Foi possível observar o fenômeno da difração Como se poderia explicar o surgimento e o posicionamento das franjas?

O primeiro e o quinto experimentos entre os 10 mais da revista Physics World representam diferentes circunst�ncias de um mesmo tipo de experimento, isto �, do experimento da dupla fenda de Young.

Sir Isaac Newton (1642-1727) defendia a hip�tese de que a luz era constitu�da de corp�sculos. Os principais fen�menos �ticos (reflex�o e refra��o) podiam ser explicados com o uso da teoria corpuscular. Este modelo era combatido por Christiaan Huygens (1629-1695), que defendia a teoria ondulat�ria. No entanto, a autoridade cient�fica de Newton fez prevalecer sua teoria por mais de um s�culo. Por volta de 1801, uma bela experi�ncia realizada por Thomas Young (1773-1829) resolveu a quest�o favoravelmente a Huygens. A experi�ncia de Young provou que a luz era uma onda, porque os fen�menos da difra��o e da interfer�ncia, por ele descobertos, eram caracter�sticas exclusivamente ondulat�rias. Veremos mais adiante, que a dualidade part�cula-onda, proposta por de Broglie, sugeriu a possibilidade de ocorr�ncia desses fen�menos para o caso de part�culas.

A minha forma preferida de visualizar o comportamento ondulat�rio � atrav�s de ondas geradas numa cuba de ondas, um dispositivo bastante usado nos laborat�rios universit�rios e em alguns col�gios. Ondas circulares s�o geradas quando a ponta de um bast�o toca na �gua em iguais intervalos de tempo, conforme ilustra a figura ao lado. O detetor pode ser uma rolha de corti�a. A intensidade da onda, ou a energia transferida pela onda, � proporcional � altura alcan�ada pela rolha. A figura mostra um arranjo com duas fendas. Vejamos o que acontece se a fenda inferior for fechada.

A distribui��o de energia que chega no anteparo � dada pela curva vermelha. O formato desta curva varia conforme a largura da fenda, e o comprimento de onda (separa��o entre os c�rculos da figura). Se a largura diminuir, a onda "se espalha" ao passar pela fenda. � como se uma nova onda circular fosse "criada" na fenda.

Fechando a fenda superior e abrindo a inferior, a distribui��o de energia mant�m seu formato, mas desloca-se para a posi��o em frente � fenda inferior. Vejamos o que acontece quando as duas fendas permanecem abertas.

As curvas tracejadas (verde e vermelha) representam os resultados anteriores, enquanto a curva cont�nua (azul) representa o que se observa. Esta curva n�o apresenta uma rela��o simples com as anteriores. Por exemplo, n�o � simplesmente a soma nem a subtra��o das curvas anteriores. Diferentemente das curvas anteriores, esta curva obtida com as duas fendas abertas apresenta v�rios pontos onde a intensidade � nula. Entre estes pontos, a intensidade apresenta valores diferentes. Este foi o surpreendente resultado obtido por Young, quando ele fez este tipo de experi�ncia usando a luz. O fen�meno respons�vel pelo resultado � denominado interfer�ncia, e a curva � usualmente denominada padr�o de interfer�ncia.

Vejamos o que aconteceria com uma experi�ncia similar realizada com part�culas.

Podemos usar balas atiradas contra fendas feitas num anteparo impenetr�vel. Isto �, as balas s� ultrapassam o anteparo atrav�s das fendas. O detetor pode ser uma lata com areia. O experimento � realizado assim: o detetor � colocado em determinada posi��o enquanto a espingarda fica disparando. Ao final de determinado intervalo de tempo, conta-se o n�mero de balas coletadas pelo detetor. A distribui��o de balas atingindo diferentes posi��es � obtida pela repeti��o desse procedimento, com o detetor sendo colocado nas diversas posi��es.

Com a fenda inferior bloqueada, a distribui��o de balas atingindo o anteparo tem o formato da figura ao lado, centralizada no ponto em frente � fenda superior.

Com a fenda superior bloqueada, a distribui��o tem o mesmo formato da anterior, mas passa a ser centralizada no ponto em frente � fenda inferior.

Com ambas as fendas abertas, a distribui��o � a soma das anteriores.

Veja que este resultado � completamente diferente daqueles obtidos com ondas de �gua ou com luz. Isto �, as part�culas n�o apresentam os fen�menos de difra��o e interfer�ncia. Portanto, como se trata de fen�meno exclusivamente ondulat�rio, Young concluiu que a luz � uma onda (conforme o modelo de Huygens) e n�o um conjunto de corp�sculos, conforme o modelo de Newton.

Em 1905, para explicar o efeito fotoel�trico Einstein usou uma id�ia similar a de Newton, segundo a qual, ao inv�s de pensarmos na luz como uma onda, dever�amos imagin�-la constitu�da de corp�sculos, denominados f�tons. Com o sucesso da explica��o do efeito fotoel�trico, ficou provado que a luz tem um car�ter dual�stico. Dependendo das circunst�ncias, poderia ser vista como onda (apresentando, p.ex. o fen�meno da interfer�ncia e da difra��o), ou como part�cula (apresentando o efeito fotoel�trico).

Completando o ciclo da dualidade part�cula-onda, Louis de Broglie sugeriu o contr�rio, isto �, que uma part�cula poderia apresentar comportamento ondulat�rio. De modo an�logo ao caso da luz, o car�ter ondulat�rio de uma part�cula deveria ser comprovada atrav�s de uma experi�ncia de difra��o ou interfer�ncia. O trabalho de de Broglie foi publicado em 1923, e j� em 1927, Davisson e Germer realizaram uma experi�ncia na qual se observava a difra��o de um feixe de el�trons atrav�s de um cristal de n�quel. Embora esta tenha sido a primeira experi�ncia comprovando o car�ter ondulat�rio de uma part�cula, ela n�o � uma experi�ncia do tipo dupla fenda como a que Young realizou com a luz. Este tipo de experi�ncia s� foi realizada com el�trons em 1961, por Claus J�nsson.

Voltar para a pagina TOP 10

Cr�ditos e agradecimentos

Agradecemos ao Dr. David M. Harrison, do Departamento de F�sica da Univ. de Toronto, a autoriza��o para usar as ilustra��es do seu excelente site The Feynman Double Slit.


Bibliografia

  1. BASSALO, J.M.F. Crônicas da Física. Belém: Gráfica e Editora Universitária (1987).
  2. BEISER, A. Modern Physics: an introductory survey. London: Addison-Wesley (1968).
  3. d�ABRO, A. The rise of the new physics. New York: Dover (1951).
  4. DE BROGLIE, L. La physique nouvelle et les quanta. Paris: Flamarion (1937), cap. VIII.
  5. FEYNMAN, R.P., LEIGHTON, R.B., SANDS, M. The Feynman lectures on physics. Addison-Wesley (1969).
  6. FUCHS, W.R. Física Moderna. São Paulo: Editora Polígono (1972).
  7. HALLIDAY, D., RESNICK, R. Fundamentos de Física, v. 4. Ótica e Física Moderna. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos (1991).
  8. J�NSSON, C. Electron diffraction at multiple slits. American Journal of Physics 42 (1974) 4-11.
  9. SEGRÈ, E. From X-Rays to Quarks. New York: W.H. Freeman and Company (1980).
  10. TIPLER, P.A. Física Moderna. Rio de Janeiro: Guanabara Dois (1981)
  11. TONOMURA, A., ENDO, J., MATSUDA, T., KAWASAKI, T. Demonstration of single-electron buildup of an interference pattern, American Journal of Physics 57 (1989) 117-120.
  12. ZELLINGER, A., G�HLER, R. SHULL, C.G., TREIMER, W. MAMPE, W. Single- and double-slit diffraction of neutrons. Reviews of Modern Physics 60 (1988) 1067-1073.

Voltar para a pagina TOP 10

Veja também

Home Albert Einstein

Home C.A. dos Santos

Eletricidade, Magnetismo e F�sica Moderna

Foi possível observar o fenômeno da difração Como se poderia explicar o surgimento e o posicionamento das franjas claras e escuras?

Difração em fenda simples Se a largura dessa fenda é da ordem do comprimento de onda da luz, observam-se, no anteparo, regiões claras alternadas com regiões escuras. Esse efeito pode se analisado de acordo com o modelo de Huygens — cada porção da fenda atua como uma fonte de luz.

Como ocorre o fenômeno da difração?

A difração acontece quando a onda, ao encontrar um obstáculo ou atravessar uma fenda, com dimensões equivalentes ao seu comprimento de onda, fragmenta-se no seu espectro.

Como você explica o surgimento de regiões claras e escuras no anteparo do experimento com a interferência da luz?

Finalmente, essas duas ondas atingiam um anteparo (alvo) onde era possível ver a existência de regiões claras e escuras. As regiões escuras correspondiam às interferências destrutivas, enquanto que as regiões claras correspondiam às interferências construtivas.

Porque há o aparecimento de franjas claras e escuras na luz do laser?

- as franjas claras correspondem a regiões de interferência construtiva. - as franjas escuras correspondem a regiões de interferência destrutiva.

Toplist

Última postagem

Tag