze de várias formas  usado para investir e furar o casco dos navios inimigos.

Nas proas dos navios foram pintados olhos comuns e, acima deles, aberturas para cabos de ancoragem. Havia na proa um arco usado por guerreiros, ou catapultas; e um pós-castelo no final da popa que abrigava o capitão e os oficiais. Havia, ainda, dois lemes para a direção, um de cada lado da popa.

Os navios de comércio

O segundo tipo foi para fins de transporte e comércio. Estes eram semelhantes aos primeiros, mas, com cascos largos, ‘inchados’, eram bem mais pesados. Tinham um grande espaço de carga.

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Navio de carga dos fenícios grandes navegadores (Ilustração: peopleofonefire. com)

O comprimento era quatro vezes maior que  sua largura e sua capacidade de carga, de cerca de 450 toneladas. Uma frota podia consistir em até 50 navios de carga. Algumas foram retratadas em relevos sendo escoltadas por vários navios de guerra.

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Pesca e viagens curtas

Um terceiro tipo de embarcação, também para uso comercial, era muito menor. Aparentemente, tinha uma cabeça de cavalo na proa e apenas uma fileira de remos. Contudo, devido ao seu tamanho esta embarcação era utilizada apenas para pesca costeira e viagens curtas.

Menções históricas às negações fenícias

Muito do que se conhece sobre as habilidades náuticas deste povo nos chegou através dos historiadores antigos. Heródoto, por exemplo,  descreve um episódio durante a construção da segunda invasão persa da Grécia em 480 a.C liderada por Xerxes. Por sinal, história comentada no post Batalha de Salamina, parte da História da humanidade.

O rei persa queria colocar sua frota multinacional à prova. Desse modo, organizou uma regata vencida pelos  marinheiros de SidonHeródoto menciona igualmente que Xerxes fazia questão de viajar em um navio fenício sempre que tinha que ir a qualquer lugar por mar.

Os historiadores por muito tempo consideraram que os fenícios navegavam apenas durante o dia, porque tinham que se manter perto da costa e à vista de pontos de referência; à noite, portanto, tinham que encalhar ou ancorar seus navios. Isto  explica a proximidade de algumas colônias fenícias, a um dia de distância de navegação umas das outras.

A tradição dos olhos na proa

Frequentemente, dois olhos eram pintados em ambos os lados da proa, destinados ‘a permitir que o navio visse a rota que estava tomando.’ Tornaram-se tradição náutica. Até hoje muitos barcos, de pesca ou recreio, levam olhos pintados na proa.

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Pesqueiros do sul da Bahia

Além disso, de acordo com a tradição histórica, os olhos impunham medo entre os inimigos. A tripulação geralmente não era mais do que 20 homens, incluindo o capitão-proprietário e piloto.

Viagens fenícias: Mediterrâneo, Atlântico, Mar Vermelho e Índico

Os fenícios não estavam limitados ao Mediterrâneo e ao Atlântico,  também navegavam pelo Mar Vermelho e possivelmente no Oceano Índico. A Bíblia descreve a expedição fenícia durante o século 10 a.C. a uma nova terra chamada Ophir para adquirir ouro, prata, marfim e gemas.

A localização de Ophir não é conhecida, entretanto, especula-se como sendo no Sudão, na Somália, no Iêmen ou até mesmo em uma ilha no Oceano Índico. 

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Navio fenício à época do apogeu. Ilustração, http://viewzone.com/phoenician.boat.jpg.

No Atlântico…

O antigo historiador Diodoro afirmou que os fenícios chegaram às ilhas do Atlântico da Madeira, das Ilhas Canárias e dos Açores. No entanto, não há evidências arqueológicas de contato fenício direto, apenas a descoberta em 1749 de oito moedas cartaginesas que datam do século III a.C.

Chegando à Grã-Bretanha…

Os marinheiros da colônia Cartago, a mais bem sucedida da Fenícia, teriam navegado para o antigo Reino Unido em uma expedição liderada por Himilco em 450 a.C.

Como os povos antigos se orientavam em suas navegações noturnas não existe a bússola?
Navio fenício. Século 13 a.C. Ilustração, museu de Filadélfia.

Fenícios grandes navegadores: circum-navegação da África

Uma das mais memoráveis viagens foi descrita por Heródoto. O ‘Pai da História‘ conta que  no final do século VII a.C., os fenícios foram instruídos pelo faraó Necho para circum-navegar o continente africano de leste a oeste numa viagem de três anos.

Há quem diga que ‘se qualquer nação pudesse reivindicar ser o mestre dos mares, seriam os fenícios’ (por exemplo, o historiador Mark Cartwright).

Assista ao vídeo

Phoenicia Sailing Gibraltar

Fontes: http://ageofex.marinersmuseum.org; www.worldhistory.biz; phoenicia.org; www.ancient.eu; monacoreporter.com; www.oocities.org; peopleofonefire.com.

Economia dos oceanos, China é a nação preponderante

Como os povos antigos se orientavam em suas navegações noturnas se não existia uma bússola?

Sem a bússola, os antigos navegadores se orientavam somente de forma visual, com base, essencialmente, na consulta aos astros, incluindo o Sol e as estrelas como balizadores de suas rotas.

Como os povos antigos se orientavam durante a noite?

Os povos antigos se orientava pelas posições das estrelas. Para reconhecer facilmente o céu, eles imaginavam, a partir de certos grupos de estrelas, figuras no céu.

Como os povos antigos faziam para se orientar?

Uma das maneiras mais primitivas de orientação era realizada através da observação de astros e estrelas, no decorrer de muito tempo os viajantes usaram com frequência esse artifício, as principais referências eram o Sol, a Lua e as estrelas.