Em 1936 (berlim), ela foi a primeira mulher a utilizar qual tipo de nado nas olimpíadas?

Maria Emma Hulga Lenk Zigler, 1ª mulher brasileira a participar de uma olimpíada. Maria Lenk foi uma nadadora de extrema importância e marcou o nome na história da natação brasileira. A heroína nasceu em São Paulo no dia 15 de janeiro de 1915, e sua paixão pelas águas começou quando Maria, aos sete anos de idade, contraiu uma pneumonia dupla e os pais, imigrantes alemães, Paul e Rosa Lenk acreditaram que a natação faria bem à saúde da filha. No entanto, a mesma não tinha piscinas para nadar e teve de dar as primeiras braçadas no rio Tietê.

Em 1932, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, Maria Lenk escreveu uma nova história para as mulheres brasileiras no esporte olímpico. Aos 17 anos, a nadadora paulista foi a primeira mulher brasileira e sul-americana a participar de uma Olimpíada. Ela era a única mulher em uma delegação de 67 homens. A viagem para Los Angeles foi feita em um navio cedido à CBD (Confederação Brasileira de Desportos) e desembarcava quem vendesse, durante as paradas nos portos, uma determinada cota do café que era transportado nos porões das embarcações.

Além de ser a primeira mulher brasileira a participar de uma Olimpíada em 1932, quatro anos mais tarde, nos Jogos Olímpicos de Berlim-1936, ela foi pioneira da natação moderna. Acompanhada de mais três brasileiras na delegação, ela foi a primeira mulher a usar o nado borboleta em uma prova de peito. Ela era favorita a ganhar a primeira medalha de ouro olímpica para as mulheres brasileiras em esportes individuais nos Jogos Olímpicos de Tóquio de 1940, mas devido à Segunda Guerra Mundial os jogos foram cancelados. Durante a preparação, Maria Lenk quebrou os recordes mundiais de 200 metros e de 400 metros no nado peito. Ela é, até hoje, a única brasileira a derrubar tais marcas.

No início dos anos 40, o então presidente Getúlio Vargas editou o artigo 54 do Decreto-Lei 3.199, e proibiu a prática de esportes pelas mulheres. A nadadora foi a única mulher da delegação sul-americana que fez uma excursão pelos Estados Unidos. Em solo norte-americano, ela quebrou 12 recordes estadunidenses e concluiu o curso de educação física na Universidade de Illinois. Dois anos mais tarde, Maria ajudou a fundar a Escola Nacional de Educação Física da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Em 1988, Maria Lenk foi incluída no Hall Internacional da Fama da Natação, tornando-se assim a primeira atleta brasileira a alcançar tal feito. Doze anos depois, ela recebeu a Ordem Olímpica, honraria concedida pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) aos maiores atletas de todos os tempos. Em 2007, com 92 anos de idade, a nadadora veio a falecer no dia 16 de abril.

Biografia

Uma jornada de pioneirismo e paixão da primeira à última braçada

Quando o imigrante alemão Lui Paul Lenk lançou a filha mais velha nas águas do então límpido Rio Tietê - presa por uma vara de alumínio e amarrada pela cintura - com o intuito de ensiná-la a nadar, seu maior objetivo era fortalecer os pulmões da menina de 10 anos, que havia sobrevivido bravamente a uma pneumonia dupla, na São Paulo de 1925, época em que ainda não havia antibióticos. Mal sabia ele a importância daquele inocente mergulho na vida de Maria Emma Lenk Zigler e na história do esporte brasileiro. Primeira brasileira a disputar os Jogos Olímpicos, Maria Lenk desbravou o mundo, bateu recordes mundiais e mostrou para todos e, principalmente todas, que esporte podia, sim, ser lugar de mulher. Com participação importante na organização do esporte nacional ao parar de competir, Maria Lenk nadou até o último momento de sua vida, marcada por quebra de barreiras e pioneirismo. Faleceu na piscina, nadando para a eternidade, aos 92 anos. Poucos anos depois de aprender a nadar, a adolescente Maria Lenk embarcou, com 17 anos e sem a companhia dos pais, rumo aos Jogos Olímpicos de Los Angeles-1932.  Única mulher entre 82 atletas da delegação no lendário navio Itaquicê. Apenas 66 desembarcaram e competiram, já que era preciso pagar a taxa de um dólar para o desembarque de cada atleta. Como a delegação não contava com reservas suficientes, apenas os que tinham reais chances de conquistar medalhas na competição desembarcaram. Lenk era um deles. A outra representante do sexo feminino a bordo, além dela, não era atleta: dona Ivone, a jovem esposa de Sylvio de Magalhães Padilha, membro da equipe de atletismo e futuro presidente do COB.“Minha avó foi no Itaquicê também. Ela havia sido escolhida, num concurso de um jornal carioca, como a ‘Rainha da Delegação’, revela o advogado Alberto Murray, neto do Major Padilha. Mesmo sendo menor de idade, Maria não encontrou resistência por parte da família para viajar. “O meu avô era uma pessoa bem liberal, inclusive em relação às filhas. As duas foram criadas de forma mais despojada que o comum na época, sem grandes amarras, a não ser os cuidados naturais com a saúde e a integridade, bem diferente de outras famílias. Na época não se permitia que as filhas viajassem desacompanhadas”, observa Francisco da Silva Júnior, ex-coronel da Marinha e filho de Sieglinde, irmã caçula de Maria Lenk.Segundo ele, o navio Itaquicê pertencia a Henrique Lages, um milionário famoso.“Colocaram a tripulação da Marinha e um canhão na frente, disfarçando a embarcação como se fosse um navio de guerra, para não ter que pagar taxa no canal do Panamá, mas não funcionou. Também havia a bordo muitas sacas de café para serem vendidas e custearem as despesas da viagem. A Maria teve uma atuação importante durante o trajeto. Ela falava alemão e inglês fluentemente e ajudou nas negociações. Era a intérprete da delegação naquela viagem épica”, conta. Destino mudado pela Primeira GuerraNascido em Reichembach, na Alemanha, numa família de posses, o pai de Maria, Lui Paul Lenk, chegou ao Brasil em 1910, acompanhado da esposa Emma, e se estabeleceu na região das Missões, no Rio Grande do Sul. Depois, mudou-se para São Paulo e a esposa, que tinha saúde frágil, faleceu. Anos mais tarde, Lui casou-se, pela segunda vez, com a enfermeira alemã Martha Rosa Kerzler. Em 1914, quando Rosa engravidou, a família decidiu que ela daria a luz na Alemanha e embarcou para lá. “Com as notícias de que a Primeira Grande Guerra Mundial estava para começar e como Rosa havia recebido uma convocação para voltar a atuar como enfermeira na Alemanha, eles decidiram retornar ao Brasil. Embarcaram no último navio antes do início dos ataques”, conta Silva Júnior. Assim, as gêmeas Maria e Herta nasceram em São Paulo, no dia 15 de janeiro de 1915. Essa foi a primeira vez que uma guerra mudou o destino de Maria Lenk.Esporte e saúde Pouco mais de um ano depois do nascimento das filhas, Lui sofreu um novo golpe com o falecimento de Herta, a gêmea mais franzina, vítima de problemas digestivos. Bancário de profissão, o pai de Maria Lenk dava aulas gratuitas de ginástica e natação e enxergava na prática de esportes um método eficiente para a conservação da saúde. Foi isso que fez a pequena Maria a dar suas primeiras braçadas.“Trabalho em mim mesmo, exercitando-me fisicamente, a fim de obter um físico forte e manter minha saúde, coisa tão preciosa para não sucumbir na luta pela existência; saúde esta que nos proporciona também viver a vida com alegria, para a satisfação própria e dos próximos, evitando de ser-lhes carga extra, como são os enfermos”, escreveu Lui Paul num trecho do seu diário, reproduzido por Maria Lenk no seu livro “Braçadas & Abraços”, publicado em 1986.Em 1917, a família Lenk cresceu com a chegada de Ernesto. Em 1919, nasceu Sieglinde, a caçula. Segundo Silva Júnior, filho de Sieglinde, Lui Paul atuava como professor de natação no Clube de Regatas Tietê, e como professor de ginástica na escola alemã em que as filhas estudavam e no Cube Germânia, hoje Esporte Clube Pinheiros. Morando no bairro de Santana, na capital paulista, bem próximo aos clubes Espéria e Tietê e da Associação Atlética São Paulo, com pai esportista, mãe enfermeira, conscientes da importância da atividade física para a saúde e com um estilo liberal de educação, os três filhos de “Paulo” e Rosa não tardaram a fazer sucesso. Ernesto foi jogador de basquete e as irmãs Lenk passaram a ser sinônimo de natação. As primeiras competições em São Paulo foram realizadas no Rio Tietê.“As disputas aconteciam em raias armadas em uma enseada do rio, delimitada por ‘pontões’ colocados sobre tambores nas cabeceiras e apoiadas firmemente no fundo”, relata Silva Júnior. “A primeira piscina para natação do Brasil foi a do Paulistano, em 1926. Na época da Maria Lenk não era comum que se nadasse em piscinas, e a primeira fase de sua carreira foi no Rio Tietê. Só no início da década de 1930 é que as competições em piscina se tornaram mais comuns”, diz Renato Cordani, diretor geral da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos – CBDA e autor do livro “80 Anos de História da Natação Brasileira”. Maria Lenk ficou em segundo lugar quando competiu pela primeira vez numa piscina. O ano era 1930 e o evento marcou a inauguração da piscina da Associação Atlética de São Paulo. Marina Cruz foi a vencedora.  Viajando sozinhaNo início dos anos 1930, as mulheres enfrentavam muitas dificuldades e a palavra “independência” não fazia parte do vocabulário feminino. “A mulher não era considerada cidadã, não podia votar. O voto facultativo foi concedido somente em 1932. A legislação era outra, as mulheres não trabalhavam fora, não tinham controle de suas finanças, eram vistas como reprodutoras, não participavam de negócios, pouquíssimas podiam estudar”, relembra a professora Ana Miragaya, autora do livro internacional bilíngue “Maria Lenk: Atleta, Educadora e Cientista. A Primeira Heroína Olímpica do Brasil” (Editora Engenho, Arte e Cultura). Foi nesse cenário que, em 1931, com uma mentalidade progressista, o pai de Maria Lenk permitiu que ela embarcasse para uma competição no Rio de Janeiro, juntamente com Marina Cruz. “Aquele foi o primeiro confronto entre nadadores das duas maiores metrópoles brasileiras”, destaca Silva Júnior. Ele diz que o pai de Marina Cruz ficou responsável pela guarda da delegação e das meninas nadadoras, rompendo resistências e preconceitos à participação em competições nacionais das moças.Pioneira em OlimpíadasAo pular na piscina para as provas de natação dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, depois de uma viagem cansativa que durou 27 dias, Maria Lenk entrava para a história como a primeira mulher sul-americana a participar de uma Olimpíada. “Sempre admirei muito a Maria Lenk pelo pioneirismo. Eu comecei muito cedo.  Com 17 anos bati o recorde mundial e, à medida que fui me destacando, ia percebendo o quanto eu era pioneiro, o quanto eu fui abrindo caminho, para os outros. Fico imaginando como deve ter sido para ela ter sido a primeira mulher em Olimpíada, ter sido a primeira recordista mundial. O caminho é sempre mais difícil para quem está indo primeiro. Se eu achei que o caminho foi difícil para mim, imagino para ela. Sou um grande admirador, eu acho que ela é uma das grandes personalidades da natação e do esporte em geral do Brasil”, reverencia Ricardo Prado, medalha de prata nos 400m medley, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles-1984 e ex-recordista mundial da prova, considerado o maior nadador brasileiro da década de 1980. “A participação foi tímida, ela não estava à altura das adversárias em 1932. Ficou em vigésimo nos 100m livre, foi desclassificada nos 100m costas e ficou em décimo primeiro lugar nos 200m peito”, informa Renato Cordani.Enquanto no Brasil eram poucas as mulheres que praticavam esportes, na Europa o cenário era bem diferente.“Muitas mulheres já competiam e participavam dos Jogos Olímpicos desde 1900. As mulheres já lutavam por sua cidadania em muitos países e isso incluía também a inclusão no esporte”, ressalta a professora Ana Miragaya. Além da falta de preparação durante a viagem, já que o Itaquicê contava apenas com uma piscina de lazer, inadequada para treinos, Maria Lenk teve outras dificuldades."O que valia era o conceito do amadorismo. Eu competi com um uniforme emprestado, que tive de devolver quando as provas acabaram", registra uma matéria sobre ela no jornal Folha de São Paulo. Curiosamente, 60 anos depois, a história se repetiu, só que, dessa vez, com resultado diferente. Na Olimpíada de Barcelona-1992, o judoca Rogério Sampaio subiu ao pódio para receber a medalha de ouro depois de lutar com um quimono emprestado. Com uniforme emprestado ou não e independentemente dos resultados, a barreira para a participação das brasileiras nos Jogos Olímpicos fora rompida.“Maria Lenk abriu a porta para as mulheres que vieram depois. Quebrou preconceitos que havia não apenas com os atletas, mas com as mulheres atletas. Há que se pensar que, naquela época no Brasil, em uma sociedade aristocrática e patriarcal, era uma ousadia uma mulher viajar sozinha, em uma delegação esportiva para uma nação distante”, analisa Alberto Murray. Ganhando tudo no Rio TietêNa volta da Olimpíada, além de participar de inúmeras inaugurações de piscinas nas principais capitais do país ao lado da irmã Sieglinde, Maria Lenk se destacou como o grande nome da “Travessia de São Paulo a Nado”, uma prova com percurso de 5,5km, entre a Ponte da Vila Maria e o Clube Espéria, na zona norte de São Paulo. Maria foi quatro vezes campeã de 1932 a 1935. “Os torcedores ficavam curiosos com a presença feminina numa prova onde praticamente havia só homens. Queriam ver o que acontecia com uma moça nadando em meio a muitos rapazes. Achavam que ela perderia e eles iriam rir do fraco desempenho das atletas. Mas o que aconteceu foi justamente o contrário. Maria Lenk descrevia que a maior parte dos homens e muitas mulheres que acompanhavam os maridos e namorados a essas provas ficavam surpresas com seu desempenho. “Ela ‘dava poeira’ em muitos competidores e acabava ganhando a prova para espanto de quase todos”, conta a professora Ana Miragaya.A partir de 1936, quando Maria mudou-se para o Rio de Janeiro, Sieglinde passou a vencer a competição, que tinha como destaque masculino o nadador João Havelange, que viria a ser presidente da FIFA. Pioneira no estilo borboletaNos Jogos Olímpicos de Berlim-1936, Maria já não era mais a única, a delegação contava com outras cinco mulheres, entre elas Sieglinde, a caçula dos Lenk.“Repetiu-se aqui a viagem de navio efetuada para os X Jogos Olímpicos de Los Angeles, só que agora no navio misto cargueiro e passageiro, da linha Hamburgo Sudamerikanische Dampfschiffartsgesellschaft, o “General Artigas”, que não possuía instalações esportivas. A embarcação fez paradas comerciais em portos da África e Europa até chegar a Bremen, de onde a delegação seguiu de trem até Berlim”, descreve Silva Júnior num trecho do capítulo Em família com as irmãs Lenk, Maria e Sieglinde, escrito por ele, como parte do livro internacional bilíngue “Maria Lenk: Atleta, Educadora e Cientista.  A Primeira Heroína Olímpica do Brasil”, de Ana Miragaya. Dessa vez, havia uma piscina improvisada a bordo, mas ainda insuficiente para manter os nadadores em forma. “Nos Jogos de Berlim, ela já tinha 21 anos e esperava-se uma melhor participação, mas ela teve problemas no ombro e ficou apenas na décima terceira posição nos 200m peito”, diz Renato Cordani, diretor da CBDA. “Segundo informações que tenho, ela ficou sem treinar no navio e depois, quando chegou à Alemanha, quis compensar o tempo perdido, exagerou e se contundiu”, emenda. Na competição realizada na Alemanha nazista, o pioneirismo de Maria Lenk manifestou-se novamente. A brasileira inovou fazendo a recuperação do braço no nado peito por fora da água, como também fez o norte-americano Hebert Higgins. Nascia ali o nado borboleta, que só seria oficializado como estilo olímpico pela Federação Internacional de Natação (FINA), em 1956. Excursão na AlemanhaDe acordo com o capítulo escrito por Silva Júnior no livro “Maria Lenk: Atleta, Educadora e Cientista.  A Primeira Heroína Olímpica do Brasil”, após o encerramento da Olimpíada de Berlim, Maria e Linda – como ela carinhosamente chamava a irmã Sieglinde, uma bela atleta de olhos azuis - viajaram pela Alemanha a convite daquele país, antes de retornarem para o Brasil, participando de torneios amistosos que reuniram os nadadores de maior destaque da Olimpíada. Maria aproveitou a oportunidade de troca de conhecimentos. “Nas competições pós-Jogos, Maria viu-se também, como ela mesma descreve no livro ‘Braçadas & Abraços’, recompensada com maiores sucessos, vindo a vencer a recordista mundial Hanni Hölzner, oriunda de Plauen, linda cidade da Saxonia”, escreve Silva Júnior.Excomungada?Antes de embarcar para os Jogos de Berlim, em março de 1936, Maria Lenk havia se formado em Educação Física, na primeira turma da USP - Universidade de São Paulo, tornando-se pioneira também no meio acadêmico. “Nos anos de 1930, não era comum mulheres em cursos superiores no Brasil, mas a Educação Física na primeira turma de São Paulo tinha números equivalentes de mulheres e homens”, informa o doutor Lamartine DaCosta, especialista em estudos olímpicos e curador da obra de Maria Lenk, de 2005 a 2018. Depois dos Jogos, em 1937, Maria mudou-se para Amparo, no interior paulista, onde foi contratada pela prefeitura para dar aulas. “Como ela passou a trabalhar num educandário local e frequentar o único clube da cidade em que havia uma piscina de pequenas dimensões, logo criou impacto por seus trajes de natação e pela iniciativa de reunir jovens em torno de treinamento e competições.  Em consequência, o grupo religioso mais influente na cidade ameaçou excomungar Maria Lenk, além de outros atos de rejeição”, relata o doutor Lamartine, citando o livro “Braçadas & Abraços”, de autoria de Maria Lenk. Excomungada por usar maiô? “Não tenho informações sobre isso. Mas é possível imaginar como era para uma mulher ficar de maiô em 1930”, supõe Renato Cordani, autor do livro “80 Anos de História da Natação Brasileira”.  “A mulher era criada para ser mãe e do lar, ter uma vida dentro de casa, enquanto os homens poderiam ter vida fora de casa, se expor e fazer atividades físicas e esporte. Havia muito preconceito no esporte, especialmente devido à mulher mostrar o corpo, se expor, o que não era recomendado para as ditas ‘moças de família’”, afirma a professora Ana Miragaya. Maria ficou fora das competições até início de 1938, por força do seu vínculo com Amparo, já que a lei do amadorismo, existente na época, a proibia de dar aulas de natação remuneradas. Lá, segundo relata Silva Júnior, ela conseguiu incentivar os esportes aquáticos motivando os dirigentes locais a realizarem o conserto e reforma da piscina do clube local, o que levou a cidade a ter uma boa representação nos I Jogos Abertos do Interior de São Paulo. Ainda segundo o livro de Ana Miragaya, “aproveitando as grandes férias escolares de final de ano, Lenk foi para o Rio de Janeiro e lá recebeu o convite da CBD (Confederação Brasileira de Desportos) para participar do Campeonato Sul-Americano, em Lima, no Peru, o que lhe possibilitou a volta às raias de competição. Motivada com os recordes quebrados e vitórias em Lima, na volta ao Brasil Maria Lenk participou também do Campeonato Brasileiro, vencendo todas as provas em todos os estilos, como ela mesma narra em seu livro Braçadas & Abraços”.Quebra de recordes1939 foi o grande ano da carreira de Maria Lenk. No V Concurso de Natação, realizado no Clube de Regatas Botafogo, no Rio de Janeiro, ela bateu o recorde mundial dos 400m peito, com o tempo de 6’16,5”. Poucos dias depois, em 8 de novembro, numa competição no Fluminense, ela estabeleceu nova marca mundial para os 200m peito, com 2’56”, marca que superava o recorde masculino da prova, que era de 2’59”. Maria é a primeira atleta brasileira a estabelecer um recorde mundial.   “Em 1939, ela já era a melhor do mundo, batendo os recordes mundiais de 200m e 400m peito”, destaca Renato Cordani, diretor geral da CBDA. Seu recorde só foi batido em 1941. Grande decepçãoRecordes e performances extraordinárias faziam de Maria Lenk a grande favorita a se transformar na primeira brasileira a conquistar uma medalha em Jogos Olímpicos, em Tóquio-1940. Mas a Segunda Guerra Mundial impediu a realização não apenas desta competição, mas também da seguinte, em 1944. A guerra alterou o destino de Maria pela segunda vez.“No auge de sua forma, Maria Lenk foi uma das atletas mais prejudicadas pelo cancelamento dos Jogos de 40 e 44”, diz Alberto Murray.“O sentimento dela foi de frustração, pois havia se preparado muito. Com certeza, esperava competir e trazer uma medalha para o Brasil”, afirma a professora Ana Miragaya. A história de Maria Lenk e da natação no Brasil, realmente, teriam sido bem diferentes com a possibilidade de brigar pelo pódio em 1940.“Se ela tivesse conquistado uma medalha na Olimpíada de Tóquio, sua carreira teria tido muito mais destaque, ainda mais naquela época. Ela já era a primeira a bater um recorde mundial no Brasil e seria a primeira brasileira medalhista olímpica”, lamenta Silva Júnior. Pausa na carreiraDepois de disputar o Campeonato Sul-Americanos obtendo excelentes resultados, em 1942, Maria Lenk encerrou sua carreira ao final de um tour nos Estados Unidos, onde, mais uma vez, foi a única brasileira a participar de várias competições, superando 12 vezes os recordes norte-americanos. Três deles foram considerados recordes mundiais, mas não homologados pela FINA por terem sido alcançados em piscinas com medidas em jardas, segundo relatos de Francisco da Silva Júnior, no capítulo escrito por ele no livro “Maria Lenk: Atleta, Educadora e Cientista.  A Primeira Heroína Olímpica do Brasil”.  Pioneira na gestão esportivaFora das competições, Maria Lenk passou a se dedicar inteiramente ao magistério. Professora co-fundadora da Faculdade de Educação Física da Universidade do Brasil – atual UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro – ela reafirmou seu espírito pioneiro ao se tornar a primeira mulher a dirigir uma Faculdade no Brasil.“Maria Lenk era uma pessoa muito firme, que tinha a tenacidade própria dos atletas. Aliás, mesmo com o passar dos anos, nunca perdeu o porte atlético, que a distinguia. Essa firmeza de sua personalidade se mostrou quando o Conselho Nacional de Desportos (CND a nomeou interventora na Confederação Brasileira de Natação, enquanto Rubem Márcio Dinard e Coaracy Nunes brigavam na Justiça por causa da eleição. Também teve uma presença muito marcante quando atuou como diretora da Escola de Educação Física do Rio de Janeiro, tendo sido uma das primeiras mulheres a assumir cargos desse porte no mundo acadêmico. Ela tinha muito orgulho de sua vida de atleta”, diz Alberto Murray.Maria Lenk também se destacou como autora de livros.“Ela passou num concurso para os primeiros professores da Escola de Educação Física da Universidade do Brasil, em 1939. Imediatamente escreveu um livro que criou uma base de conhecimento de gestão esportiva. É uma coincidência termos na gestão do esporte uma pessoa que foi uma das pioneiras na geração do conhecimento e ao mesmo tempo um grande nome esportivo. Ela é uma figura ímpar a reunir todas essas faculdades, mas eu acho que a sua tese na área de conhecimento na gestão de esporte deve ter destaque, porque ela projetou a gestão, posteriormente, pelo nome dela. Cabe comentar que os efeitos do livro que ela fez se estenderam pelas duas décadas seguintes e serviu de base da disciplina de Administração Esportiva de todas as faculdades”, detalha o Doutor Lamartine DaCosta, referindo-se ao livro “Organização da Educação Física e Desportos”, de 1941.  Além desse livro, Lenk escreveu “Natação”, em 1942; “Natação Olímpica”, em 1966; “Braçadas & Abraços”, em 1982, e “Longevidade e Esporte”, em 2003. Na piscina do CopaNum tempo em que não havia muitas piscinas no país, nem mesmo em alguns clubes, Maria Lenk fez história ao implantar uma escola de natação para crianças na piscina do glamuroso Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, frequentado por ricos, famosos e poderosos.“Era um capricho do Copacabana Palace ter a Maria Lenk como professora. Ela deu aulas lá por 22/23 anos, até a década de 1970”, diz Silva Júnior. “Eu tive aulas com ela no Copacabana Palace em vários períodos diferentes, durante as férias de verão, nos anos 50. As turmas eram pequenas, com dez, 15 alunos, no máximo. As aulas eram divertidas, ela era atenciosa e carinhosa. Nunca fui eficiente em qualquer esporte, então, quando aprendi como não me afogar, já estava bom”, diverte-se Sônia de Magalhães Padilha Murray, filha do Major Sylvio de Magalhães Padilha e ex-aluna de Maria Lenk. FamíliaEm 1944, aos 29 anos - bem tarde para o costume da época -, Maria Lenk se casou com o diplomata norte-americano Daniel Zigler e teve um casal de filhos: Gilbert, em 1945, e Marlen, em 1947. Naquela época, uma atleta ser mãe significava uma quebra de paradigma. “O pensamento da sociedade na época era que uma esportista não poderia ter filhos, ainda mais em idade mais ‘avançada’”, diz a professora Ana Miragaya. Mesmo com filhos, o casamento não durou muito. Silva Júnior conta que Deny, como era chamado o marido da tia, começou a ter problemas com alcoolismo e Maria o colocou no avião, de volta para os Estados Unidos”. Em 1952, com a separação do casal, a heroína da natação brasileira, que nunca deixou de trabalhar, mostrou, mais uma vez, estar à frente do seu tempo ao encarar o desafio de educar os filhos sozinha, no Rio de Janeiro.“Havia um preconceito terrível em relação às mulheres separadas naquela época”, lembra o sobrinho de Maria Lenk. Anos mais tarde, os filhos foram viver com o pai para estudar em universidades americanas. Gilbert tornou-se engenheiro nuclear, especialista em detectar problemas em usinas atômicas, foi consultor de Chernobyl, inclusive. A filha Marlen seguiu carreira como engenheira náutica da marinha americana. Ambos faleceram antes dos 70 anos.No final dos anos 1970, depois da aposentadoria, Maria e Deny se reconciliaram e passaram a viver juntos novamente, até a morte dele. O casal passava metade do ano no Brasil e a outra metade nos Estados Unidos, sempre em busca do verão. “Tio Deny aprendeu a conviver com a Maria: Ele costumava dizer: ‘as you wish, mama!’ (como quiser, mamãe!), concordando com ela. Ela tomava as decisões. Mas, nos últimos anos, ela ficou muito submissa a ele”, revela Silva Júnior, que conviveu com o casal.Os filhos e netos de Maria Lenk praticaram natação, mas sem o mesmo sucesso e brilhantismo dela.  Medalha no peito e gratidãoO pioneirismo de Maria Lenk serviu de estímulo para que milhares de meninas no Brasil inteiro começassem a praticar esportes sonhando com o pódio olímpico. Depois de importantes conquistas em competições internacionais, nos Jogos de Atlanta 1996, finalmente, chegou a hora de as nossas meninas escreverem seus nomes no seleto hall dos medalhistas olímpicos. “Maria Lenk abriu o caminho, foi mostrando que era possível e essa é a essência, ela tinha o espírito olímpico. E eu e Jackie fizemos isso também, na nossa geração. Eu acho que se não fosse ela, nós não teríamos ganhado a primeira medalha. Foi ela que começou lá atrás. Imagino como era naquela época uma mulher brasileira numa olimpíada. Sou muito grata a ela por ter tido tanta força, por ter enfrentado tanto preconceito e continuado. Uma pena ela não ter conquistado uma medalha. Tenho um respeito e uma admiração enorme pela história dela”, diz Sandra Pires, que ao lado de Jacqueline Silva conquistou o primeiro ouro brasileiro, no vôlei de praia, em Atlanta 1996.Aliás, Atlanta foi a Olimpíada das mulheres brasileiras. Além do ouro de Jaqueline e Sandra, e a prata de Adriana e Mônica no vôlei de praia, o país conquistou prata no basquete e bronze no vôlei de quadra.A primeira medalha olímpica de uma brasileira em esportes individuais foi conquistada nos Jogos de Pequim-2008, com o bronze da judoca Ketleyn Quadros.“Sem dúvida, Maria Lenk é um exemplo de superação e amor ao esporte. Ela mostrou que impossível era questão de opinião. Essa guerreira é nosso exemplo, inspiração para todos as gerações”, declara Ketleyn.Também foi em Pequim que Maurren Maggi entrou para a história como a primeira mulher brasileira a conquistar uma medalha de ouro dos Jogos Olímpicos numa modalidade individual. “Ter Maria Lenk, que eu tive o prazer e a honra de conhecer, como pioneira de todas as mulheres na história das Olimpíadas no Brasil é uma honra muito grande. Ela foi muito importante para mim, para a minha carreira.  Ter sido a primeira a conquistar uma medalha de ouro, para mim, é o início de uma nova era. Depois da minha, vieram outras medalhas de ouro. Ela fez as brasileiras acreditarem que é possível”, afirma Maurren Maggi, campeã olímpica do salto em distância.Honrarias e recordesEm 1980, aos 65 anos, Maria Lenk começou a participar das competições de Masters, para nadadores acima de 25 anos, promovidas pela Associação Brasileira de Masters em Natação, que ela ajudou a fundar. “No Master, a cada cinco anos, ela mudava de categoria e, cada vez que isso acontecia, ela se preparava para ganhar medalhas e bater recordes mundiais na nova categoria. Ela era obcecada por bater recordes, era um desafio para a vida dela”, recorda Silva Júnior.No total, foram 40 recordes mundiais batidos no Master, três deles na categoria 90-95 anos. No Campeonato Mundial de Munique, em 2000, ela conquistou nada menos do que cinco medalhas na categoria 85-90.   “Uma das coisas que sempre me chamou a atenção na Maria Lenk foi que ela ia envelhecendo e continuava nadando. Óbvio que tudo o que ela conquistou na carreira foi incrível e eu admiro muito, mas a paixão pela natação e essa relação saudável dela era o que mais me chamava a atenção. No alto rendimento, a gente às vezes fica fazendo por tantos anos a mesma coisa que acaba meio se esquecendo porque que começou. Aparentemente, Maria Lenk sabia exatamente por que começou e por isso permanecia. Para além de tudo o que ela conquistou, de todas as portas que ela abriu, o fato de ela ter nadado pela vida inteira e ter conseguido tirar boas sensações da natação em todas as fases da vida é uma das coisas que eu mais admiro nela e é o que eu quero para mim”, revela a nadadora Joanna Maranhão, que disputou quatro olimpíadas e é, ao lado de Piedade Coutinho, a brasileira mais bem colocada na natação em Jogos Olímpicos, com o quinto lugar no nado medley, em Atenas-2004, quando tinha 17 anos.  Em 1988, Maria Lenk se tornou a primeira atleta do Brasil a entrar Swimming Hall of Fame da Federação Internacional de Natação (FINA), quando foi homenageada com o Top Ten da entidade máxima do esporte por ser um dos dez melhores nadadores Máster do mundo. Em 2002, ela recebeu, das mãos de Juan Antonio Samaranche, o Colar Olímpico, tornando-se a primeira brasileira a ser condecorada com a mais alta honraria do Comitê Olímpico Internacional, ao lado do bicampeão olímpico Adhemar Ferreira da Silva. Sua carreira no Magistério lhe valeu o honroso título de Professora Emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pouco antes de sua morte, o nome de Maria Lenk foi dado ao Parque Aquático que sediaria as competições dos Jogos Pan-Americanos Rio-2007. Adeus na piscinaMaria Lenk se manteve ativa até o fim da vida. “Muitas vezes eu nadei no mar com ela e tive dificuldades para acompanhá-la, mesmo ela sendo 33 aos mais velha do que eu”, destaca Silva Júnior. Apesar da osteoporose e de ter tido as pernas fraturadas mais de uma vez, ela fazia questão de nadar 1500m, todos os dias. Não tinha outros problemas de saúde, pelo menos não que se soubesse. Ela caminhava sozinha pelas ruas do Leblon de casa até o Flamengo, onde treinava. Como mulher independente que era, morou sozinha a maior parte do tempo. “A gente não pode pretender prolongar a vida, mas enquanto a gente vive, através do esporte, com as preocupações com a saúde, a gente pode prolongar o bem-estar”, dizia ela. No dia 16 de abril de 2007, ela saiu de casa pela manhã, caminhou até o clube e mergulhou na piscina do Flamengo, sem saber que aquele seria o seu último treino. Enquanto nadava, sua artéria aorta se rompeu devido a um aneurisma, provocando uma enorme hemorragia no mediastino. No silêncio azul da água da piscina, Maria Lenk se despediu, nadando. 

Quando as mulheres começaram a participar dos Jogos Olímpicos na natação?

A natação se tornou um esporte Olímpico em 1896, mas somente em 1912 as mulheres puderam competir, por sinal, foi um dos poucos esportes que as mulheres puderam competir.

Qual esporte coletivo estreou nos Jogos de Berlim em 1936 e permanece até os dias atuais?

- Em sua estreia nos Jogos Olímpicos, em Berlim 1936, o handebol era disputado em campos gramados, com 11 jogadores de cada lado.

Quem foi a primeira mulher a competir?

Syers decidiu quebrar com isso em 1902 ao se tornar a primeira mulher de sempre a disputar um Campeonato Mundial. Em um primeiro momento, os juízes quiseram bani-la de quaisquer competições, mas não havia regras que especificamente restringiam as mulheres de participar de torneios. Dessa forma, deixaram-na competir.

Qual foi a primeira mulher Sul

De 1932 a 1935, venceu 4 vezes seguidas a tradicional Travessia de São Paulo a Nado. Aos dezessete anos já era uma atleta de nível internacional. Foi a primeira mulher sul-americana a competir em Olimpíadas, nos Jogos de Los Angeles, em 1932.