Como a doença impactou diretamente na vida dos familiares de Alice?

Afinal, o que é Alzheimer precoce? O que sabemos nós sobre esta condição rara ou sobre a doença de Alzheimer

Escrito por: Stannah

Como a doença impactou diretamente na vida dos familiares de Alice?

Imagens de Newstateman and Howard or Film

A performance de Julianne Moore em “O meu nome é Alice” não poderia ser mais intensa e poderosa, valendo-lhe o reconhecimento máximo da Academia – óscar de melhor atriz.

Interpretando o papel principal do filme (adaptação do livro “Still Alice” da neurocientista Lisa Genova) Julianne Moore transforma-se numa professora universitária de linguística que enfrenta um diagnóstico inesperado. Aos 50 anos de idade é-lhe identificada a doença de Alzheimer precoce – uma condição muito rara – que muda completamente a sua vida. O primeiro contacto com a doença surge quando se esquece de certas palavras durante as suas aulas, quando não se lembra do caminho de volta para casa durante as suas corridas diárias, quando começa a ter dificuldade em lembrar de nomes ou compromissos. Com o apoio da família, Alice enfrenta as adversidades desta doença, mas permanece sempre forte até quando consegue. Mais ainda. Alice mostra-nos que é possível aprender a viver com esta condição rara, aproveitando cada momento da sua vida ao máximo.

“E se, de repente, perdesse todas as lembranças da sua vida?” em “O meu nome é Alice”, Lisa Genova (*frases de tradução própria)

“O meu nome é Alice” foi adaptado para o cinema pelo diretor Richard Glatzer, que também sofre de uma doença neurodegenerativa – ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica). Este filme inspirou-nos a aumentar a consciencialização sobre todas as doenças neurológicas degenerativas como é o caso da doença de Alzheimer precoce. Toca-nos particularmente por mostrar o angustiante desafio enfrentado tanto pelo paciente como pela sua família à medida que a condição progride lentamente.

Acompanhar cada passo da desta doença, leva-nos a pensar o sabemos nós sobre a doença de Alzheimer. Normalmente, associamos a pessoas com mais de 65 anos, mas existem casos raros em que a doença aparece mais cedo, apelidando-a de Alzheimer precoce ou Alzheimer de início precoce.

Afinal, o que pode ser feito para entender melhor a doença de Alzheimer em todas as suas formas? Estar bem informado e falar abertamente sobre esta patologia é, para nós, a melhor forma de estar e estar ciente desta condição.

O que é a doença de Alzheimer?

 “Não tenho qualquer controlo sobre o que posso recordar ou esquecer. Esta doença é implacável e não cederá.” em “O meu nome é Alice”, Lisa Genova (frases de tradução própria

Como a doença impactou diretamente na vida dos familiares de Alice?

A primeira informação que devemos ter em mente é que a doença de Alzheimer não é uma condição intrínseca ao envelhecimento, como podemos assistir no filme. É desta forma que a doença de Alzheimer difere da demência. No entanto, é justo dizer que que a doença de Alzheimer é uma das formas mais comuns da demência (70% de todos os casos). Causa deterioração cognitiva global, distúrbios comportamentais e atrofia cortical difusa associada a degeneração neuronal.

Embora a sua prevalência seja muito maior na população idosa, também é considerada a forma mais frequente de demência nas pessoas com menos 65 anos. No entanto a marca dos 65 anos é meramente baseada em aspetos sociológicos e não tem significado biológico na prática clínica.

O filme “O meu nome é Alice” expressa a doença de Alzheimer precoce, mais rara que a doença de Alzheimer comum e afeta com frequência pessoas mais novas, independente de quão mentalmente ativas sejam. Isso acontece porque o Alzheimer precoce é uma doença geneticamente condicionada, com poucos fatores ambientais.

Um diagnóstico da doença de Alzheimer

 “É desconfortável, pois, a maioria das pessoas não quer dedicar o seu tempo a pensar como seria ter Alzheimer. É meio assustador” em “O meu nome é Alice”, Lisa Genova (*frases de tradução própria)

Como a doença impactou diretamente na vida dos familiares de Alice?

Um diagnóstico médico precoce é crucial, pois, pode ajudar o paciente e a sua família a planear o futuro. Existem 3 tipos de Alzheimer:

Alzheimer de início precoce

Pode afetar pessoas com idades compreendidas entre os 40 e 50 anos. É uma condição rara, apenas 5% de todas as pessoas com a doença Alzheimer são afetadas numa idade tão jovem. Segundo investigadores, a doença de Alzheimer de início precoce também pode estar relacionada com uma anomalia numa parte específica do nosso ADN: o cromossoma 14.

Alzheimer de início tardio

Pode afetar pessoas com 65 anos ou mais e pode ou não ter uma causa genética. Até agora, os investigadores não encontraram um gene específico que cause esta condição.

Alzheimer familiar

Denomina-se por “Alzheimer familiar” quando os médicos sabem ao certo que a doença de Alzheimer está ligada a genes. Nas famílias afetadas, membros de pelo menos duas gerações tiveram a doença e, por isso, é comum nas consultas médicas de rotina perguntar-se pelo histórico familiar. Esta forma da doença de Alzheimer representa menos de 1% de todos os casos e a maioria das pessoas que têm Alzheimer de início precoce enquadra-se nesta categoria.

Qual a diferença entre a doença de Alzheimer precoce e tardio?

“Tudo o que ela fazia e gostava, tudo o que ela era, implicava o uso da linguagem.”  em “O meu nome é Alice”, por Lisa Genova (*frases de tradução própria)

Como a doença impactou diretamente na vida dos familiares de Alice?

A doença de Alzheimer precoce, que afeta pacientes com menos de 65 anos, tem sido frequentemente descrita como tendo sintomas diferentes dos da doença de Alzheimer de início tardio.

Como a doença impactou diretamente na vida dos familiares de Alice?

Vejamos as principais diferenças. Os pacientes com a doença de Alzheimer de início precoce têm sintomas corticais locais mais proeminentes, como afasia (perda da linguagem), apraxia (perda de memória semântica) e agnosia (perda de capacidade de reconhecer objetos e/ou pessoas), do que aqueles que experienciam a doença de Alzheimer tardio. Os pacientes com a doença de Alzheimer tardio são mais propensos a perder a memória visual e orientação.

Os 7 estágios da doença Alzheimer

“Ao examinar a doença, ganhamos conhecimento sobre anatomia, fisiologia e biologia. Ao examinar a pessoa com esta doença, ganhamos conhecimento sobre a vida” em “O meu nome é Alice”, por Lisa Genova (*frases de tradução própria)

Como a doença impactou diretamente na vida dos familiares de Alice?

Apesar de se falar em 7 estágios da doença de Alzheimer, ressalvamos que dependendo de cada caso podem variar, bem como os sintomas associados a cada estágio. No entanto, apresentamos um guia simples e útil que pode ajudá-lo a cuidar de um amigo ou parente querido a quem tenha sido diagnosticado a doença de Alzheimer:

Estágio 1: comportamento externo normal

Nesta etapa, o seu amigo ou parente não apresentará nenhum sintoma percetível e apenas um exame cerebral poderá revelar a presença da doença de Alzheimer.

Estágio 2: mudanças muito leves

Nesta etapa, já existem alguns sinais, porém pouco percetíveis. Não haverá alterações que afetem a capacidade de viver ou trabalhar, mas podem começar a esquecer uma ou outra palavra ou perder objetos.

Estágio 3: leve declínio

Nesta etapa, pode perceber que algo não está certo. Os sintomas podem ser:

  • Fazer a mesma pergunta repetidamente;
  • Ter dificuldades em fazer planos ou organizar coisas;
  • Não lembrar de nomes ao conhecer novas pessoas.

Estágio 4: declínio moderado

Nesta etapa, vão surgir mais questão relacionadas com a capacidade de racionar e perda de memória aparecem, como:

  • Esquecer detalhes sobre si mesmo;
  • Ter dificuldades em colocar a data e/ou a quantia corretas num cheque;
  • Esquecer em que mês ou estação do ano está;
  • Ter dificuldades em cozinhar ou até mesmo pedir uma refeição através de um menu.

Estágio 5: declínio moderadamente severo

É quando os sintomas de declínio grave começam a aparecer:

  • Começar a perder a noção de onde está e que horas são;
  • Ter dificuldades em lembrar a morada, o número de telemóvel ou que escola frequentou;
  • Ficar confuso sobre que tipo de roupa usar para o dia ou estação.

Estágio 6: declínio grave

Neste ponto, o seu amigo ou familiar ficará verdadeiramente desorientado e terá sintomas como:

  • Reconhecer rostos, mas esquecer nomes;
  • Confundir uma pessoa com outra;
  • Ilusões, por exemplo, querer ir trabalhar quando não têm mais emprego.

Estágio 7: declínio muito grave

Este é o estágio final dessa doença degenerativa do cérebro. Todas as habilidades mentais e físicas básicas que a pessoa costumava ter são bloqueadas, como:

  • Sentar e caminhar;
  • Tratar da higiene ou, simplesmente, ir ao quarto de banho;
  • Comer e beber (esquecem-se que têm sedo ou fome)

Em muitos estágios iniciais da doença de Alzheimer, os sintomas podem ser controlados por medicação e com apoio de amigos ou familiares. Por vezes, os próprios pacientes encontram maneiras e truques para lembrar acontecimentos ou compromissos. Como membro da família ou amigo, também poderá ajudar, desafiando-o a estimular o cérebro. Poderá ainda ligar-se a ele através dos sentidos. Por exemplo, sabemos que muitas pessoas com a doença de Alzheimer adoram ouvir música, ler ou ver fotos antigas. Principalmente devem estar rodeados por tudo o que os faz se sentir ligados a quem eles costumavam ser, para que possam evitar sentirem-se desorientados.

Fontes

  • Still Alice, de Lisa Genova
  • Tipos de Alzheimer, WebMD Medical Reference,verificado por Melinda Ratini
  • Diferenças na doença de Alzheimer de início precoce e tardio em provas neuropsicológicas, Tese de mestrado, Paula Maria Sarrico
  • Saber mais sobre a doença, Associação Portuguesa de Familiares e Amigos Dos Doentes De Alzheimer.

Como a doença de Alzheimer afeta a família?

“À medida que a doença avança, os familiares acabam sofrendo, sentem-se impotentes frente à doença, ficam estressados e deprimidos, o que acaba prejudicando o cuidado do paciente e estressando ainda mais o familiar”, diz a geriatra Daniela Fonseca de Almeida Gomez.

Quais foram as dificuldades enfrentadas pela família de Alice perante a doença?

“Essas alterações do comportamento (esquecimento, perambulação noturna, teimosias, não querer tomar banho, etc.)

Quais os principais impactos da doença de Alzheimer?

O impacto da doença de Alzheimer na vida das cuidadoras dos pacientes reflete sintomas vivenciados por elas, tais como estresse, depressão, tristeza crônica, distúrbios do sono e isolamento, além das dificuldades financeiras e sociais (Mayer, 2001; Sawatzky & Fowler-Kerry, 2003).

Como o Alzheimer afeta a sociedade?

Impacto da doença As estimativas atuais indicam que em 2050, mais de 150 milhões de pessoas a nível mundial terão demência. Centenas de milhares de cuidadores e familiares serão afetados, arrastados para um sofrimento emocional, psíquico e financeiro. Mas o impacto da doença de Alzheimer vai além das famílias.