Como podemos relacionar a cultura e as identidades dentro da comunidade surda?

Falar sobre Cultura implica falar sobre costumes, valores, ideias e comportamentos, adotados por uma sociedade ou um grupo específico. Dessa forma, podemos entender o porquê dos Surdos lutarem para manterem sua Cultura.

Afinal, ao longo da história, esses, sempre, constituíram um grupo de características próprias, que muito sofreu com a imposição da cultura ouvinte ou “cultura da maioria”. Que tomou decisões em relação à vida social dos Surdos, sem respeitar suas necessidades e levar em consideração suas expressões, a respeito do que, realmente, seria melhor para eles.

Nesse momento, esclareceremos um ponto importante da Cultura Surda: note que, ao longo do texto, a palavra Surdo está escrita sempre com letra maiúscula. Esse é o Surdo que se aceita enquanto pessoa capaz tem uma Identidade Surda, utiliza a Língua de Sinais como meio de comunicação, se expressa e participa da sociedade.

Destacamos essa questão, pois é comum que a sociedade use o termo deficiente auditivo para se referir à pessoa com surdez, mas, normalmente, o deficiente auditivo é aquele que não se comunica por meio da Língua de Sinais, não tem uma Identidade Surda definida, podendo ou não fazer uso do aparelho auditivo e se expressar através da língua oral.

Agora, falaremos sobre algumas das diferentes Identidades Surdas, fazendo uso das definições de Gladis Perlin – autora Surda, teóloga, mestre e doutora em Educação; destacando, resumidamente, algumas características marcantes das mesmas:


– Na Identidade Surda (Identidade Política), as pessoas apresentam características culturais baseadas na experiência visual, como determinante em seu comportamento; utilizam-se, somente, da Língua de Sinais; transmitem sua Cultura e seu posicionamento resistente diante da diferença de ser para os demais Surdos.


Esses participam de associações e grupos, nos quais compartilham suas experiências, seus anseios, seus sonhos e sua Cultura.

– A Identidade Surda Híbrida compreende o grupo de pessoas que nasceram ouvintes ou, por causas diversas, tornaram-se Surdos. Alguns conhecem a Língua Portuguesa falada, devido ao fato de terem ficado Surdos após certa idade, transitam entre o uso da Língua de Sinais e a Língua Oral, convivem bem com as Identidades Surdas (Políticas) nas Associações e Comunidades Surdas, aceitam-se como Surdos e exigem intérpretes, legenda na TV, dentre outros recursos, que facilitem a comunicação.

– A Identidade Surda Flutuante abrange os Surdos que não frequentam a Comunidade Surda; não seguem a Cultura Surda e sim as representações dos ouvintes, que são o seu referencial; desconhecem ou rejeitam o intérprete da Língua de Sinais e, normalmente, costumam resistir ao uso da mesma; orgulham-se de saber falar corretamente e persistem em usar aparelhos auditivos, ouvindo ou não algum som.


Procuramos destacar algumas das características das Identidades Surdas, com as quais você, enquanto profissional, pode vir a se deparar, para aprofundar seus conhecimentos e esclarecer outros pontos importantes.

Agora, que você já conhece os diferentes tipos de Identidades Surdas, voltemos à questão da Cultura Surda, na qual podem se destacar alguns pontos importantes e característicos do comportamento dos sujeitos, que compõem uma Comunidade Surda.

Os Surdos preferem se relacionar, intimamente, com pessoas, também, Surdas. Na sua Cultura, o humor fica a cargo de piadas, que têm os ouvintes e sua falta de entendimento sobre a surdez como foco principal.

Os membros de Comunidades Surdas, também, despertam para a arte teatral e para a poesia; sendo que, por meio dessas, conseguem transmitir suas emoções, sentimentos e posições perante o mundo que os cerca.

Enfim, falar sobre a Cultura Surda é um grande desafio para nós ouvintes, pois, muitas vezes, pouco a conhecemos e respeitamos.

Lembrando que o que constitui a independência de um povo é sua Língua e seus costumes, ou seja, algo que se aprende e leva-se para toda vida; aquilo que ninguém tem o direito de tirar ou modificar. Portanto, se com os ouvintes de quaisquer partes do mundo é assim, porque não haveria de ser com o Povo Surdo?

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MULTIPLAS IDENTIDADES SURDAS 
 

          Segundo A Autora Gladis Perlin: “As diferentes identidades Surdas são bastante complexas, diversificadas. Isto pode ser constatado nesta divisão por identidades onde se tem ocasião para identificar outras muitas identidades Surdas, ex: Surdos filhos de pais Surdos; Surdos que não tem nenhum contato com Surdo, Surdos que nasceram na cidade, ou que tiveram contato com Língua de Sinais desde a infância etc... Como dissemos a identidade Surda não é estável, esta em continua mudança. Os Surdos não podem ser um grupo de identidade homogênea. Há que se respeitarem as diferentes identidades.

          Em todo caso, para a construção destas identidades impera sempre a identidade cultural, ou seja, a identidade Surda como ponto de partida para identificar as outras identidades Surdas. Esta identidade se caracteriza também como identidade política, pois esta no centro das produções culturais.

          Outro ponto de partida que não pode ser esquecido é que a identidade Surda é possível pela experiência visual. Isto é, se a pessoa tem audição já não pode ser Surda como no caso da identidade intermediaria. Isto tudo é importante à produção cultural como seja: necessidade de intérpretes, de Língua de Sinais, de convívio com pessoas de identidades iguais”.

          As Diferentes Identidades Surdas:

1.      Identidades Surdas (identidade política)              

          Trata-se de uma identidade fortemente marcada pela política Surda. São mais presentes em Surdos que pertencem à comunidade Surda e apresentam características culturais como sejam:

·        Possuem a experiência visual que determina formas de comportamento, cultura, língua, etc.;

·        Carregam consigo a Língua de Sinais. Usam Sinais sempre, pois é sua forma de expressão. Eles têm o costume bastante presente que os diferencia dos ouvintes e que caracteriza a diferença Surda: a captação da mensagem é visual e não auditiva. O envio de mensagens não usa o aparelho fonador, usa as mãos;

·        Aceitam-se como Surdos, sabem que são Surdos e assumem um comportamento de pessoas Surdas, Entram facilmente na política com identidade Surda, onde impera a diferença: necessidade de interpretes, de educação diferenciada, de Língua de Sinais, etc.;

·        Passam aos outros Surdos sua cultura, sua forma de ser diferente;

·        Assumem uma posição de resistência;

·        Assumem uma posição que avança em busca de delineação da identidade cultural;

·        Assimilam pouco, ou não conseguem assimilar a ordem da língua falada, tem dificuldade de entendê-la;

·        Decodificam todas as mensagens recebidas em Língua de Sinais;

·        A escrita obedece à estrutura da Língua de Sinais, pode igualar-se a língua escrita, com reservas;

·        Tem suas comunidades, associações, e/ou órgãos representativos e compartilham entre si suas dificuldades, aspirações, utopias;

·        Usam tecnologia diferenciada: legenda e Sinais na TV, telefone especial, campainha luminosa;

·        Tem uma diferente forma de relacionar-se com as pessoas e mesmo com animais;

·        Esta identidade assume características bastante diferenciadas é preciso lembrar aqui que, por exemplo, a identidade Surda genealógica traz sinais vividos e provados durante gerações, por exemplo, na Itália há uma família de Surdos de mais de 40 gerações; os filhos de pais Surdos; os Surdos que nasceram Surdos têm família ouvinte e entraram em contato com a comunidade Surda já em idade adulta.       

2.      Identidades Surdas Hibridas

Ou seja, os Surdos que nasceram ouvintes e com o tempo alguma doença, acidente, etc. os deixaram Surdos:        

·        Dependendo da idade em que a surdez chegou, conhecem a estrutura do

português falado decodifica a mensagem em português e o envio ou a captação da mensagem vez ou outra é na forma da língua oral;

 
·        Usam língua oral ou Língua de Sinais para captar a mensagem. Esta identidade também é bastante diferenciada, alguns não usam mais a língua oral e outros usam Sinais sempre;

·        Assumem um comportamento de pessoas Surdas, ex: política da identidade Surda usa tecnologia para Surdos...;

·        Convivem pacificamente com as comunidades Surdas;

·        Assimilam um pouco mais que os outros Surdos, ou não conseguem assimilar a ordem da língua falada, tem dificuldade de entendê-la;

·        A escrita obedece à estrutura da Língua de Sinais, pode igualar-se a língua escrita, com reservas;

·        Participam das comunidades, associações, e/ou órgãos representativos e compartilham com as identidades Surdas suas dificuldades, políticas, aspirações e utopias;

·        Aceitam-se como Surdos, sabem que são Surdos, exigem intérpretes, legenda e Sinais na TV, telefone especial, campainha luminosa;

·        Também tem uma diferente forma de relacionar-se com as pessoas e mesmo com animais.

3.      Identidades Surdas Flutuantes   

          Os Surdos que não têm contato com a comunidade Surda. Ou Surdos que viveram na inclusão ou que tiveram contato da surdez como preconceito ou desconhecimento social. São outra categoria de Surdos, visto de não contarem com os benefícios da cultura Surda. Eles também têm algumas características particulares.

·        Seguem a representação da identidade ouvinte;

·        Estão em dependência no mundo dos ouvintes, seguem os seus princípios, respeitam-nos, colocam-nos acima dos princípios da comunidade Surda, às vezes competem com os ouvintes, pois que são induzidos no modelo da identidade ouvinte;

·        Não participam da comunidade Surda, associações e lutas políticas;

·        Desconhecem ou rejeitam a presença do interprete de Língua de Sinais;

·        Orgulham-se de saber falar “corretamente”;

·        Demonstram resistências a Língua de Sinais e a cultura Surda visto que isto, para eles, representa estereotipo;

·        Não conseguiram identificarem-se como Surdos, sentem-se inferiores aos ouvintes; isto pode causar muitas vezes depressão, fuga, suicídio, acusação aos outros Surdos, competição com os ouvintes, há alguns que vivem na angustia no desejo continuo de serem ouvintes;

·        São vitimas da ideologia oralista, da inclusão, da educação clinica, do preconceito e do preconceito da surdez;

·        São Surdos. Quer ouçam algum som, quer não ouçam, persistem em usar aparelhos auriculares, não usam tecnologia dos Surdos;

·        Estas identidades Surdas flutuantes também apresentam divisões; por exemplo, aqueles que têm contato com a comunidade Surda, mas rejeitam-na, os que jamais tiveram contato, etc....


4.      Identidades Surdas Embaraçadas

As identidades Surdas embaraçadas são outros tipos que podemos encontrar diante da representação estereotipada da surdez ou desconhecimento da surdez como questão cultural.

·        Esta identidade não consegue captar a representação da identidade Surda, nem da identidade ouvinte como fazem os flutuantes;

·        Sua comunicação é por alguns Sinais incompreensíveis às vezes;

·        Não tem condição de dizer onde moram, seu nome, sua idade, etc...

·        Não tem condições de usar Língua de Sinais, não lhe foi ensinada, nem teve contato com a mesma;

·        São pessoas vistas como incapacitadas;

·        Neste ponto, ouvintes determinam seus comportamentos, vida e aprendizados;

·        É uma situação de deficiência, de incapacidade, de inércia, de revolta;

·        Existem casos de aprisionamento de Surdos na família, seja pelo estereotipo ou pelo preconceito, fazendo com que alguns Surdos se tornem embaraçados

5.      Identidades Surdas de Transição
        
           Estão presentes na situação dos Surdos que devido a sua condição social viveram em ambientes sem contato com a identidade Surda ou que se afastaram da identidade Surda.


·        Vivem no memento de transito entre uma identidade para outra;

·        Se a aquisição da cultura Surda não se da na infância, normalmente a maioria dos Surdos precisa passar por este momento de transição, visto que grande parte deles são filhos de pais ouvintes;

·        No momento em que esses Surdos conseguem contato com a comunidade Surda, a situação muda e eles passam pela des-ouvintização, ou seja, rejeição da representação da identidade ouvinte;

·        Embora passando por essa des-ouvintização, os Surdos ficam com seqüelas da representação, o que fica evidenciado em sua identidade em construção;

·        Há uma passagem da comunicação visual/oral para a comunicação visual/sinalizada;

·        Para os Surdos em transição para a representação ouvinte, ou seja, a identidade flutuante se da o contrario.


6.      Identidades Surdas de Diáspora

           As Identidades de Diáspora divergem das identidades de transição. Estão presentes entre os Surdos que passam de um pais a outro ou, inclusive passam de um Estado brasileiro a outro, ou ainda de um grupo Surdo a outro. Ela pode ser identificada como o Surdo carioca, o Surdo brasileiro, o Surdo norte-americano. É uma identidade muito presente e marcada.  

7.      Identidades Intermediarias

          O que vai determinar a identidade Surda é sempre a experiência visual. Neste caso, em vista desta característica diferente distinguimos a identidade ouvinte da identidade Surda. Temos também a identidade intermediaria. Geralmente esta identidade é identificada como sendo Surda. Essas pessoas têm outra identidade, pois tem uma característica que não lhes permite a identidade Surda isto é a sua captação de mensagens não é totalmente na experiência visual que determina a identidade Surda.

          *   Apresentam alguma porcentagem de surdez, mas levam uma vida de ou-

                vintes;

·        Para estes são de importância os aparelhos de audição, de aumento de som;

·        Assume importância para eles o treinamento do oral, o resgate dos restos auditivos;

·        Busca de amplificadores de som...;

·        Não uso de intérpretes de cultura Surda, de Língua de Sinais etc. (alguns adoram Língua de Sinais por hobby);

·        Quando presente na comunidade Surda, geralmente se posiciona contra o uso de intérpretes ou considera o Surdo como menos dotado e não entende a necessidade de Língua de Sinais de intérpretes;

·        Tem dificuldade de encontrar sua identidade visto que não é Surdo nem ouvinte. Ele vive como pendulo, ora entre Surdos, ora entre ouvintes, daí seu conflito com esta diferença.


BIBLIOGRAFIA:

Artigo compilado na integra da Revista da FENEIS - Ano IV – número 14 abr./jun. de 2002. Autora Gladis Perlin

IMAGENS E FOTOS RETIRADAS DE DOMÍNIO PÚBLICO.

Como podemos conhecer a cultura e identidade surda?

Um exemplo clássico de um aspecto da cultura surda é o “batismo com um sinal”. Em que uma pessoa ganha o seu “nome” na Língua de Sinais Brasileira. Ou seja, o seu “sinal”, este que irá identificá-lo na comunidade surda. Este sinal pessoal por tradição e autenticidade só pode ser feito por uma pessoa surda.

Qual a importância da comunidade e da cultura surda para o desenvolvimento das identidades surdas?

Os povos surdos através dos movimentos sociais vêm contribuindo para que haja um novo olhar no processo histórico cultural, com conquistas como a inserção do currículo surdo, a valorização da Língua de Sinais e pedagogia surda nos espaços educacionais.

O que e a cultura e comunidade surda?

É o conjunto de crenças sociais, comportamentos, artes, tradições literárias, valores e instituições compartilhadas de comunidades influenciadas por comprometimentos auditivos e que recorrem à língua de sinais como principal meio de comunicação.

Qual a importância de conhecer as diferentes identidades surdas?

Entender quais são os tipos de identidade surda é fundamental para se comunicar da melhor forma com um indivíduo que apresenta problemas de audição. Até porque, no momento em que compreendemos a diversidade dos casos, mais chances temos de estabelecer um relacionamento mais claro e adequado.